quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Energias renováveis para acabar com a dependência

A actual instabilidade no preço do petróleo, assim como as reservas cada vez mais diminutas do mesmo, evidenciam a necessidade crescente de encontrar alternativas energéticas viáveis e eficientes. Portugal, um país sem reservas petrolíferas, gás natural, carvão e sem experiência em energia nuclear, encontra-se ainda mais vulnerável a esta instabilidade, sendo directamente afectado pelos constantes aumentos do preço da energia e do combustível.
O crescente investimento que se vem vindo a sentir nas energias renováveis é prova de que, de facto, a aposta neste tipo de fontes “amigas do ambiente” se virá a tornar, cada vez mais, na melhor opção para contornar as limitações que o nosso país apresenta em relação à sua subsistência energética.
O parque solar que, no final deste ano, se encontrará plenamente instalado no Alentejo vem a consolidar o papel pioneiro que Portugal assume, no contexto europeu, em relação à utilização e investimento em fontes de energia limpas. Este parque, que será a maior exploração fotovoltaica do mundo, terá capacidade para abastecer 30 mil lares por ano, gerando electricidade directamente através da luz solar. A exploração, avaliada em 600 milhões de euros, vem em linha com os objectivos ambiciosos do executivo português, que pretende passar a sua quota de energias renováveis, em 2020, para 60%.
É, também, necessário destacar o maior parque eólico da Europa, instalado no norte do nosso país que, para além da componente energética, permitiu a criação de cerca de 1200 postos de trabalho, no fabrico das pás utilizadas para a captação do vento. Novamente no norte, mais precisamente no Porto, está a ser posto em prática o primeiro parque de energia das ondas, único em todo o mundo.
De facto, as energias renováveis assumem-se como a melhor solução face á conjuntura actual. O aumento do preço do petróleo acabou por conduzir a um crescimento da utilização da luz solar, assim como a um aumento da produção da energia fotovoltaica, tornando-se esta mais barata e, consequentemente, mais acessível e competitiva. A “paridade na rede” consolida-se como uma realidade: prevê-se que, daqui a alguns anos, a electricidade produzida pelo sol seja comparativamente igual á comprada á rede, em termos de preço. No nosso país, a aposta na energia solar é explícita, já que em cada nova habitação construída se torna obrigatório instalar painéis solares.
A crise petrolífera da actualidade acaba por oferecer um contributo essencial para a procura de outras alternativas e opções. A nossa dependência externa em relação à energia precisa de uma solução, principalmente agora que estamos completamente expostos à oscilação constante dos preços. Com esta aposta nas novas fontes de energia, para além de aumentarmos a nossa capacidade de produção de energia, poderemos alcançar uma economia com poucas emissões de carbono para a atmosfera. Num contexto globalizado, em que as questões ambientais surgem com cada vez mais relevância, torna-se fulcral a preservação do planeta. São estas preocupações que dão um maior impulso e apoio á exploração destas fontes de energia, não prejudiciais ao ambiente, provenientes de fontes limpas e renováveis. No entanto, seria utópico pensar que só as inquietações levantadas pelos ambientalistas conseguirão levar à completa consolidação das energias renováveis. È essencial apostar nos incentivos, que consigam provar aos empresários que, de facto, as energias renováveis são uma alternativa competitiva em relação às outras fontes energéticas mais poluentes, o que iria mostrar que, no longo-prazo, conseguiriam obter lucros através da utilização das mesmas. Estes lucros assumiriam um carácter não só monetário, como também ambiental.
Assim, o caminho para o desenvolvimento sustentável começa a ser traçado através destas iniciativas que, apesar de serem ainda em pequena escala face às necessidades energéticas do país, se fortalecem como precursoras na revolução tecnológica em busca da preservação do ambiente.

Vera Castro
veracastro24@hotmail.com
8artigo de opinião)

3 comentários:

Rita Sousa disse...

As metas às emissões de CO2 (para 2005-2007, 2008-2012, ...-2020 e ...-2050) derivadas da queima de combustíveis fósseis é também apontado como causa da 'obrigação' do investimento em renováveis. Esse seria o objectivo inicial dessa imposição restritiva às grandes produtoras de electricidade, obrigando-as a redefinir a sua ordem de mérito.

Para além disto, o custo atribuído à externalidade em causa, mais conhecida por 'aquecimento global', foi já desde 2005 (na UE) concretizada no preço do CO2 (definido pelo próprio mercado de licenças de emissão), e consequentemente incluído no preço de produção com energia primária fóssil. Por isto muitas vezes é argumentado que, 'in extremis', a atribuição de outro tipo de incentivos (como subsídios) iria duplicar um efeito que o mercado já consegue sozinho.

Naturalmente há situações em que é "obrigatória" a existência de incentivos (actualmente as tarifas das renováveis), para que seja possível a introdução de tecnologia muito recente, que se desenvolva, tornando-se economicamente viável a sua utilização (actualmente o 'solar' mencionado, ou as pilhas de combustível (hidrogénio), ou até mesmo a inexistente fusão nuclear).

Anónimo disse...

“Portugal, … encontra-se ainda mais vulnerável a esta instabilidade…”, (citando Vera Castro) e um exemplo disso é a EDP, que devido aos elevados custos de energia, ao elevado crescimento dos preços das matérias-primas, a par da baixa hidraulicidade (falta de chuva), provocou em Setembro, um défice tarifário acumulado de quase 750 milhões de euros, valor que tende a aumentar até ao final do ano. Para absorver estes desvios, a empresa poderá vir a aumentar o preço dos bens produzidos, um custo acrescido para os consumidores.
Para evitar externalidades negativas deste género, é necessário estimular o investimento global das tecnologias mais limpas. Estas actividades económicas de valor social e ambiental são uma importante fonte de novas oportunidades de negócio, criando emprego e crescimento económico favoráveis ao ambiente.
Um mercado global de energias alternativas era uma boa hipótese, pois ajudava os países desenvolvidos a identificar os sectores de possível redução de emissões de carbono e menores custos, angariando fundos para ajudar os países em desenvolvimento a adoptarem os mesmos métodos.
O problema surge em conseguir acelerar este processo, conseguir apoio político e aumentar o investimento neste sector. Apesar dos elevados preços do petróleo servirem de incentivo ao desenvolvimento de novas estratégias globais de energias alternativas e baixo carbono, a atribuição de incentivos aumentaria muito este efeito.
Ao estimular a inovação global pode-se, por exemplo, desenvolver novos veículos e equipamentos. Tendo isto em consideração, e olhando para os resultados de experiências de outros países, surgiu a ideia para algumas Câmaras Municipais Portuguesas, de adaptarem os tradicionais estacionamentos de automóveis, para o chamado “Estacionamento Verde”. Com esta medida, pretende-se identificar os veículos mais amigos do ambiente, premiando-os com tarifas menores de parqueamento. Ainda que a diferenciação seja pequena, é sempre uma forma de alertar e sensibilizar os cidadãos para as vantagens em adquirir veículos que emitam menores níveis de CO2.
A título de conclusão, considero que o Estado deve intervir criando e fixando regras que facilitem as iniciativas ambientalistas, que podem, eventualmente, ter custo zero e não causar incómodo ao cidadão.

Joana Vivas
(vivas.joana@gmail.com)

Rita Sousa disse...

De facto a atribuição de subsídios (directos ou indirectos, incluindo aqui as 'facilidades concedidas') pode ter consequências inesperadas, dependendo naturalmente da situação. Aconselho uma visita a www.subsidiosperversos.org .