quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Investimento privado

Desde 2001, que Portugal não consegue atingir os níveis de crescimento económico que atingiu anteriormente. Entre 1985-1991, Portugal teve uma variação no crescimento económico de 5,7% do PIB per capita, enquanto entre 2001-2005 apenas se observou um crescimento de 0,1% ao ano.
Mas na verdade o que estará na causa desta diminuição? Estudos comprovam que esta acentuada discrepância no crescimento económico que se tem vindo a verificar, resulta da alteração negativa de diversos factores, nomeadamente da despesa pública e privada e do investimento público e privado. O aumento da despesa pública e as restrições ao endividamento das empresas e do Estado que se tem vindo a verificar desde 2001, têm inabilitado Portugal de atingir o ritmo de crescimento económico anterior.
A actual crise dos mercados financeiros desencadeada pelo subprime (crédito de alto risco) tem causado nos bancos um aumento da percepção do incumprimento por parte dos outros bancos ou clientes que contraem empréstimos. Este aumento do risco provoca um aumento das taxas de juro, o que por sua vez, gera uma inibição à obtenção de empréstimos.
Assim, com o difícil acesso ao crédito torna-se complicado para as empresas conseguirem aumentar os seus investimentos e tornarem-se mais competitivas face ao exterior. Por outro lado, considera-se ainda que o sector privado se deve afastar o mais que possível do Estado sobretudo as empresas que produzem produtos não transaccionáveis, pois assim só faz com que o Estado aumente ainda mais os seus Gastos e consequentemente o Défice Orçamental e não haja aumento da competitividade.
Contudo, este “travão” ao crédito afecta também os consumidores, que vêem as suas poupanças e o seu poder de compra a diminuir. Nem mesmo com a redução, em Julho, da taxa normal do IVA as despesas de consumo final das famílias aumentaram. Por isso, eu considero que esta diminuição reflectiu-se acima de tudo, numa diminuição da carga fiscal que as empresas entregam ao Estado e não da carga fiscal que as empresas recebem dos consumidores. Ou seja, esta diminuição do IVA de 21% para 20% foi fundamentalmente para incentivar as empresas a aumentar os seus investimentos e consequentemente tornar Portugal mais competitivo, embora pense que não foi muito significativa. A acumulação de stocks que se tem verificado ultimamente tem sido um outro entrave ao investimento feito pelas empresas, pois se estas não conseguem esgotar toda a sua produção do período anterior, vão perder incentivos para investirem no período seguinte.
No entanto, outros factores estão na origem desta diminuição da produtividade e competitividade de Portugal tais como, a taxa de abandono escolar, a má formação nas escolas, a rigidez do mercado de trabalho, a escassez da capacidade de investimento e inovação por parte das empresas, a perda de competitividade das exportações, a informalidade (fuga ao fisco por parte das empresas), o aumento do peso do sector público na economia, entre outros.
Portanto, se o sector público não pode continuar a assumir os encargos que assumia antes devido à carência dos recursos financeiros públicos, então o sector privado deve ser mais autónomo, aumentar o seu nível de investimento em Inovação e Desenvolvimento, aumentar as suas exportações externas, permitir uma maior mobilidade de trabalhadores e aumentar o nível de formação fornecido aos trabalhadores.

Ana Matilde Carvalho Gonçalves
matildegoncalves_001@hotmail.com
(artigo de opinião)

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