segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Qualificação ou “Quantificação” da Mão-de-Obra?

Numa conjuntura em que se projecta uma taxa de crescimento do PIB a rondar os 0,9 e os 1,1% (valores bastante abaixo dos 2,2% anunciados pelo Governo no fim do ano transacto), mais uma vez, voltam-se a questionar decisões, a avaliar a eficácia das Políticas Governamentais e procuram-se (ou deveriam procurar-se) soluções.
Segundo dados referentes a 2006, Portugal apresentou (de acordo com a OCDE), uma taxa de trabalhadores com formação superior de apenas 13%, com apenas 28% da mão-de-obra especializada e verificando-se uma taxa de abandono escolar prematuro de 39,2%, sendo todos os valores bastante abaixo das médias da União Europeia.
Face a este cenário era e é necessário um investimento forte na qualificação da mão-de-obra, com vista à obtenção de uma Economia mais competitiva, através de um aumento da produtividade, uma aposta na inovação e de um estímulo ao investimento estrangeiro, para que Portugal não se mantenha tão dependente do nível de exportações na obtenção de resultados positivos no que toca ao crescimento do produto nacional.
Sendo certo que o actual Governo tem promovido acções e tomado decisões que procuram uma melhoria do nível de qualificação da mão-de-obra; serão estas medidas, o investimento mais adequado com vista à real qualificação dos trabalhadores?
Uma das medidas implementadas pelo Governo passou pela criação do projecto das “Novas Oportunidades”. A abertura de centros de “Novas Oportunidades” procura sobretudo dotar trabalhadores de níveis de escolaridade mais elevados. Sendo uma medida que à partida parece interessante é de questionar a eficiência do programa no que concerne à real aquisição de competências necessárias, para a obtenção de níveis como o 9º e 12º anos.
É certo que estamos perante uma forma de especialização de mão-de-obra, mas o nível real de equivalência de aprendizagem e formação escolar não deixa de ser questionável, pois quer-me parecer que estamos a atribuir níveis de escolaridade “para inglês ver”.
Outra questão tem que ver com o programa “E-escolas” que pretende dotar os estudantes do 5º ao 12º ano, com computadores portáteis e internet, a baixos custos. É certo que é um claro sinal de busca de inovação tecnológica que pretende ajudar os alunos no sucesso escolar, mas o facto de não ser possível controlar os fins de utilização dos computadores põe em causa a total eficácia de tal medida. Seria interessante impor determinados requisitos para a aquisição do computador, como o sucesso escolar, sendo assim um incentivo para os estudantes.
Outra questão relacionada com o ensino, prende-se com a implementação de um método de avaliação aos professores. Sendo estes avaliados pelo número de aprovações e reprovações que se verificam nas unidades curriculares que leccionam, não haverá uma certa tendência dos mesmos para um “facilitismo” na aprovação dos alunos? Não querendo colocar em causa a o profissionalismo dos docentes, o subconsciente pode levá-los a facilitar no grau de exigência imposto aos alunos, o que não valoriza em nada a formação efectiva dos mesmos.
A própria forma como têm sido organizados os exames nacionais do 12º ano transparece a ideia de uma certa “ordem de não complicação” (por exemplo, nos exames nacionais de Matemática, de uma média de 9,4 em 2007, passamos para 12,5 valores em 2008). Citando Nuno Crato (presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática), tem-se dado o verdadeiro “milagre da multiplicação das notas”.
Ao nível do Ensino Superior tem-se verificado uma criação de novas vagas e abertura de novos cursos… Sendo certo que é de louvar o alargamento das oportunidades e opções de escolha dos estudantes, é necessário verificar se esta medida permitirá no futuro a obtenção de oportunidades no que concerne mais tarde ao emprego, pois se não forem criadas condições e bases sólidas, apenas estaremos a qualificar mão-de-obra sem futuro, ou que pode ser útil apenas noutros países.
Outro problema preocupante é “a fuga de cérebros”. Muita (e alguma da melhor) mão-de-obra que vemos qualificada em Portugal acaba por emigrar no sentido de encontrar condições e estruturas que lhe permitam prosseguir os seus estudos e a sua actividade profissional. Por vezes e em determinados sectores, Portugal não se encontra dotado de infra-estruturas e de pessoal qualificado, que os ajude a evoluir enquanto profissionais.
Assim, podemos compreender que embora o Governo esteja a procurar a efectiva qualificação da mão-de-obra, qualificação essa que pode ajudar a que se verifique uma melhoria na situação da Economia portuguesa, as medidas tomadas carecem de um limar de determinadas arestas, sendo que outras não fazem muito sentido. A reestruturação da administração pública foi um bom indicador no sentido da qualificação da mão-de-obra, pois pode-se agora poupar para mais tarde se poder investir.
É necessário criar estruturas sólidas e evitar os “facilitismos” pois se assim não se verificar, apenas estaremos a criar mão-de-obra supostamente “qualificada” em quantidade e não em qualidade. Os objectivos que se procuram alcançar não se atingem com quantidade, mas sim com verdadeira qualificação de mão-de-obra.

Hélder Manuel Silva Meira
heldermeira@hotmail.com

(artigo de opinião)

Sem comentários: