segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O porquê da crise

“Quando era jovem pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje tenho a certeza.” A frase é de Oscar Wilde e, na minha opinião, não podia ser mais adequada aos tempos que correm. Mas o mundo está a sofrer uma grave crise financeira. É como diz Sérgio Rebelo, professor na Kellogg School of Management, Northwestern University: “… o sistema financeiro é um castelo de cartas que está assente na confiança dos investidores. Se essa confiança vacilar, o castelo pode cair, baralhando todas as cartas. Infelizmente, é isso que está a acontecer.”
Mas afinal como é que começou a crise? Pois bem, todos se recordam da crise hipotecária que abalou o mercado americano há menos de um ano. Empresas especializadas em empréstimos, tendo em vista aumentar a margem de lucro, sobrevalorizaram os imóveis para que pudessem emprestar dinheiro a juros superiores ao normal no mercado, recebendo como garantia hipotecas (direito sobre um imóvel). Passado algum tempo, visando obter mais uma fonte de rendimento, essas mesmas empresas transformaram as hipotecas em títulos a serem negociados no mercado, títulos esses que foram comprados de seguida pelos bancos, com a crença de lucros a longo-prazo. No entanto, uma vez que os empréstimos foram concedidos para pessoas que não tinham rendimentos para os sustentar, os pagamentos começaram a falhar, e com isso deu-se a quebra das financeiras. Com essa quebra e falta de crédito dos devedores, os imóveis foram tomados pelos bancos (que possuíam os títulos hipotecários). Mas como um grande número de imóveis foi alvo dessa acção, o seu valor diminui e os títulos comprados pelos bancos acarretaram prejuízos e a consequente falência. Porém, alguns bancos são mais afectados do que outros. E é aí que reside o problema que muitas vezes acaba por “tramar” os bancos: a falta de informação. Durante a crise é difícil distinguir um “bom banco” de um “mau banco”, o que leva os investidores a preferirem não correr riscos e levantarem o seu dinheiro. Esta corrida aos bancos pode ter efeitos gravíssimos, forçando os bancos, quer se trate de bancos pouco afectados pela crise, a liquidar os seus activos a preços muito baixos.
Em Portugal (e no resto do mundo, como é obvio) também se sentiu, e ainda se sente, essa crise: o valor médio de avaliação bancária de apartamentos e moradias baixou 4,6% no segundo trimestre deste ano no mesmo período do ano passado. Se formos buscar valores por zonas, encontramos zonas como Almada ou Espinho com quebras de mais de 10% nos preços. Mas no que toca aos bancos a crise não chegou ainda em força, mas o medo e a insegurança já é muita. Devido aos riscos, já são concedidos menos créditos, e já foi necessário o Governo anunciar a garantia de 50.000€ pelo Fundo de Garantia, em caso de falência do banco, para acalmar um pouco o país, que via exemplos como os da Islândia, que entrou em grande recessão, e cujos bancos congelaram as contas para não falirem.
Em forma de conclusão, devo dizer que os EUA não devem ser seguidos como exemplo. A meu ver, a única forma de não agravar o inevitável é a confiança. Sem confiança, os bancos vão à falência, a bolsa cai a pique pois os investidores não confiam mais nas empresas e entraremos numa recessão gravíssima. Devemos confiar na palavra dos nossos governantes (embora alguns não mereçam) quando estes dizem que em caso de falência parte do dinheiro será garantido. O que não falta ao longo da história são casos que mostram que se as crises (não necessariamente financeiras ou económicas) forem precedidas de pânico geral, só podem agravar.

João Viana
skateman161616@hotmail.com

(artigo de opinião)

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