Conhecer
a realidade da repartição do rendimento bem como os níveis de pobreza são
essenciais para a análise das condições de vida e de rendimento das famílias, e,
consequentemente, no planeamento e construção de políticas públicas focalizadas
na diminuição das situações de carência.
Com
a entrada de Portugal para a União Europeia, o rendimento das famílias
portuguesas teve um consistente aumento, contudo com forças diferentes. Entre
1986 e 1992, houve um forte crescimento, ao invés dos últimos anos, onde o
crescimento tem tido uma desaceleração. Este aumento gradual dos rendimentos
das famílias portuguesas foi acompanhado por uma correcção das desigualdades e
consequentemente uma diminuição da população em risco de pobreza, contudo esta
correcção e diminuição foram mais lentas quando comparadas com o aumento do
rendimento. Para uma melhor análise da situação actual da
repartição do rendimento, temos o rácio S80/S20, rácio este que mede o número
de vezes que o total do rendimento recebido pelos 20% da população com mais
rendimentos excede o total de rendimentos recebidos pelos 20% da população com
menos rendimentos. A análise deste rácio permite-nos ver as grandes
desigualdades existentes no nosso país, por exemplo, em 1995, este rácio era de
aproximadamente 7,5 valores, ou seja, o rendimento dos 20% da população com
rendimentos maiores era sete vezes e meia maior que o rendimento dos 20% da
população com rendimentos mais baixos. Em 15 anos, de 1995 até 2010, este rácio
baixou mais de 1,5 valores, sendo em 2010 pouco mais baixo que 6 valores. Contudo,
esta descida aconteceu essencialmente a partir do ano de 2003.
Em
contexto europeu, o cenário da diminuição das desigualdades e da pobreza é mais
desfavorável para Portugal, uma vez que. qualquer que seja o indicador
utilizado, os níveis de desigualdade e de pobreza de Portugal além de serem
superiores aos da média europeia também deixam o nosso país no grupo dos países
da EU – 27 com os piores resultados e com políticas sociais de menor capacidade
para corrigir os desequilíbrios, mesmo que essas diferenças tenham vindo a
diminuir. Comparando os dados de Portugal com os da UE – 15, vemos que
Portugal, em 1995, tem um rácio S80/S20 superior ao da média da UE – 15, que
era de 5 valores, em 2,5 valores. Contudo a tendência de convergência aos
valores europeus, mencionada no parágrafo acima, também é notória, dado que em 2010 a diferença de valores
nem 1 valor atingia, tendo Portugal um rácio, como já referido, de
aproximadamente 6 valores, e o valor da UE – 15 sendo praticamente igual ao de
1995.
Apesar
destes sinais positivos presentes após a entrada na UE, a verdade é que existem
factores que ainda travam a convergência dos valores portugueses para os
valores do padrão da EU. São exemplos disso mesmo a crescente tendência de
polarização entre trabalhadores com elevadas qualificações e trabalhadores de
baixas qualificações, e também as constantes formas de emprego precário.
O
aumento da capacidade de actuação do Estado-Providência (Social) teve claros
efeitos na melhoria do rendimento das famílias com rendimentos mais baixos e
fez diminuir a população em risco de pobreza para 18%. A isto se deve, e muito,
às transferências sociais, como pensões de reforma, rendimento social de
inserção e subsídio de desemprego.
Contudo
continuam a existir fortes características estruturais do mercado de trabalho e
do sistema de protecção social, como os baixos salários, carreiras
contributivas curtas e o aumento do rácio entre a população idosa e a população
activa, que aumentam a diferença de transferências sociais entre Portugal e nos
países mais desenvolvidos, como a Suécia. Acrescentando a isto está o facto de
termos uma população com poucas habilitações e o aparecimento de fenómenos como
o desemprego (cada vez maior nos últimos anos), o abrandamento da actividade
económica e o sobreendividamento das famílias, que levou a um agravamento da
taxa de risco de pobreza nos últimos cinco anos.
De
salientar que desde 2005 registam-se aumentos significativos no número de
famílias com dificuldades em cobrir as despesas essenciais, bem como atrasos em
pagamento de rendas e prestações bancárias, o que não permite às famílias, por
exemplo, constituírem reservas de poupança para precaverem situações ainda
piores num futuro próximo.
Existe
ainda um longo caminho a percorrer de forma a acabar com as desigualdades
existentes na repartição dos rendimentos e nos níveis de pobreza. Assim e tendo
em conta o que tem acontecido em alguns países europeus, como a França, seria
aconselhável, no meu ponto de vista, que os impostos pagos sejam cada vez mais
relacionados com o montante de rendimento, uma vez que actualmente as taxas de
impostos diferem pouco entre rendimentos elevados e baixos, de maneira a taxar
com mais preponderância os cidadãos de maior rendimento.
Flávio
André Gouveia Peixoto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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