O dinheiro parece estar cada vez mais caro e, a sua escassez em termos de disponibilidade líquida, começa a evidenciar-se como consequência da actual precária situação económica.
As famílias, nos últimos anos, têm vindo a perder, de forma constante, o seu poder de compra, tendo como causas directas o seu crescente endividamento, os seus salários encontram-se numa situação de quase congelamento (ou, na maioria dos casos, o respectivo aumento ser inferior ao índice de inflação apurado). De acordo com as últimas estimativas divulgadas pelo Gabinete de Estatística Europeu (Eurostat) – em 30-9-2008, a taxa anual de inflação na zona euro recuou para os 3,6% em Setembro, face ao mesmo período do ano passado, contra os 3,8% registados em Agosto. Estes dados estão em linha com as previsões dos economistas consultados pela Reuters que esperavam em média uma taxa de 3,6%.
Apesar do BCE ter fixado como objectivo manter a inflação ligeiramente abaixo dos 2% a médio prazo, o aumento dos preços da energia e dos alimentos tem feito com que o índice continue muito acima desta meta, desde Setembro de 2007. Neste sentido, a autoridade monetária europeia voltou a aumentar a sua taxa de juro de referência para 4,25%, em Julho deste ano – que manteve no início deste mês de Outubro. O aumento em 25 pontos base (para 4,25%), verificado em Julho, veio diminuir a inflação, esperando-se deste modo que o seu decréscimo tenha impacto directo nos preços, no mesmo sentido. Nessa medida, com o actual valor da taxa de juro e índice da taxa de inflação, descortina-se um paradigma para todos aqueles que se encontram endividados (e não só), porque, conforme se referiu, pedir dinheiro emprestado encareceu.
Como prova disso, temos as declarações de diversos responsáveis políticos europeus, entre os quais, o ministro da economia espanhol, Pedro Solbes, que se mostra preocupado com o “aumento espectacular” do número de famílias que deixaram de pagar as prestações de crédito imobiliário, facto esse que se está a verificar em muitos outros países.
Na verdade, verifica-se uma estagnação na procura do crédito, circunstância que já se fez sentir – para isso, basta analisar, em igual período de 2007 e 2008, o valor do consumo e do investimento, tendo caído de 2,3% para 1,4% o consumo, e de 8,1% para 3,7% o investimento (outro exemplo: os incumprimentos de pagamento das empresas aumentaram 45% nos primeiros 4 meses de 2008, comparando com o período homólogo de 2007).
Por isso, têm ocorrido rumores acerca de uma possível mas ainda não consumada descida da taxa de juro, visto que é evidente o abrandamento económico. É perceptível um elevado custo de vida, uma economia em retrocesso, de onde os motores da economia, tal como o consumo e investimento, dão mostras de um horizonte ainda mais nebuloso, factores agravados com a crise no sistema económico-financeiro norte-americano.
Face a tudo isto, e apesar das pressões do governo francês e do maior sindicato europeu, o Verdi, para estimular a economia, o Banco Central Europeu mostrou, mais uma vez na recente reunião de 2 de Outubro de 2008, continuar a estar mais preocupado com a inflação do que propriamente com o crescimento económico, porque o aumento da taxa de juro dispara numa só direcção, isto é, capturar o controlo de preços. Será este o antídoto adequado para curar a economia europeia?
As consequências desta política são facilmente identificadas, ou seja, há uma preocupação pelo controlo dos preços, para que o poder de compra das famílias não se degrade ainda mais. Esta política poderá revelar-se inviável na medida em que, registando-se um crescimento económico negativo nos próximos trimestres, a variável crítica deixará de ser a inflação, para passar a ser o desemprego crescente e as exportações.
Jean-Claude Trichet (presidente do BCE), nesta última reunião, sublinhou ainda que, actualmente, pende sobre a economia e os mercados um «nível extraordinário de incerteza», depois de ter apontado que os riscos de abrandamento económico aumentaram. No que se refere à inflação, Trichet considera que os riscos e pressões no sentido de uma subida, diminuíram. Dois factores que, conjugados, podem levar a um corte das taxas de juro num futuro próximo, como têm antecipado alguns especialistas.
Na verdade, parece existir uma contradição na posição assumida pelo Presidente do BCE: reconhece que a actividade económica está a degradar-se na zona de intervenção do Banco Central, devido à contracção da procura e às actuais restrições ao financiamento; mesmo assim, não se mostra capaz, pelo menos para já, de tomar partido de uma política que estimule a economia.
Luís Couto
luis_couto_6@hotmail.com
As famílias, nos últimos anos, têm vindo a perder, de forma constante, o seu poder de compra, tendo como causas directas o seu crescente endividamento, os seus salários encontram-se numa situação de quase congelamento (ou, na maioria dos casos, o respectivo aumento ser inferior ao índice de inflação apurado). De acordo com as últimas estimativas divulgadas pelo Gabinete de Estatística Europeu (Eurostat) – em 30-9-2008, a taxa anual de inflação na zona euro recuou para os 3,6% em Setembro, face ao mesmo período do ano passado, contra os 3,8% registados em Agosto. Estes dados estão em linha com as previsões dos economistas consultados pela Reuters que esperavam em média uma taxa de 3,6%.
Apesar do BCE ter fixado como objectivo manter a inflação ligeiramente abaixo dos 2% a médio prazo, o aumento dos preços da energia e dos alimentos tem feito com que o índice continue muito acima desta meta, desde Setembro de 2007. Neste sentido, a autoridade monetária europeia voltou a aumentar a sua taxa de juro de referência para 4,25%, em Julho deste ano – que manteve no início deste mês de Outubro. O aumento em 25 pontos base (para 4,25%), verificado em Julho, veio diminuir a inflação, esperando-se deste modo que o seu decréscimo tenha impacto directo nos preços, no mesmo sentido. Nessa medida, com o actual valor da taxa de juro e índice da taxa de inflação, descortina-se um paradigma para todos aqueles que se encontram endividados (e não só), porque, conforme se referiu, pedir dinheiro emprestado encareceu.
Como prova disso, temos as declarações de diversos responsáveis políticos europeus, entre os quais, o ministro da economia espanhol, Pedro Solbes, que se mostra preocupado com o “aumento espectacular” do número de famílias que deixaram de pagar as prestações de crédito imobiliário, facto esse que se está a verificar em muitos outros países.
Na verdade, verifica-se uma estagnação na procura do crédito, circunstância que já se fez sentir – para isso, basta analisar, em igual período de 2007 e 2008, o valor do consumo e do investimento, tendo caído de 2,3% para 1,4% o consumo, e de 8,1% para 3,7% o investimento (outro exemplo: os incumprimentos de pagamento das empresas aumentaram 45% nos primeiros 4 meses de 2008, comparando com o período homólogo de 2007).
Por isso, têm ocorrido rumores acerca de uma possível mas ainda não consumada descida da taxa de juro, visto que é evidente o abrandamento económico. É perceptível um elevado custo de vida, uma economia em retrocesso, de onde os motores da economia, tal como o consumo e investimento, dão mostras de um horizonte ainda mais nebuloso, factores agravados com a crise no sistema económico-financeiro norte-americano.
Face a tudo isto, e apesar das pressões do governo francês e do maior sindicato europeu, o Verdi, para estimular a economia, o Banco Central Europeu mostrou, mais uma vez na recente reunião de 2 de Outubro de 2008, continuar a estar mais preocupado com a inflação do que propriamente com o crescimento económico, porque o aumento da taxa de juro dispara numa só direcção, isto é, capturar o controlo de preços. Será este o antídoto adequado para curar a economia europeia?
As consequências desta política são facilmente identificadas, ou seja, há uma preocupação pelo controlo dos preços, para que o poder de compra das famílias não se degrade ainda mais. Esta política poderá revelar-se inviável na medida em que, registando-se um crescimento económico negativo nos próximos trimestres, a variável crítica deixará de ser a inflação, para passar a ser o desemprego crescente e as exportações.
Jean-Claude Trichet (presidente do BCE), nesta última reunião, sublinhou ainda que, actualmente, pende sobre a economia e os mercados um «nível extraordinário de incerteza», depois de ter apontado que os riscos de abrandamento económico aumentaram. No que se refere à inflação, Trichet considera que os riscos e pressões no sentido de uma subida, diminuíram. Dois factores que, conjugados, podem levar a um corte das taxas de juro num futuro próximo, como têm antecipado alguns especialistas.
Na verdade, parece existir uma contradição na posição assumida pelo Presidente do BCE: reconhece que a actividade económica está a degradar-se na zona de intervenção do Banco Central, devido à contracção da procura e às actuais restrições ao financiamento; mesmo assim, não se mostra capaz, pelo menos para já, de tomar partido de uma política que estimule a economia.
Luís Couto
luis_couto_6@hotmail.com
(artigo de opinião)
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