Os
bancos centrais têm, por norma, três instrumentos de política monetária:
operações de mercado aberto; rácios de reservas legais obrigatórias; e taxas de
desconto/juro. A primeira corresponde á compra (ou venda) de títulos de dívida
pública, a segunda a regulações governamentais relativas às reservas legais
obrigatórias dos bancos nacionais, e a terceira, que vou discutir no presente
artigo, às taxas de juro cobradas pelos bancos centrais aos bancos nacionais.
Atualmente, paira na zona euro um
cenário de baixa inflação, aliás, segundo os últimos dados de Outubro, o índice
de preços do consumidor registou um crescimento homólogo de 0,7%. Este valor,
bastante inferior ao previsto pelos analistas, contraria a intenção de Mario
Draghi em manter a taxa de inflação “perto mas abaixo dos 2%”. Em resposta à
baixa inflação e até mesmo ao risco de deflação, o BCE decidiu cortar a taxa de
juro central para o mínimo histórico do 0,25%, tendo também o objectivo de
tornar o crédito mais fácil e barato, estimulando assim o crescimento da
economia europeia (numa altura em que os sinais da retoma da zona euro começam
a perder força). Esta decisão foi muito bem recebida em países periféricos com
elevados rácios divida pública/produto como Portugal, Grécia e Itália, pois uma
inflação baixa na zona euro agrava a competitividade das
suas economias. De facto, esta decisão é benéfica para estes países pois o
aumento no nível geral de preços na zona da moeda única deprecia o euro,
tornando as exportações europeias mais baratas e diminui o valor das dívidas
públicas em termos reais. Para além disto, se os agentes económicos previrem
uma subida do nível geral de preços, anteciparão despesas favorecendo o
consumo, o investimento e o comércio em geral.
A
atitude do BCE em baixar a taxa de juro de referência, beneficiará as famílias
com créditos á habitação, pois este corte irá refletir-se na descida das taxas
Euribor. No entanto, o principal impacto deveria vir através da maior
facilidade e menor juro na concessão de crédito bancário, mas isso não se
verificará em países com elevados níveis de endividamento (como Portugal) pois
os sistemas financeiros continuam com a torneia do crédito fechada e a pedir
taxas de juro muito elevadas.
Apesar desta decisão do Banco
Central Europeu, há indícios em algumas economias europeias de pressões
deflacionistas, ou seja, esta política está a ficar enfraquecida uma vez que o
BCE tem o limite óbvio de 0% no corte da taxa diretora. Ainda que o presidente
Mario Draghi afirme ter mais instrumentos disponíveis no combate às pressões
deflacionistas, tais como um eventual corte na taxa marginal de depósitos e novos
empréstimos de longo prazo à banca, é necessário que o BCE adote, no futuro,
uma postura ainda mais interventiva, pois só assim será possível que os países
periféricos convirjam para a média da zona euro.
José Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário