Uma das experiências de crescimento mais
surpreendentes na história recente foi provavelmente a dos Tigres Asiáticos: Hong Kong, Singapura,
Coreia do Norte e Taiwan. Entre 1966 e 1990, estes quatro países cresciam 7% ao
ano, já os EUA, por exemplo, apresentou um crescimento do PIB per capita na ordem dos 2%. Numa única
geração, o rendimento per capita
cresceu cinco vezes mais do que nos períodos anteriores, o que fez com que
estes países saíssem do grupo de economias mais pobres do mundo para o grupo de
economias mais ricas. Outro exemplo notório de rápido crescimento económico
ocorreu no Japão e na Alemanha logo após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Apesar destes dois países serem atualmente duas “super-economias”, o mesmo não
acontecia em 1945. Nas décadas posteriores à guerra, ambos viveram um dos
crescimentos mais rápidos até ao momento registados: entre 1948 e 1972, o
produto per capital aumentou 8.2% por
ano no Japão e 5.7% por ano na Alemanha.
Estes padrões de crescimento “milagrosos”
que se distinguem ao longo do tempo e entre países e regiões são precisamente
uma das principais temáticas dos estudos empíricos e da teoria económica, já
que as diferenças contínuas nas taxas de crescimento conduzem, no longo prazo, a
enormes desigualdades no bem-estar da população.
Recorrendo à teoria do crescimento
económico do Modelo de Solow para os casos do Japão e da Alemanha, temos que,
se um país assume uma quebra no stock de
capital, mas no entanto, mantém a sua taxa de poupança – fração do produto
destinado à poupança e ao investimento – no mesmo nível, então a economia irá
viver um período de alto crescimento. Isto porque, de acordo com Solow, se o
país poupa e investe uma percentagem elevada do seu PIB, terá consequentemente níveis
de produto superiores. De facto, quer o Japão quer a Alemanha poupam e investem
uma maior quota do seu produto do
que a maioria dos países, e esta é precisamente a chave determinante do modelo
referenciado. Análises empíricas às taxas de poupança e PIB per capita de vários países revelaram
que a conceção teórica de Solow se comprova. Existe de facto uma relação
positiva entre a quota do PIB destinada ao investimento e o nível de PIB per capita. Isto é, países com altas
taxas de investimento como os EUA, Japão e mesmo a Finlândia apresentam outputs mais elevados, já países como
Uganda e Chade, de níveis de investimento precários, assumem PIB mais modestos.
Estes níveis de investimento são divergentes de país para país porque dependem,
entre outros, da política fiscal de cada economia, do desenvolvimento dos
mercados financeiros e mesmo das diversidades culturais. Em acréscimo, a
política de estabilização pode impor um papel relevante no nível de
investimento: sem surpresa, as taxas de poupança e investimento tendem a ser
baixas em países com frequentes guerras, revoluções e golpes de estado ou
instituições políticas frágeis e corruptas.
Note-se, no entanto, que esta relação
causal pode ser vista de outra perspetiva: são os altos níveis de rendimento
que propiciam elevadas taxas de poupança e investimento e não o contrário. Contudo,
não existe um consenso entre os economistas de qual é a relação causal. A
associação entre o investimento e o PIB per
capita é forte e é uma pista importante para saber o porquê da existência
de crescimentos antagónicos, no entanto não conta a história toda. Por exemplo,
o México e o Zimbabwe assumem taxas de investimento similares, mas o PIB per capita é três vezes superior no México.
No caso do “milagre” asiático, alguns
economistas argumentam que o sucesso destes países se deveu ao crescimento
tecnológico a uma taxa constante e exógena. O seu crescimento deveu-se à
habilidade de imitar tecnologias de outros países, fomentando a sua
produtividade num curto período de tempo. No entanto, recentes estudos neste
âmbito concluíram que este rápido crescimento foi resultante do aumento da
força de trabalho, do fomento do stock
de capital e mesmo de maior esforço de educação. Na Coreia do Sul, por exemplo,
o investimento em percentagem do PIB passou de cerca de 5% em 1950 para cerca
de 30% em 1980, e a percentagem de população com pelo menos o secundário passou
de 26% em 1966 para 75% em 1991. Uma vez contabilizados os crescimentos da
mão-de-obra, capital e capital humano, pouco do crescimento do PIB fica por
explicar. Nenhum destes quatro países viveu um crescimento da produtividade
incomum. De facto, a média de crescimento da produtividade dos tigres asiáticos
foi semelhante à dos EUA na época.
Vimos portanto que, atualmente, os
economistas sabem bastante acerca dos fatores que influenciam o crescimento
económico. O modelo de Solow e os modelos de crescimento endógeno, mais
recentes, mostram que a poupança, crescimento populacional e o progresso
tecnológico são determinantes para o aumento do nível de vida de uma sociedade.
Apesar disso, estas teorias não servem de solução mágica para assegurar que a
economia alcance um rápido crescimento, mas oferecem pois uma introspeção,
proporcionando matéria intelectual para o debate das políticas públicas.
Joana Monteiro Mota
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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