quarta-feira, 22 de outubro de 2008

“Endividamento das famílias portuguesas aumenta para 129% do rendimento disponível”

“O endividamento das famílias portuguesas voltou a aumentar em 2007 para 129% do rendimento disponível. Ou seja, as dívidas das famílias superam em 29% os rendimentos auferidos.”
Os dados foram revelados pelo Banco de Portugal no relatório de estabilidade financeira de 2007, sendo considerado o valor mais elevado de sempre.
O Relatório de Estabilidade Financeira 2007, revela-nos ainda que "quando avaliada a materialização do risco de crédito em termos do fluxo de créditos que entraram em incumprimento em 2007, observa-se um aumento significativo no caso dos empréstimos a empresas e, no caso dos particulares, uma estabilização num nível semelhante ao do ano anterior e próximo do observado em 2003".
O Banco de Portugal considera que “aumentos adicionais do endividamento tornarão os agentes privados, em particular as famílias, mais vulneráveis a subidas de taxas de juro que acompanharão, em maior ou menor grau, uma recuperação da economia europeia”.
Para evitar situações de incumprimento, foi necessário e essencial uma melhoramento da avaliação do risco de crédito por parte das instituições bancárias. Tendo, neste sentido, o Banco de Portugal aumentado o requisito mínimo de provisões para crédito ao consumo. Como consequência desta medida, o consumo privado tornou-se o motor principal de crescimento da economia portuguesa.
Em Dezembro de 2005, pela primeira vez em 5 anos, o BCE aumentou a taxa de juro de referência na zona euro de 2 para 2,5%, abrindo caminho a um ciclo de possíveis novas subidas no futuro. Uma subida das taxas de juro irá arrefecer o consumo privado. Com uma maior fatia do rendimento das famílias a ser afecta ao serviço da dívida, tanto o consumo como a poupança sairão penalizados. Por outro lado, prevê-se que a ameaça real do desemprego e o indispensável reequilíbrio financeiro das famílias face ao excessivo endividamento irão acentuar a tendência de abrandamento do consumo privado. Desta forma, não se afigura que seja possível que o consumo privado continue a ser o dinamizador principal da economia nacional.
O elevado endividamento das famílias e a reduzida confiança fazem rever em baixa as expectativas das empresas quanto à evolução futura da procura, constituindo um desincentivo ao investimento.
Se por outro lado considerarmos os gastos públicos, sendo que estes estão limitados pelos compromissos do Pacto de Estabilidade e Crescimento, conclui-se que será necessária uma viragem no modelo de crescimento português no sentido de aumentar as exportações.
Será que Portugal consegue promover essa viragem na situação económica que se encontra?
Para promover uma viragem no modelo de crescimento português no sentido de aumentar as exportações, não depende apenas da fomentação de um conjunto de politicas e da promoção de medidas conjunturais. Temos de ter consciência de que vivemos numa “Aldeia Global”, e que a concorrência vinda de Oriente é forte e, como tal, precisamos de repensar nos próximos passos a dar. Para combatermos a forte concorrência, temos de facto que alterar o nosso modelo de crescimento. Por isso torna-se essencial um aumento da produtividade.
Tendo em conta o agravamento do desequilíbrio externo, para esta situação difícil de Portugal, é necessário frisar que, se o país não aumentar a produção de bens e serviços transaccionáveis, o endividamento para com o exterior, pode tornar-se insuportável. Se baixarmos os braços, não só não temos crescimento económico, como o nosso endividamento para com o exterior pode atingir situações insustentáveis.
Perante estes dados poderá Portugal escapar á conjuntura internacional global?
A situação económica actual está-se a degradar por diversas razões, sendo algumas delas de origem exógena, nomeadamente o caso do aumento do preço dos combustíveis, das taxas de juro, além das limitações ao crédito, que está cada vez mais insustentável com a crise financeira internacional. Tudo isso são factores que estão a afectar a conjuntura portuguesa, designadamente a produção e o emprego.
Perante este nível de endividamento, esta subida, aliada à sobrevalorização do euro, agrava o défice da balança comercial e a dependência do País. Será mais difícil fazer face ao desemprego, à precariedade, aos baixos salários e à subida generalizada dos preços, tendo em conta que o nível de endividamento atinge, 129% do rendimento disponível das famílias portuguesas.

Sílvia Tatiana de Sousa Pais
tatianapais88@hotmail.com
(artigo de opinião)

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