A harmonização fiscal do IRC tem sido discutida
entre os países membro da UE como forma de aumentar a competitividade,
aumentando a eficiência e reduzindo desigualdades entre países da UE. Será a
harmonização fiscal um elemento para a saída da crise para países como
Portugal?
A Irlanda, por exemplo, é um país pequeno e situado
na periferia europeia. Parte da sua competitividade deve-se às baixas taxas de
IRC, que permite a fixação de empresas pela sua competitividade fiscal. Se,
porventura, harmonizasse o seu sistema tributário a nível Europeu, iria perder
esta competitividade. A economia Irlandesa poderia, assim, entrar em colapso
com o agravamento da taxa de IRC – pela altura da negociação do plano de
ajustamento irlandês, a população, da esquerda à direita, manifestou-se contra
a subida deste imposto, como proposto pela troika.
Por outro lado, um país como Portugal beneficiaria
de um sistema harmonizado de IRC, pois tornar-se-ia mais competitivo em termos
fiscais. No entanto, esta harmonização que, à primeira vista, parece ser
benéfica para os países europeus menos competitivos, assenta em argumentos
falaciosos. Em primeiro lugar, a existência de economias mais fortes, os
chamados países ricos, localizados essencialmente no centro e norte da Europa,
com maior acumulação de capital, iriam servir como polos de fixação das
empresas. Por outras palavras, países que beneficiam de competitividade fiscal,
como a Irlanda, iriam perder várias empresas em detrimento destes países. Em
segundo lugar, é falso que a harmonização fiscal do IRC seja um factor de
grande relevância para a redução de desigualdades ente Estados-membros, uma vez
que as distorções provocadas pelas diferentes legislações fiscais e taxas de
imposto são pouco importantes. Por outras palavras, a competitividade fiscal
não é o único factor de decisão por parte das empresas. Economias como a
Irlandesa beneficiam largamente deste meio, no entanto, esta é, no geral,
bastante sólida, com um mercado laboral, sistema de justiça, níveis de
educação, entre outros, com padrões de qualidade ou eficiência elevados. Além
disso, motivos culturais ajudam à fixação de empresas no país, pelo que a
competitividade fiscal é mais um factor e não o factor.
Contudo, e mesmo tendo em conta que a
competitividade fiscal não é um factor preponderante na decisão de investimento,
este não deixa de ser um incentivo relevante. Uma possibilidade para a
existência deste incentivo e para evitar a polarização nos países mais ricos é
a atribuição do IRC em “bandas”, isto é, com diferentes níveis de IRC consoante
o nível competitivo de cada país. Nesta hipótese são atribuídos níveis mais
baixos de IRC a países menos competitivos e mais elevados a países mais
competitivos. Esta hipótese é de especial relevância em comparação com níveis
de IRC distintos, mas fixos – como, por exemplo ,15% para países menos
competitivos e 25% para mais competitivos - pois a atribuição de taxas por
intervalos permite, dentro destes, poder de decisão aos governos nacionais de
fixá-las tendo em conta os seus objectivos de política orçamental. Assim,
assegura-se competitividade fiscal e reduzem-se assimetrias entre
Estados-membros, dado que nesta situação não se assiste à polarização
verificada numa taxa fixa e única.
Ainda assim duas questões surgem: primeiro, como
medir a competitividade de um país? Caso fosse atribuída o mesmo intervalo a
Portugal e à Irlanda, o maior incentivo seria dado a favor do último. Ainda
assim, em comparação com as taxas actuais, a competitividade relativa entre
Portugal e a Irlanda seria maior; em segundo lugar, qual seria o nível de aceitação
política desta medida? Esta baseia-se numa total pré-disposição dos países mais
fortes para perderem competitividade em relação aos países menos fortes – as
economias periféricas, essencialmente. Há força política para ultrapassar esta
questão?
A competitividade fiscal pela harmonização fiscal
seria uma medida interessante para ser estudada a nível europeu, já que, desta
forma, se assentaria a competitividade fiscal de acordo com o potencial de cada
país, de forma a reduzir as assimetrias entre as economias europeias. É, ainda
assim, obrigatória a atenção aos detalhes expostos, que a argumentação a favor
da harmonização fiscal tende a esquecer. Se assim for acredito que a
concretização deste modelo poderia beneficiar as economias periféricas, como
Portugal, tendo em vista a recuperação económica e a necessidade de evitar que,
no futuro, surjam novos problemas associados à falta de competitividade a nível
europeu.
Hugo Barbosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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