Em consequência do panorama económico que vivemos actualmente, muito se têm dito e escrito sobre a saúde do sistema capitalista, sendo que muitos, erguidos dos túmulos, lhe têm chamado de insustentável.
Não é a minha opinião. As grandes economias mundiais, nomeadamente os EUA, Reino Unido e outra grande parte dos países Europeus, têm-no praticado, sem que grandes problemas lhe tenham sido diagnosticados. Pelo menos até agora.
Mas para melhor percebemos a metamorfose que, acredito, esta filosofia está prestes a sofrer, temos de ver onde surge o problema actual. Antes de mais temos de compreender que temos em mãos um capitalismo mais selvagem, nos EUA, e uma vertente mais suavizada, sob o olhar atento da regulação dos respectivos países, na Europa.
Pois bem, o início deste século foi pautado por valores de juros bastantes baixos, nos Estados Unidos, tendo havido uma facilidade extrema na concessão de crédito, especialmente no que respeita aos créditos à habitação. Por esta altura a falta de regulação era tal que houve a banalização dos chamados “liar loans”, ie, dos créditos em que o requerente apenas tinha que dar a sua identificação e, sem ter necessidade de um credor. Tendo em conta a volatilidade do sistema laboral neste país, em que é comum mudar-se de emprego, e não existindo qualquer tipo de apoio social para as situações em que isso acontece, podemos ver onde fomos parar. Esta foi a base da chamada crise do subprime. Como era esperado os juros começaram a subir, como consequência da desconfiança dos bancos entre si. Esta situação levou a que os privados, com receio da saúde financeira do sistema, começassem a retirar as suas poupanças dos bancos, o que conduziu a uma situação de falta de liquidez. Obviamente que a isto se seguiu a queda de alguns gigantes da banca norte-americana, e até à nunca vista nacionalização de outras grandes agências, de maneira a não pôr em questão a saúde de outras tantas instituições. Isto nos EUA, com o seu capitalismo selvagem.
No capitalismo ‘versão’ Europa é que está a grande (e feliz) diferença. Devido à instabilidade vivida no sistema financeiro norte-americano, e por contágio entre as instituições dos dois continentes, houve também uma grande perda de poder de compra na Europa, reforçado pela valorização sucessiva do euro face ao dólar.
De modo a evitar um agravamento da crise, e numa situação inédita, houve uma injecção de mihares de dólares nos mercados, pelos principais bancos mundiais.
E finalmente chegamos à dita diferença que tenho estado a falar, e que vai, na minha opinião, ditar a transformação do sistema capitalista.
Passo a explicar: nos EUA não existe protecção social, o que para mim ajudou em muito ao agravamento do subprime. Ou seja, se esta existisse, os bancos saberiam que pelo menos o Estado, por um subsídio qualquer, financiaria (ou ajudaria o particular a financiar) o crédito que este teria contraído. Em vez de uma crise agravada teríamos apenas um excesso de crédito de risco, que poderia não ter afectado tão gravemente as expectativas futuras e, por consequência, as taxas de juro. No presente, temos uns Estados Unidos quase histéricos a querer fazer um fundo comum para combater situações de crise (o que não me parece muito viável).
Já na Europa temos um Jean Claude Trichet , presidente do BCE, a garantir a protecção das instituições europeias, dizendo ‘não’ à ideia de um fundo comum para a Europa, e com insinuações de descida das taxas de referência de modo a estimular a procura (resta-nos ver se a euribor não se vai comportar de forma independente e continuar a sua escalada).
O que quero dizer com isto é que de facto o capitalismo não está morto, nem para morrer, ao contrário do que alguns têm afirmado. O que temos de entender é que este sistema não é incompatível com um regulação dos mercados eficaz e realista, e com um sistema colectivo de apoio social (embora acredite que este não precise de ser tão enraizado como o é actualmente em alguns países europeus).
Cristina Lobo
cristina-lobo@hotmail.com
(artigo de opinião)
Não é a minha opinião. As grandes economias mundiais, nomeadamente os EUA, Reino Unido e outra grande parte dos países Europeus, têm-no praticado, sem que grandes problemas lhe tenham sido diagnosticados. Pelo menos até agora.
Mas para melhor percebemos a metamorfose que, acredito, esta filosofia está prestes a sofrer, temos de ver onde surge o problema actual. Antes de mais temos de compreender que temos em mãos um capitalismo mais selvagem, nos EUA, e uma vertente mais suavizada, sob o olhar atento da regulação dos respectivos países, na Europa.
Pois bem, o início deste século foi pautado por valores de juros bastantes baixos, nos Estados Unidos, tendo havido uma facilidade extrema na concessão de crédito, especialmente no que respeita aos créditos à habitação. Por esta altura a falta de regulação era tal que houve a banalização dos chamados “liar loans”, ie, dos créditos em que o requerente apenas tinha que dar a sua identificação e, sem ter necessidade de um credor. Tendo em conta a volatilidade do sistema laboral neste país, em que é comum mudar-se de emprego, e não existindo qualquer tipo de apoio social para as situações em que isso acontece, podemos ver onde fomos parar. Esta foi a base da chamada crise do subprime. Como era esperado os juros começaram a subir, como consequência da desconfiança dos bancos entre si. Esta situação levou a que os privados, com receio da saúde financeira do sistema, começassem a retirar as suas poupanças dos bancos, o que conduziu a uma situação de falta de liquidez. Obviamente que a isto se seguiu a queda de alguns gigantes da banca norte-americana, e até à nunca vista nacionalização de outras grandes agências, de maneira a não pôr em questão a saúde de outras tantas instituições. Isto nos EUA, com o seu capitalismo selvagem.
No capitalismo ‘versão’ Europa é que está a grande (e feliz) diferença. Devido à instabilidade vivida no sistema financeiro norte-americano, e por contágio entre as instituições dos dois continentes, houve também uma grande perda de poder de compra na Europa, reforçado pela valorização sucessiva do euro face ao dólar.
De modo a evitar um agravamento da crise, e numa situação inédita, houve uma injecção de mihares de dólares nos mercados, pelos principais bancos mundiais.
E finalmente chegamos à dita diferença que tenho estado a falar, e que vai, na minha opinião, ditar a transformação do sistema capitalista.
Passo a explicar: nos EUA não existe protecção social, o que para mim ajudou em muito ao agravamento do subprime. Ou seja, se esta existisse, os bancos saberiam que pelo menos o Estado, por um subsídio qualquer, financiaria (ou ajudaria o particular a financiar) o crédito que este teria contraído. Em vez de uma crise agravada teríamos apenas um excesso de crédito de risco, que poderia não ter afectado tão gravemente as expectativas futuras e, por consequência, as taxas de juro. No presente, temos uns Estados Unidos quase histéricos a querer fazer um fundo comum para combater situações de crise (o que não me parece muito viável).
Já na Europa temos um Jean Claude Trichet , presidente do BCE, a garantir a protecção das instituições europeias, dizendo ‘não’ à ideia de um fundo comum para a Europa, e com insinuações de descida das taxas de referência de modo a estimular a procura (resta-nos ver se a euribor não se vai comportar de forma independente e continuar a sua escalada).
O que quero dizer com isto é que de facto o capitalismo não está morto, nem para morrer, ao contrário do que alguns têm afirmado. O que temos de entender é que este sistema não é incompatível com um regulação dos mercados eficaz e realista, e com um sistema colectivo de apoio social (embora acredite que este não precise de ser tão enraizado como o é actualmente em alguns países europeus).
Cristina Lobo
cristina-lobo@hotmail.com
(artigo de opinião)
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