A escolha entre poupar e consumir é uma das mais importantes para o
bem-estar das Famílias durante toda a sua vida. Os desequilíbrios económicos
podem ocorrer devido às flutuações destas variáveis - consumo e poupança – e,
por isso, estas detém desde sempre um papel crucial nas teorias do crescimento
económico.
A taxa de poupança foi, nas décadas mais
recentes, uma fonte de preocupação para quem observou a sua evolução e nela viu
motivos para temer o futuro. Depois de vários anos com uma taxa de poupança saudável
(estava nos 20% em 1982), entre 2003 e 2007 a poupança dos portugueses caiu para 7% do
seu rendimento disponível bruto, o valor mais baixo entre todos os países da
Zona Euro. Porém, esta tendência não se verificava apenas em Portugal, assumia
também um papel central a nível mundial.
A poupança adotou de facto uma tendência
decrescente. Aponta-se a adesão à Comunidade Económica Europeia como a causa
primordial. Após a integração de Portugal na CEE, a economia portuguesa
vivenciou um período de prosperidade marcado por um forte crescimento económico
e pelo desenvolvimento do “Estado Social”. Constatou-se que, neste período, o
nível de vida em Portugal convergiu velozmente para o nível de vida médio
europeu. A este panorama juntou-se a enorme redução das taxas de juro, da taxa
de inflação e o levantamento de restrições no acesso ao crédito, o que levou as
famílias e as empresas a contrair empréstimos, a endividar-se, possivelmente,
com o pensamento de que Portugal iria continuar num caminho de crescimento e
desenvolvimento. A este respeito, o Professor Fernando Alexandre destacou que “As
famílias deixaram de ter que fazer uma poupança porque os mercados
desenvolveram-se e as taxas de juro baixaram muito a partir de meados dos anos
90, o que tornou praticamente universal o acesso ao crédito”
Dada esta conjuntura, o consumo dos
particulares em Portugal aumentou de forma acentuada, enquanto a taxa de poupança baixou de
24% do rendimento disponível em 1985 para 10% em 1990. É de salientar que no
período de 2005-2008 baixou para 7% em resultado do aumento da taxa de juro, à
qual as famílias terão reagido com uma redução da poupança, em vez de uma
redução no consumo.
Esta diminuição da taxa de poupança
contribuiu para o agravamento dos desequilíbrios económicos, tendo como reflexo
o aumento exponencial do défice. Dada a crise financeira vivida em Portugal e
os sucessivos pacotes de austeridade, este comportamento inverteu-se e os
portugueses estão agora a poupar mais, mesmo tendo visto o seu rendimento
disponível diminuir. Depois de uma descida significativa até 2008, a taxa de poupança
das famílias portuguesas iniciou uma recuperação, justificada naturalmente pelo
receio quanto ao futuro, sobretudo tendo em conta a evolução recente das
pensões de reforma. É de salientar que o aumento da poupança esteve alicerçado
em grande medida na redução do consumo sobretudo de bens duradouros, onde se
destaca os automóveis.
Segundo os dados do
INE, a taxa de poupança passou de 9,8%, no segundo trimestre de 2011, para
13,6% no segundo trimestre deste ano. A respeito deste aumento, Pedro Passos
Coelho afirmou “A poupança cresceu ao longo deste ano a uma dimensão que não
esperávamos. Muita gente, por receio ou por precaução, tinha dinheiro para
gastar e não gastou”. Isto “tem um efeito positivo”, prosseguiu, porque “saiu
menos dinheiro do país mas as receitas fiscais baixaram”. De forma indireta,
assumia o fracasso na avaliação do impacto das medidas de austeridade sobre o
consumo privado e o crescimento da economia. Para o primeiro-ministro, parecia
que a desejada retração tinha ido longe demais.
Mas, numa altura de
tentativa de recuperação económica, pode isto ser um mau sinal? Afinal, por que
devemos poupar? Para além de criar uma almofada financeira, ajudando a precaver
situações inesperadas, a teoria do crescimento económico aponta a poupança como
uma espécie de semente do investimento. Explicado de forma muito simples, os
bancos recebem poupanças, normalmente sob a forma de depósitos, e
distribuem-nas via concessão de crédito a empresas e famílias. Teoricamente,
essa poupança dinamiza o investimento e o consumo, faz mexer a economia e acaba
por gerar mais emprego e rendimento.
No meu entender, não
devemos afirmar que os portugueses estão a poupar demais. Os valores da taxa de
poupança nem são os maiores na União Europeia. A Alemanha e a França apresentam
uma taxa de poupança de 16.4% e 15.2%, respetivamente. Numa prespetiva de curto
prazo, é óbvio que prejudica a atividade económica pois a procura,
indubitavelmente, caí mas, a longo prazo, penso ser uma boa solução pois não
nos podemos esquecer que a poupança atual é investimento futuro, o que
significa que a poupança é uma condição necessária para a existência de
crescimento económico. Poupar significa gerir recursos e preparar o futuro. O
famoso pé-de-meia deveria ser condição obrigatória, sobretudo no Estado.
Inês Cunha
Rocha Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário