Os dados divulgados pela Comissão Europeia, em meados do presente ano, mostram-nos uma verdade incontornável: os preços têm aumentado acima dos salários e, sobretudo, dos rendimentos das famílias portuguesas. A mesma Comissão fez as contas e, segundo os seus resultados, o ano em curso deverá completar o terceiro ano seguido de variação negativa dos salários reais por trabalhador em Portugal, apresentando estes uma queda de 0.2%. Este dado mais não significa que o aumento de 2.6% nos salários nominais será totalmente absorvido pela inflação prevista de 2.8%. A uma conjuntura pouco animadora de reduções reais dos salários de 0.9% em 2006 e de 0.6% em 2007 segue-se mais um ano de perda do poder de compra.
Desde 1981 os anos de 2006, 2007 e o presente ano de 2008 apresentam aumentos salariais abaixo da inflação, o que representa o período mais longo de perda do poder de compra em Portugal, sendo que, até então, se tinha apenas registado a diminuição dos salários médios em quatro anos de recessão económica, a saber 1983, 1984, 1993 e 2003. Neste sentido pode-se conjecturar dizendo que a presente década será, provavelmente, aquela que piores notícias acarretou para os portugueses, não só ao nível dos seus próprios salários como também nas esferas sociais e políticas. Deste modo, as autoridades europeias estimam que entre 2001 e 2009 a variação real será, simplesmente, de 0.2% ao ano, valor este que contrasta com os 6.6% dos anos 60, com os 4.5% dos anos 70, com os 1.6% dos anos 80 e com os 2.9% dos anos 90.
No entanto e, fundamentalmente na prática, os números são, somente, a confirmação daquilo que os portugueses sentem todos os dias quando se confrontam com a factura da electricidade, do gás, das compras do supermercado, da educação dos filhos, da saúde entre outras coisas afectas ao quotidiano do mais simples cidadão. Em suma e de uma forma simples, o que se verifica é um agravamento paulatino e recorrente de tudo aquilo que é essencial e que, infelizmente, não escapa a ninguém. Passo a passo a política do Governo distancia Portugal dos níveis de desenvolvimento médio dos países da Europa e, assim sendo, os portugueses cada vez mais se desviam das condições médias de vida dos países comunitários. Mais ainda: há uma notória persistência das dificuldades de vida dos portugueses, com graves problemas de desemprego, gritantes situações de pobreza e centenas de milhar de portugueses a serem empurrados para novas vagas de emigração. Não bastando e cada vez mais no limite do fio, verificamos um agravamento da injustiça e da desigualdade sociais, aumentando, hipocritamente, os lucros daqueles que pavoneiam as suas fortunas nas páginas da imprensa e nas listas dos mais ricos do mundo.
Entre as explicações mais resolutivas para este fenómeno estão a contenção salarial verificada na Administração Pública, com consecutivos anos de aumentos salariais abaixo da inflação e, igualmente, a escalada da taxa de desemprego para níveis mais altos, o que, por sua consequência, retira e fracciona o poder negocial dos trabalhadores do sector privado na ânsia de exigirem aumentos salariais mais generosos. Ainda assim, a contenção nos aumentos salariais que se tem vindo a registar nos últimos anos tem algumas consequências positivas para o desempenho das empresas, nomeadamente quando estas estão a competir com estrangeiros, e principalmente quando em concomitância se registam acréscimos significativos ao nível da produtividade.
Segundo a Comissão Europeia a produtividade cresceu 1.7% em 2007, registando o valor mais alto desde 1999. E apesar do abrandamento da economia prevê-se que continue a subir a um ritmo de 1% em 2008 e no seu subsequente. Assim, este facto combinado com as actualizações salariais moderadas faz com que os indicadores de competitividade evidenciados pela União Europeia registem uma forte melhoria.
Neste seguimento, conclui-se que o problema para os trabalhadores, como tantas vezes aconteceu, está em saber qual vai ser, na realidade, a inflação do próximo ano. As previsões do Governo têm sido, nos últimos anos, um elemento de forte perturbação da política económica, mas, sobretudo, têm sido um elemento de destabilização da política de rendimentos e da negociação colectiva, com impactos negativos sobre o crescimento real dos salários, pensões e demais rendimentos. É fundamental que a estimativa da inflação se transforme num referencial realista e credível para a política de rendimentos e para a negociação salarial, sendo, de igual modo, urgente alterar a política económica que tem vindo a apostar na “moderação salarial” como principal factor de consolidação das contas públicas, de controlo da taxa de inflação e até de melhoria da competitividade. Na prática, o peso dos salários no rendimento total tem vindo a perder peso nos últimos anos, sendo este um facto recorrente nos cidadãos portugueses. Para contrariar esta tendência, a consolidação das finanças públicas não pode continuar a ser feita à custa de políticas salariais e de rendimentos restritivos, cujas implicações são negativas não só sobre a vida e o bem-estar dos trabalhadores, pensionistas e suas famílias, como também sobre o potencial de crescimento económico do país.
Tânia Peixoto
tani_peixoto@hotmail.com
Desde 1981 os anos de 2006, 2007 e o presente ano de 2008 apresentam aumentos salariais abaixo da inflação, o que representa o período mais longo de perda do poder de compra em Portugal, sendo que, até então, se tinha apenas registado a diminuição dos salários médios em quatro anos de recessão económica, a saber 1983, 1984, 1993 e 2003. Neste sentido pode-se conjecturar dizendo que a presente década será, provavelmente, aquela que piores notícias acarretou para os portugueses, não só ao nível dos seus próprios salários como também nas esferas sociais e políticas. Deste modo, as autoridades europeias estimam que entre 2001 e 2009 a variação real será, simplesmente, de 0.2% ao ano, valor este que contrasta com os 6.6% dos anos 60, com os 4.5% dos anos 70, com os 1.6% dos anos 80 e com os 2.9% dos anos 90.
No entanto e, fundamentalmente na prática, os números são, somente, a confirmação daquilo que os portugueses sentem todos os dias quando se confrontam com a factura da electricidade, do gás, das compras do supermercado, da educação dos filhos, da saúde entre outras coisas afectas ao quotidiano do mais simples cidadão. Em suma e de uma forma simples, o que se verifica é um agravamento paulatino e recorrente de tudo aquilo que é essencial e que, infelizmente, não escapa a ninguém. Passo a passo a política do Governo distancia Portugal dos níveis de desenvolvimento médio dos países da Europa e, assim sendo, os portugueses cada vez mais se desviam das condições médias de vida dos países comunitários. Mais ainda: há uma notória persistência das dificuldades de vida dos portugueses, com graves problemas de desemprego, gritantes situações de pobreza e centenas de milhar de portugueses a serem empurrados para novas vagas de emigração. Não bastando e cada vez mais no limite do fio, verificamos um agravamento da injustiça e da desigualdade sociais, aumentando, hipocritamente, os lucros daqueles que pavoneiam as suas fortunas nas páginas da imprensa e nas listas dos mais ricos do mundo.
Entre as explicações mais resolutivas para este fenómeno estão a contenção salarial verificada na Administração Pública, com consecutivos anos de aumentos salariais abaixo da inflação e, igualmente, a escalada da taxa de desemprego para níveis mais altos, o que, por sua consequência, retira e fracciona o poder negocial dos trabalhadores do sector privado na ânsia de exigirem aumentos salariais mais generosos. Ainda assim, a contenção nos aumentos salariais que se tem vindo a registar nos últimos anos tem algumas consequências positivas para o desempenho das empresas, nomeadamente quando estas estão a competir com estrangeiros, e principalmente quando em concomitância se registam acréscimos significativos ao nível da produtividade.
Segundo a Comissão Europeia a produtividade cresceu 1.7% em 2007, registando o valor mais alto desde 1999. E apesar do abrandamento da economia prevê-se que continue a subir a um ritmo de 1% em 2008 e no seu subsequente. Assim, este facto combinado com as actualizações salariais moderadas faz com que os indicadores de competitividade evidenciados pela União Europeia registem uma forte melhoria.
Neste seguimento, conclui-se que o problema para os trabalhadores, como tantas vezes aconteceu, está em saber qual vai ser, na realidade, a inflação do próximo ano. As previsões do Governo têm sido, nos últimos anos, um elemento de forte perturbação da política económica, mas, sobretudo, têm sido um elemento de destabilização da política de rendimentos e da negociação colectiva, com impactos negativos sobre o crescimento real dos salários, pensões e demais rendimentos. É fundamental que a estimativa da inflação se transforme num referencial realista e credível para a política de rendimentos e para a negociação salarial, sendo, de igual modo, urgente alterar a política económica que tem vindo a apostar na “moderação salarial” como principal factor de consolidação das contas públicas, de controlo da taxa de inflação e até de melhoria da competitividade. Na prática, o peso dos salários no rendimento total tem vindo a perder peso nos últimos anos, sendo este um facto recorrente nos cidadãos portugueses. Para contrariar esta tendência, a consolidação das finanças públicas não pode continuar a ser feita à custa de políticas salariais e de rendimentos restritivos, cujas implicações são negativas não só sobre a vida e o bem-estar dos trabalhadores, pensionistas e suas famílias, como também sobre o potencial de crescimento económico do país.
Tânia Peixoto
tani_peixoto@hotmail.com
(artigo de opinião)
Sem comentários:
Enviar um comentário