quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Crise do petróleo será problema só dos dias de hoje?

A presente crise é o mais sério episódio de uma mesma sucessão histórica. Na 1ª Guerra Mundial em que se evidenciou a grande vantagem comparativa desse recurso energético do Médio Oriente e da Ásia Central, o Reino Unido impondo o seu controlo. Na 2ª Guerra Mundial marca a viragem para a ascensão dos EUA à posição de potência hegemónica. De 1970-71, a capacidade de produção de petróleo os EUA atingiu o seu auge para iniciar depois um persistente declínio. Esse primeiro choque é seguido pela guerra Israelo-Árabe em 1973, a reacção da OPEC (Organization of the Petroleum Exporting Countries) com o embargo da produção e a subida do preço do petróleo. Não obstante a subida do preço e a corresponde tentativa de reanimar a extracção de petróleo no território dos EUA, a custos marginais mais encorajantes, essa produção não pôde ser incrementada, em vista dos factores naturais, e o declínio foi inevitável. Iniciou-se por esse tempo o longo período de contracção económica, que se prolonga até hoje. A guerra Irão-Iraque (1980-88) iria desgastar a solidez da administração do estado e da capacidade militar desses dois países, que se contam como os detentores das segundas maiores de reservas mundiais, um de petróleo e o outro de gás natural. A passagem do auge da capacidade de produção de petróleo na URSS, entre 1983-87, seguida do inevitável declínio, tal como nos EUA na década anterior. A revisão em alta das reservas de petróleo no Médio Oriente, entre 1986 e 1989, e a corresponde queda do preço do petróleo no mercado internacional no mesmo período; com efeito, as reservas provadas de petróleo (a nível mundial) subiu de 710 Gb (710 bilhões Giga barris) em 1986 para 900Gb em 1987 e de novo para 1010 Gb em 1989; tomando como referência o preço do petróleo do Dubai ele caiu de 1980 (US$ 35,69) para US$ 27,53 em 1985 e dramaticamente para US$ 12,95 em 1986, mas para subir de novo, porém já só no fim da década, em 1990 (US$ 20,50); em sentido inverso, a produção subiu sensivelmente, de 57Mb (milhões barris) /dia em 1985 para 63 Mb/dia em 1989. A crise económica e política da URSS, acelerada pela corrida armamentista e pela redução das receitas externas, sobretudo provenientes da exportação de petróleo, mas então a preço deprimido e sem a possibilidade de incrementar a extracção, que conduziu à dissolução do bloco soviético. Em 1990 o Iraque é induzido a invadir o Kuwait e desencadeia a intervenção militar de uma coligação militar estrangeira sob a direcção dos EUA, sancionada pela ONU. É a Primeira Guerra do Golfo. Desde 1991 até agora, o Iraque ficou sujeito a um regime de embargo decretado pela própria ONU a que, unilateralmente, os EUA e o Reino Unido adicionaram duas "zonas de exclusão aérea" que demarcaram e passaram a bombardear regularmente. Após o atentado terrorista de 11 de Setembro de 2001, os EUA desencadearam a campanha global de "guerra contra o terrorismo", tendo de imediato invadido o Afeganistão (Outubro de 2001) e estabelecido "alianças" com "novos estados independentes" anteriormente integrados na URRS e, também, mais bases militares, estas já na Ásia Central. Se os picos de produção de petróleo nos EUA na década de 70 e na URSS na década de 80 tiveram conexões com graves incidentes à escala mundial de natureza económica, política e militar, o iminente pico de produção à escala mundial permite recear extensas repercussões no próximo futuro. Futuro que parece ter já começado.

Lília Regina Vieira Martins

(artigo de opinião)

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