Em semana comemorativa do dia mundial da poupança (31 de Outubro),
nada melhor do que analisar como andam as poupanças das famílias portuguesas.
Com todos os problemas que o país tem atravessado, é fácil de
antever que as poupanças das famílias portuguesas já tiveram dias melhores. Podemos
comprovar esta afirmação através da análise do primeiro trimestre do presente
ano, no qual observamos algo nunca visto na economia portuguesa: a poupança das
famílias foi negativa no primeiro trimestre de 2016, um caso inédito, quer nas
novas contas nacionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), que recuam
até ao primeiro trimestre de 1999, quer nas séries longas do Banco de Portugal
(BP), que recuam até 1977.
Os
portugueses estão a poupar cada vez menos. A tendência de queda começou com a
entrada no euro e só foi interrompida nos anos de crise.
Portugal
chegou ao final de 2015 com uma taxa de poupança a rondar os 4,2% do rendimento
disponível, o que corresponde a um mínimo histórico. Este valor é três vezes
inferior à média da zona euro (12,5%) e traduz uma queda acentuada face aos
11,4% registados em 1999. Traduzindo em valores, isto significa que no início
do euro os portugueses pouparam cerca de 9,7 mil milhões de euros e que no ano
passado o valor guardado rondou os 5 mil milhões de euros.
Podemos
observar então que, de forma geral, a entrada no euro fez cair de forma mais
acentuada a poupança dos portugueses do que a de outros povos parceiros da
moeda única. Este facto leva-nos a perguntar o porquê disto ter acontecido. O
acesso mais fácil a crédito a preços mais baixos e taxas de juro mais
constantes podem ser a resposta. Esta situação acarretou uma subida do nível de
endividamento, o que também viria a ter repercussões na capacidade de poupar.
A queda no
nível de poupança conheceu, como já referi anteriormente, um breve intervalo em
2011 e 2012, quando a crise se agudizou e Portugal se viu obrigado a pedir
ajuda financeira. O aperto no acesso ao crédito que então se verificou e o
pessimismo nas expectativas (em termos de emprego e de rendimento) levou as
famílias a travar a fundo no consumo e a adiar intenções de compra.
Afinal, a
preocupação para fazer face a problemas no futuro é o principal motivo para as
famílias pouparem e é transversal aos mais ricos e aos mais pobres. Este
pessimismo começou a desvanecer-se em 2013, o que ajuda a explicar a forte
subida no consumo de bens duradouros que se verificou na reta final de 2014 e
ainda em 2015.
Será que
estamos, então, perante um beco sem saída?
Se olharmos
para o atual contexto de taxas de juro muito baixas, podemos dizer que sim, uma
vez que este facto não ajudará a incentivar a poupança e isso é um problema
grave para o nosso pequeno país.
Mas este
problema ganhou uma nova dimensão. Isto porque se olharmos para os dados
relativos ao primeiro trimestre de 2016 vemos que, de acordo com as
estatísticas do INE, a questão já não está no facto dos portugueses pouparem
cada vez menos, muito pouco quando comparados com os parceiros do euro. A
questão agora é que a poupança não só desapareceu como é negativa, uma vez que
as despesas de consumo final das famílias e das instituições sem fins
lucrativos ao serviço das famílias excederam, pela primeira vez, o chamado
rendimento disponível para gastar ou poupar. E isto sim é um motivo de grande
preocupação para a economia portuguesa, aflita em financiar o investimento e em
garantir a sustentabilidade da dívida.
Rita
de Fátima da Silva Pereira
[artigo de
opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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