Todos conhecemos o grave problema de
dependência externa que assombra a economia portuguesa há já largos anos, pelo
que não é novidade o desequilíbrio da Balança Comercial portuguesa, para o qual
o tecido empresarial português também tem contribuído.
Uma aparente solução para este problema
passa pela internacionalização dos negócios, como têm feito as maiores empresas
portuguesas, como se conclui do retrato traçado pela Delloitte e pela Informa
D&B, com base nas edições das 500 Maiores&Melhores da Revista Exame. Como
se comprova também com base nos dados acerca das PME e Start-ups, cada vez estas apresentam mais um perfil internacional.
Não será difícil perceber a razão, tendo
em linha de conta o cenário actual de grandes dificuldades que Portugal
enfrenta, que tem obrigado as empresas a procurar alternativas ao mercado
nacional e a apostar, portanto, em mercados externos. Esta aposta na
diversificação dos mercados é uma forma de redução do risco e da exposição aos contra-ciclos
da nossa economia, que tem nos últimos anos sido marcada pela contracção da
procura, tornando o nosso tecido empresarial mais forte e resistente.
A prova de que esta estratégia traz
resultados é dada pelo ranking das
500 M&M: o volume de negócios das empresas exportadoras aqui presentes
aumentou 16% entre 2007 e 2012, enquanto que, no total, incluindo também as não
exportadoras e considerando o mesmo período, o aumento foi de apenas 9%.
Neste sentido, até que ponto esta aposta
em mercados externos está a contribuir para a redução da dependência externa e
o equilíbrio da Balança Comercial?
Tendo em conta estas 500 M&M,
constata-se que, simultaneamente ao crescimento das exportações, há ainda um
aumento maior das importações. Como resultado, o rácio entre importações e
exportações apresenta-se abaixo de 1 no ano transacto, valor que tem vindo a
diminuir desde 2007. E o que é facto é que são as empresas exportadoras são as
que mais contribuem para o aumento das importações.
Não obstante, todos os produtos importados,
transformados e vendidos no país, isto é, direccionados para o mercado nacional,
têm um forte peso neste rácio, ou seja, podemos concluir que o crescimento das
exportações tem sido muito alavancado pelas importações, quando a solução real
para o problema de desequilíbrio da balança comercial passaria pela utilização
e incorporação de recursos endógenos nacionais no processo produtivo.
Se avaliarmos o assunto na perspectiva do
VAB, valor acrescentado bruto, que mede a riqueza efectivamente criada pelas
empresas, nota-se um decréscimo de 16% no total das 500 M&M, o que pode ser
explicado por grande parte destas empresas serem dos sectores da energia e das
telecomunicações.
Independentemente do sector, a grande
preocupação prende-se com o facto de as grandes empresas estarem a incorporar
cada vez menos valor nas suas exportações, o que significa que Portugal vende
cada vez mais o que compra no estrangeiro, havendo nesta perspetiva uma grande
urgência no aumento da produção de bens que incorporem valor acrescentado
nacional, de forma a incentivar o processo de criação de riqueza no país.
Conclui-se assim que a economia
portuguesa e a Balança Comercial não precisam apenas do aumento das
exportações, principalmente se forem antecedidas de fortes importações de
matérias-primas e de produtos inacabados. A solução não pode, portanto, passar
por sermos meros intermediários de venda ou incorporarmos pouco valor
acrescentado nas nossas produções, caso contrário o efeito sobre a Balança
Comercial será nulo.
Para que haja efectiva criação de riqueza,
a economia nacional tem que apostar na inovação, na implementação de novos
métodos, na criação de novos produtos e, sobretudo, na aposta em produtos
inteiramente (ou pelo menos, dentro do possível) nacionais, desde a
matéria-prima ao produto final. Só assim um aumento de exportações contribuirá
para uma efectiva criação de riqueza e para o equilíbrio da Balança Comercial
no médio longo prazo.
Joana Barros
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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