quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Em busca de um novo paradigma energético

Dados da Agência Internacional de Energia, indicam que a procura do petróleo deverá aumentar cerca de 37 por cento até 2030. Ao mesmo tempo, são poucos aqueles que acreditam que os reservatórios do “ouro negro” possuem uma capacidade infinita. Neste cenário, parece muito provável que vamos assistir no futuro próximo a um agravamento do diferencial entre a oferta e a procura se os mercados não encontrarem alternativas energéticas.
Embora o rácio do consumo mundial de petróleo relativamente ao PIB tenha vindo a decrescer desde 1973 nos países mais desenvolvidos, é um facto que um naipe de economias em vias de desenvolvimento, no qual se destacam China e Índia, para dar continuidade aos seus programas de crescimento, não têm seguido a mesma trajectória e têm, pelo contrário, vindo a aumentar significativamente a procura por esta fonte energética.
Além das economias emergentes, questões ambientais e as limitações no lado da oferta, são, geralmente, apontadas como algumas das principais causas para os actuais aumentos do preço do crude nos mercados internacionais. Mas, se por um lado, as pressões sobre o preço de mercado do custo desta fonte primária de origem fóssil pode e deve ser encarado como um aviso sério à economia mundial de que é necessário encontrar alternativas menos dispendiosas, mais amigas do ambiente e, acima de tudo, promover a eficiência energética, por outro, todos sabemos que não é muito provável que enquanto existir petróleo para ser extraído e os preços não forem colocados, permanentemente, num patamar elevado, nos desacostumemos dele em absoluto.
A vulnerabilidade dos mercados do petróleo a actos de terrorismo e os consequentes prejuízos na economia global são hoje encarados, também, como uma razão muito forte para a procura de novas alternativas energéticas. As economias dependentes de fontes de abastecimento de petróleo exógenas e potencialmente inseguras ficam mais expostas aos resultados dos conflitos como, por exemplo, aqueles que se verificam em áreas voláteis do Médio Oriente. O petróleo é uma matéria-prima com uma utilização tão intensa, resultado de uma economia mundial próspera e devoradora de vastas quantidades, que qualquer suspensão na sua oferta afectaria gravemente a mais pujante economia que seja dependente de fornecedores precários. Com este pano de fundo, será lícito concluir que qualquer responsável político desejaria considerar o petróleo como uma fonte energética de opção e não de necessidade.
Embora incipiente, o potencial de inovação inerente às tecnologias conectadas às energias renováveis – Hidráulica, Eólica, Solar, Geotérmica, Biomassa e Co-geração - deve ser rentabilizado antes do esgotamento geológico do crude se efectivar. Se é verdade que as a energias limpas apresentam vantagens como as emissões limitadas de CO , progressão tecnológica, valorização de recursos ociosos, entre outras, também é verdade que se verificam desvantagens associadas como custos elevados de produção, limitações crescentes à construção de grandes barragens e restrições nos espaços necessários para a sua instalação que têm provocado um crescimento moderado deste tipo de fontes energéticas cuja exploração não implica, à escala humana, a diminuição de recursos respectivos.
É de acreditar que exista no subsolo petróleo em quantidades suficientes para fazer face ao aumento da procura mundial prevista pela AIE mas a delapidação dos recursos petrolíferos é preocupante. Convém não esquecer que, assim como o petróleo, qualquer outra fonte de energia é um recurso escasso e com preços, tendencialmente, cada vez mais elevados. Portanto, a ênfase na promoção da eficiência energética deverá ser encarada por todos os agentes económicos como uma linha de orientação fulcral na economia mundial.

Sérgio Monteiro
Sérgio.Monteiro@delphi.com

(artigo de opinião)

2 comentários:

Rita Sousa disse...

Genericamente concordando com a ideia deste artigo, não posso deixar de corrigir a conclusão pois penso que o que queria dizer era "assim como o petróleo, qualquer outra fonte de energia NÃO RENOVÁVEL é um recurso escasso e com preços tendencialmente cada vez mais elevados". Certo? Isto porque quanto às renováveis o trajecto da tecnologia é inverso, tornando-se cada vez mais barata, para além do recurso em si ser gratuito (ondas, vento, sol, por exemplo).

(nota 1: na linguagem da área diz-se energia hídrica.
nota 2: cogeração não é fonte de energia primária, mas sim um sistema de produção de electricidade com 2 ciclos termodinâmicos (por exemplo produzindo electricidade com gás natural (o mais comum) sendo o calor residual desse processo aproveitado para produção de vapor, que por sua vez é usado para gerar electricidade adicional).

J. Cadima Ribeiro disse...

«Caro professor Cadima,
Não sei o que estou a fazer de errado. Desta vez tive o cuidado de simular o comentário, colocar o nome, etc.
Sendo assim, agradeço, caso o entenda, que publique o seguinte comentário:

"Obviamente que tenho de concordar com o comentário da professora Rita Sousa. São duas palavras que fazem muita diferença. De facto, e como escrevo no artigo, a exploração das energias alternativas não implica a diminuição dos recursos respectivos e como tal não são recursos escassos. Recursos escassos são as energias de origem fóssil como, por exemplo, o petróleo e o carvão.

Relativamente às notas, embora concordando com elas, queria acrescentar que nas fontes que utilizei para a realização do trabalho, os autores usam os dois termos: hidráulica e hídrica, embora predomine o termo hídrica.

Quanto à cogeração, efectivamente, devia ter colocado uma nota adicional no trabalho.

Embora não sendo uma fonte energética primária, porque é o resultado de um processo simultâneo de energia térmica e mecânica tendo origem num único combustível, os sistemas de cogeração tem a vantagem de um aproveitamento útil da energia primária (por exemplo, de recursos renováveis, gás natural, fuel, etc.) superior a 80% e, nesse sentido, quando falamos de eficiência energética a cogeração é uma referência. Existe consenso quanto aos benefícios ambientais e energéticos da cogeração. Eles são de tal forma evidentes que a União Europeia tem vindo a incentivar políticas que aumentem a percentagem de energia eléctrica produzida por esta via.

Concorda?"


Cumprimentos,

Sérgio Monteiro»