Foi
há poucos dias que o INE publicou a sua avaliação trimestral da taxa de
desemprego em Portugal, e as notícias não poderiam ser mais animadoras: para
além de uma diminuição da taxa de desemprego face ao trimestre anterior de
cerca de 0,8 pontos percentuais, verificou-se uma diminuição em termos
homólogos de cerca de 0,2 pontos percentuais. Ora isto era algo que (tal como o
Diário Económico referiu na sua edição de dia 8/11) não ocorria desde a
falência do Lehman Brothers, em 2008, e o início do descalabro financeiro
mundial. Tal como aconteceu com o crescimento de 1,1% do PIB em agosto, o clima
de ânimo e esperança reavivou-se fortemente, sendo este mais um sinal do bom
rumo que a economia portuguesa tem apresentado, começando-se vivamente a
acreditar numa iminente retoma económica. Mas será que estamos verdadeiramente
perante uma descida da taxa de desemprego justificada pelo melhoramento da
economia?
Para responder a esta questão, temos
de analisar não só os dados referentes a este ano, mas também aos trimestres
homólogos de 2012. Habitualmente, a diminuição do emprego é acompanhada por
variações opostas da população ativa e do desemprego, sendo que, grosso modo,
cada duas unidades a menos de emprego refletem uma unidade adicional de
desemprego e menos uma unidade de população ativa. Mas, nos últimos trimestres,
tem-se verificado uma diminuição da população ativa muito mais intensa que o
habitual. Face ao trimestre homólogo em análise, ocorreu uma diminuição da
população empregada em 102,7 mil pessoas (ou seja, a taxa de desemprego desceu,
mas o número de pessoas empregadas em termos brutos efetivamente baixou
consideravelmente), sendo que essa diminuição foi contrabalançada com uma
diminuição do número de pessoas ativas em 135 mil pessoas e 32,3 mil desempregados.
Ou seja, a tão positiva diminuição da taxa de desemprego de 0,2pp, em termos
homólogos, como podemos observar, resultou apenas de uma melhoria em termos
relativos, pois na verdade o fator mais importante desta diminuição foi a forte
queda da população ativa, dividida por um aumento de 2% no número de inativos
(68 mil pessoas) em termos homólogos e pela forte tendência emigratória dos
portugueses nos últimos meses.
Sendo que os efeitos sazonais
decorrentes de atividades associadas ao verão incluídas neste trimestre poderam
de alguma forma justificar parte da descida de 0,8pp da taxa de desemprego, a
nível homólogo isso já não se verifica, e por isso é que foi dada essa
diminuição como um marco de viragem, profeta de uma melhoria económica iminente.
Foram várias as declarações públicas nestes últimos dias traduzindo reações ao
facto, sendo que envolvidos nas habituais intrigas políticas associadas a estas
matérias encontramos algumas menções não a fatores políticos da diminuição da
taxa de desemprego, mas sim a fatores reais e, quando confrontados com esta
diminuição da população ativa como a justificação, a ilusão criada por esta
diminuição homóloga de que a economia realmente está em melhores condições
desaparece, e observa-se o verdadeiro fator preocupante face ao ano anterior:
termos menos cem mil pessoas empregadas, sendo menos cem mil pessoas a
contribuir para a nossa produção e, consequentemente, para o nosso
desenvolvimento.
Assim, as entidades governamentais,
em vez de celebrarem uma diminuição homóloga da taxa de desemprego que não
passa de uma ilusão, deveriam sim preocupar-se com a crescente degradação do
número de empregados, bem como de população ativa, em geral, pois a longo prazo
podem comprometer severamente as oportunidade de desenvolvimento da economia
portuguesa.
José Senra
Fonte:
http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=151971842&DESTAQUESmodo=2
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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