“Estamos
no bom caminho!”. Este tem sido o slogan
preferido de todos os governos que passaram pelo nosso país nos últimos anos.
Tem piada, não tem? O “bom caminho” levou-nos direitinhos ao precipício, com
uma elevadíssima divida externa, uma das maiores taxas de desemprego da União
Europeia e uma das mais altas taxas de disparidade entre os muito ricos e os
muito pobres
Não
é preciso ser-se muito inteligente para perceber que as políticas dos últimos
anos conduziram Portugal a uma concentração da riqueza, à liquidação da
actividade produtiva nacional e que apostaram num crescente predomínio do
capital no estrangeiro. E qual é o resultado final? Estamos a atravessar a mais
intensa política de austeridade desde o 25 de Abril (apenas ultrapassados pela
Grécia), com uma persistente redução da despesa pública em áreas como a saúde e
educação, cortes nos abonos de família, uma perda colossal no poder de compra e
um contínuo processo de fragilização do Estado social. Mas vale tudo para
reduzir o peso do défice e da dívida no PIB, não é?
O governo não se cansa de repetir a mesma cassete:
equilibrar as contas públicas a todo o custo, necessidade de credibilidade
internacional, financiamento da economia portuguesa…e, extraordinariamente, as
consequências da austeridade não aparecem mencionadas.
A verdade é que o governo aposta num sistema de cortes
(cortes no investimento, cortes nos salários…) para corrigir os desequilíbrios
que temos com o exterior e, claro, toda esta recessão vai pressionar as contas
públicas e garante uma única coisa apenas, mais cortes. As constantes falências
e a quebra de rendimentos vão aumentar as dificuldades em assistir a dívida
(tanto a pública como privada) o que prejudica o financiamento de toda a
economia e, finalmente, o cumprimento dos pagamentos. E claro que não podemos
deixar de mencionar os especuladores, que não vão hesitar em ampliar a
situação. E entramos, finalmente, num ciclo vicioso. Existem sempre aqueles que
vão argumentar com a demagogia do costume: a economia, às vezes, não se
comporta como é esperado e podemos ser todos vítimas de surpresas, e
esquecem-se de (ou não lhes interessa) toda a evidência histórica disponível
sobre os efeitos da austeridade.
Num
país que cada vez trata mais o trabalho como um custo a conter e não como uma
fonte de rendimento, devia repensar as suas prioridades económicas. É
necessário, em primeiro lugar, criar uma economia que gere empregos e uma distribuição
menos desigual dos rendimentos e da riqueza. Não acredito que a solução passe
pela austeridade. Atingimos um ponto em que esta é tão intensa que se está a
tornar contraprodutiva. Segundo o economista Paul de Grauwe, que esteve recentemente
em Portugal, “o governo português fez o grande erro de tentar ser o melhor da
turma no concurso de beleza da austeridade. O problema hoje não está do
lado da oferta da economia e as reformas estruturais lidam com isso. Claro que
temos de ser mais eficientes, mas o problema é que mandamos abaixo a procura e
em resultado a economia não cresce. Temos de alterar isso.”. E eu não podia
concordar mais com a sua opinião de que o problema de Portugal está exactamente
no lado da procura e neste momento um novo programa de austeridade vai empurrar
Portugal para uma situação de insustentabilidade e insolvência económica.
Ana
Sofia Sampaio de Moura
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário