quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Do Desemprego, barreiras psicológicas e as Gerações futuras

Portugal, à semelhança de todo o Mundo vive um profundo momento de crise económica resultante da crise financeira que rebentou a nível Mundial em finais de 2008. Desde esse momento que os indicadores mais importantes da nossa economia se têm previsivelmente deteriorado. Dentro destes, o desemprego é quem reúne as luzes da ribalta, pelos seus efeitos económicos e sociais no presente e futuro do país.
A este respeito foi anunciado ontem pelo Eurostat 1 que o desemprego em Portugal ultrapassou a barreira dos 10%, situando-se no findo mês de Outubro nos 10,2%. Os dois dígitos, que após revisão dos número, eram já uma realidade no mês de Setembro em Portugal vieram confirmar aquilo que se previa: a crise está aí e está para ficar. Este é também a maior taxa de desemprego registada em Portugal desde que são levantados dados estatísticos (1983) o que nos dá uma ideia bastante definida da situação económica portuguesa.
Comparativamente com os parceiros europeus, Portugal encontra-se também em pior situação, dado que a média da Zona Euro manteve-se nos 9,8%, ao mesmo tempo que na Europa a 27 registou uma taxa de 9.3%. Na Zona Euro o pódio, logo acima de Portugal, é dividido pela Eslováquia (12,2%), Irlanda (12,8%) e na liderança a vizinha Espanha (19,3%). No sentido inverso a Holanda regista uma taxa de 3,7%.
Este valor da taxa de desemprego em Portugal (10,2%), é no entanto tido como inferior àquele que na realidade existe, pois estes números não englobam a totalidade do emprego real 2. Neste sentido a situação deverá ser ainda mais grave.
Entre os constantes pedidos de auxílio de deputados e sindicatos, às Pequenas e Médias Empresas, e os constantes apoios às Grandes Empresas por parte do Estado, fica a ideia que existe uma desconexão entre aquilo que o país necessita e aquilo que o Estado tem fornecido. Este bloqueio entre a necessidade e a oferta está aparentemente visível aos olhos de todos excepto do Estado e dos óbvios responsáveis pelas construtoras nacionais que são inexcedíveis nos conselhos/avisos/ameaças sobre possíveis consequências de um STOP na política de investimento do Estado. Do outro lado da barricada, chovem agora críticas ao Modelo adoptado pelo Estado na anterior legislatura que deu à Estradas de Portugal (EP) a concessão por 75 anos das novas estradas e o qual tem sido fustigado pelos vetos consecutivos do Tribunal de Contas, que por estes dias tenta fazer ver a quem de direito que este modelo não trará nada de bom ao País no seu todo.
A definição de prioridades (claramente deformada por exemplo no projecto de uma terceira ligação Porto-Lisboa) e a preocupação pelos encargos que as gerações futuras terão de suportar com os delírios actuais parecem ser as duas melhores armas para colocar um pouco de água na fervura do investimento público, descontrolado e desmesurado que este Governo de José Sócrates tem “inc€ntivado”.
O desemprego deve ser combatido, mas não à custa do futuro, nem pelas pressões de grandes empresas. Deve-se isso sim, auxiliar quem na realidade mantém este país a andar (ou a cambalear) que são as Pequenas e Médias Empresas e para isto nem são precisos os “grandes pacotes de incentivos” de que tanto se fala. Pequenas medidas específicas dariam um novo fôlego a quem diariamente luta contra a falência, sem a propaganda actual e com efeitos visíveis. Uma dessas medidas poderia ser o pagamento do IVA contra-recibo ao invés do método contra-factura actualmente utilizado. Ou então e ainda mais simples, que o Estado não demorasse entre 12 a 24 meses a devolver o IVA às empresas que têm que pagar aquilo que ainda não receberam e depois mendigar ao Estado aquilo que é seu por direito e que é apenas uma pequena migalha no enorme bolo que Sócrates vai distribuindo por outras empresas especificamente seleccionadas.

Luis Fernandes

1) http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/3-01122009-AP/EN/3-01122009-AP-EN.PDF (170/2009 - 1 December 2009)
2) http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1435901

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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