Empreendedorismo é uma palavra relativamente recente no nosso vocabulário mas que, no entanto, começa a ganhar cada vez maior relevo no panorama nacional e internacional. Como consequência deste aumento de popularidade surge a visão partilhada por diversos líderes mundiais de que esta capacidade empreendedora poderá ser parte da resposta para uma crise financeira que, para além de muito rapidamente ter estendido as suas consequências à economia real, veio também expor os principais problemas estruturais de algumas economias como a portuguesa. Não é por acaso que documentos da Comissão Europeia e de outras instituições como a Kauffmark Foundations e a Make your Market, responsáveis pela criação da Semana Global do Empreendedorismo em cerca de 75 países, incluindo Portugal, reforçam a ideia de promover esta vertente empreendedora num contexto em que a competitividade, a inovação (problemas estruturais da nossa economia) e o emprego (problema resultante da propagação da crise financeira à economia real) deverão ser preocupações estratégicas e políticas.
Em resultado desta crescente importância, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) lançou há poucos meses a primeira publicação sobre a dinâmica empreendedora em Portugal no período 2004-2007 denominado «Demografia das Empresas». A leitura que se faz toma como indicadores os nascimentos, mortes e sobrevivência de empresas e ainda indicadores relativos às empresas de elevado crescimento, ensaiando-se a partir daí uma comparação internacional que permite enquadrar a actividade empreendedora portuguesa no contexto europeu.
Segundo o documento, o dinamismo empreendedor é ainda limitado uma vez que ao grande número de empresas antigas, menos eficientes mas com maior número de trabalhadores, a cessar actividades não havia uma correspondência proporcional de nascimento de projectos empreendedores. Esta situação apesar de evidente nos congéneres europeus era mais acentuada em Portugal que, em 2006, apresentava um saldo líquido de nascimentos de empresas negativo (-0,6%) muito devido ao facto de possuir a maior taxa de mortalidade de empresas da Europa (14,8%), pois a taxa de nascimentos de empresas era também relativamente elevada (terceira maior europeia com 14,2%). Além disso, este estudo permite concluir que é nos dois primeiros anos que as empresas portuguesas enfrentam as maiores dificuldades de permanência no mercado (cerca de 50% não sobrevivem durante este período) o que faz levantar algumas interrogações quanto à qualidade dos apoios e condições que lhes são fornecidas.
No contexto de crise que se vive, as condições supramencionadas, já de si negativas, estão a sofrer uma rápida deterioração o que traz graves consequências, designadamente ao nível do desemprego. Esta situação urge pela intervenção do Estado, não apenas para tentar “cortar a corda” que sufoca muitas das empresas portuguesas, factor essencial para manter a estabilidade no curto prazo, mas essencialmente para promover a capacidade empreendedora. Tal capacidade, além de permitir a criação de empregos, favorecerá também a substituição das empresas ineficientes, destinadas a mais tarde ou mais cedo sufocarem, por empresas caracteristicamente inovadoras e orientadas desde a génese para serem competitivas. Neste sentido, o Estado tem vindo a fazer um esforço por incentivar o uso de capital de risco para encorajar os empreendedores, mas, na actual conjuntura, após diversos problemas relacionas com a gestão destes tipos de capital outros factores ganham um maior relevo, tal como a criação de um ambiente que propicie a criatividade, formação que permita a transformação das criações que daí advêm em ideias de negócio e acima de tudo condições que permitam a sobrevivência desses negócios nos primeiros anos de vida. Como tal, importa, para que as novas empresas possam surgir, fomentar a investigação nas universidades e nas empresas, incutir o espírito empresarial nos investigadores e outros “inovadores” e desburocratizar ainda mais os processos para a criação de empresas. Por fim, após estas condições estarem satisfeitas, para que os negócios possam sobreviver, é urgente aumentar o grau de liberdade económica do nosso país diminuindo, por exemplo, a carga fiscal sobre as PME em especial nos dois primeiros anos de actividade.
Neste sentido e segundo um inquérito sobre os Factores de Sucesso das Iniciativas Empresariais realizado em 2007 pelo INE, que revela nos portugueses um grande desejo de inovar e criar o seu próprio emprego, resta salientar que a responsabilidade de transformar o empreendedorismo na peça-chave do crescimento e desenvolvimento económico do país, não recai sobre a população portuguesa mas sim, e apenas, sobre os ombros do Estado.
Nuno Fernandes
Em resultado desta crescente importância, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) lançou há poucos meses a primeira publicação sobre a dinâmica empreendedora em Portugal no período 2004-2007 denominado «Demografia das Empresas». A leitura que se faz toma como indicadores os nascimentos, mortes e sobrevivência de empresas e ainda indicadores relativos às empresas de elevado crescimento, ensaiando-se a partir daí uma comparação internacional que permite enquadrar a actividade empreendedora portuguesa no contexto europeu.
Segundo o documento, o dinamismo empreendedor é ainda limitado uma vez que ao grande número de empresas antigas, menos eficientes mas com maior número de trabalhadores, a cessar actividades não havia uma correspondência proporcional de nascimento de projectos empreendedores. Esta situação apesar de evidente nos congéneres europeus era mais acentuada em Portugal que, em 2006, apresentava um saldo líquido de nascimentos de empresas negativo (-0,6%) muito devido ao facto de possuir a maior taxa de mortalidade de empresas da Europa (14,8%), pois a taxa de nascimentos de empresas era também relativamente elevada (terceira maior europeia com 14,2%). Além disso, este estudo permite concluir que é nos dois primeiros anos que as empresas portuguesas enfrentam as maiores dificuldades de permanência no mercado (cerca de 50% não sobrevivem durante este período) o que faz levantar algumas interrogações quanto à qualidade dos apoios e condições que lhes são fornecidas.
No contexto de crise que se vive, as condições supramencionadas, já de si negativas, estão a sofrer uma rápida deterioração o que traz graves consequências, designadamente ao nível do desemprego. Esta situação urge pela intervenção do Estado, não apenas para tentar “cortar a corda” que sufoca muitas das empresas portuguesas, factor essencial para manter a estabilidade no curto prazo, mas essencialmente para promover a capacidade empreendedora. Tal capacidade, além de permitir a criação de empregos, favorecerá também a substituição das empresas ineficientes, destinadas a mais tarde ou mais cedo sufocarem, por empresas caracteristicamente inovadoras e orientadas desde a génese para serem competitivas. Neste sentido, o Estado tem vindo a fazer um esforço por incentivar o uso de capital de risco para encorajar os empreendedores, mas, na actual conjuntura, após diversos problemas relacionas com a gestão destes tipos de capital outros factores ganham um maior relevo, tal como a criação de um ambiente que propicie a criatividade, formação que permita a transformação das criações que daí advêm em ideias de negócio e acima de tudo condições que permitam a sobrevivência desses negócios nos primeiros anos de vida. Como tal, importa, para que as novas empresas possam surgir, fomentar a investigação nas universidades e nas empresas, incutir o espírito empresarial nos investigadores e outros “inovadores” e desburocratizar ainda mais os processos para a criação de empresas. Por fim, após estas condições estarem satisfeitas, para que os negócios possam sobreviver, é urgente aumentar o grau de liberdade económica do nosso país diminuindo, por exemplo, a carga fiscal sobre as PME em especial nos dois primeiros anos de actividade.
Neste sentido e segundo um inquérito sobre os Factores de Sucesso das Iniciativas Empresariais realizado em 2007 pelo INE, que revela nos portugueses um grande desejo de inovar e criar o seu próprio emprego, resta salientar que a responsabilidade de transformar o empreendedorismo na peça-chave do crescimento e desenvolvimento económico do país, não recai sobre a população portuguesa mas sim, e apenas, sobre os ombros do Estado.
Nuno Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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