segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Empreendedorismo criativo: um novo desafio para as cidades

Ao longo dos últimos anos o fenómeno do empreendedorismo tem assumido uma nova dinâmica, tanto na Europa como em Portugal. Segundo um estudo publicado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o empreendedorismo em Portugal no período de 2004 a 2007, foram criadas 167 473 novas empresas em Portugal no ano de 2007, com o sector dos serviços a apresentar um maior dinamismo empresarial. No entanto, é no sector da Indústria que se verifica a maior taxa de sobrevivência após o 1º ano. No contexto da União Europeia, em 2006, Portugal ocupou os primeiros lugares, no âmbito da actividade empresarial, apresentado a terceira maior taxa de natalidade no conjunto dos 16 países com informação disponível. Os lugares cimeiros foram ocupados pela Estónia e Roménia.
Actualmente, assiste-se à emergência de um novo conceito de empreendedorismo associado à criatividade. A criatividade pode ser entendida como a capacidade de produção que se manifesta pela originalidade e capacidade de ver o que todos os outros vêem, mas pensar de modo diferente.
Em Março de 2000, na Estratégia de Lisboa foi criado o compromisso europeu de tornar a União Europeia mais competitiva e dinâmica baseada no conhecimento. Em 2004, o Conselho da Europa reconheceu a criatividade como motor de desenvolvimento social e económico sustentável, na medida em que é capaz de criar riqueza e emprego, promover mudanças tecnológicas e inovação empresarial e, por fim, reforçar a competitividade das cidades, regiões e países. Deste modo, a criatividade está presente nas principais agendas políticas nacionais e internacionais e, actualmente, estão a ser desenvolvidas políticas públicas de incentivo à criação de indústrias criativas.
De acordo com o Department of Culture, Media and Sport (DCMS), desenvolvido no Reino Unido em 1997 pelo governo de Tony Blair, as indústrias criativas têm por base o talento dos indivíduos que, juntamente com os gestores de recursos económicos e tecnológicos, criam outputs cujo valor económico deriva das propriedades culturais e intelectuais, a criatividade é o input mais importante neste processo produtivo.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) as indústrias criativas, no seu conjunto, contribuem com mais de 7% da produção mundial e prevê-se que nos próximos anos o seu crescimento ascenda a uma taxa média de 10%.
Este sector é um sector de liderança em vários países destacando-se o Reino Unido como melhor exemplo a nível internacional da implementação de estratégias de desenvolvimento assentes nas indústrias criativas. Dados apontam que estas indústrias criaram no país cerca de 1.9 milhões de postos de trabalho em 121 000 empreendimentos e geraram 8% do valor nacional bruto.
Recentemente, Portugal demonstrou interesse nesta nova tendência em que a criatividade se sobrepõe à industrialização. No panorama nacional, destaca-se a cidade de Óbidos que integra o programa European Programme for Urban Sustainable Development (URBACT), cujo objectivo principal consiste na dinamização de regiões mais pequenas, impulsionando a sua economia através da promoção de indústrias criativas. O Município de Óbidos criou uma estratégia de desenvolvimento assente em áreas relacionadas com a criatividade, como por exemplo a produção de conteúdos, cenografia, animação, música, design gráfico, marketing e publicidade, multimédia, criação artística e pesquisa cultural. Todos os eventos têm o propósito de atrair a visita à vila histórica e, deste modo, promover a economia local.
Na Região Norte do país estão a ser implementados planos de incentivo ao empreendedorismo criativo nas várias cidades que a constituem. A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte (CCDR-N) considerou que o desenvolvimento de indústrias criativas permitirá a requalificação desta região, uma vez que, reúne condições favoráveis à implementação deste sector, como por exemplo, maior percentagem de população jovem do país, existência de pólos de ensino universitário que constituem uma fonte de capital qualificado, presença de centros de pesquisa e investigação, existência de museus, galerias e programação cultural diversificada.
A dinâmica das indústrias criativas numa cidade proporciona o aumento do emprego, das receitas, do consumo local e, por outro lado, atrai o turismo e impulsiona o desenvolvimento económico do próprio país.
É visível que na actual era de globalização a competitividade entre cidades aumenta em detrimento da competitividade entre países. Como tal, para que um país alcance um desenvolvimento sustentável deve reunir um conjunto de cidades competitivas entre si e entre cidades de outros países. Deste modo, a promoção do empreendedorismo assente em indústrias criativas deve ser incentivado por políticas governamentais, sobretudo de âmbito local.

Vanessa Correia da Cruz

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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