Neste artigo pretendo
fazer uma reflexão crítica acerca dos baixos salários praticados em Portugal e
nos países mais desenvolvidos, sendo justificados com as condições atuais da
Economia. Com esta dissertação procuro, ainda, relacionar a questão dos baixos
salários com a propalada crise económica e ainda desta com a possível crise de
valores ético-políticos que enfermam as sociedades hodiernas e economicamente
mais desenvolvidas.
Começo por apresentar a noção de crise do seguinte modo: “Uma
crise é uma mudança brusca ou uma alteração importante no desenvolvimento de um
qualquer evento/acontecimento. Essas alterações podem ser físicas ou
simbólicas. Crise também é uma situação complicada ou de escassez”. Sendo assim,
a crise económica, tão badalada nos nossos dias, corresponde a alteração
importante no desenvolvimento socioeconómico ou a uma situação complicada ou de
escassez monetária?
Parece-me
muito mais a primeira hipótese, pois, nada me sugere que estejamos perante uma
perda de valores meramente monetários. Mais, julgo não cometer nenhuma
insensatez se afirmar que nunca como hoje houve tanto dinheiro à disposição do
homem. Se, como penso, nunca como na atualidade houve tanto valor monetário
disponível como é que assistimos à necessidade de constantemente baixarmos os
salários? Como é que o tecido empresarial, acolitado pelo poder político
pretende assim justificar a necessidade de baixar salários e concomitantemente
aumentar o número de horas da jornada de trabalho, bem como oferecer empregos
cada vez mais precários? Como é que em
sociedades ditas desenvolvidas se fala, continuamente, em milhares de milhões e
conjuntamente se procura a exploração de mão-de-obra barata? É evidente que
tudo isto, parece-me contraditoriamente absurdo, à luz de uma valoração
estritamente monetário-material. Daí pensar que esta apregoada crise não é,
meramente, uma crise de falta de dinheiro, mas sim uma crise do que “fazer” com
esse mesmo dinheiro.
Por este facto, julgo que a crise económica é muito mais que
uma crise monetária, ou uma carência do valor económico, daí afirmar no início
deste texto que assistimos neste momento a uma fase acelerada de alterações das
condições de vida das populações, assentes num ideário político/económico que
nada de bom augura para a dignificação da pessoa humana. E digo nada de bom
pois parece-me indigno e abusivo que à luz de uma suposta carência económica se
explore seres humanos e, apar desta exploração, se assista à construção de
verdadeiros impérios económicos por parte de um grupo minoritário de indivíduos
sem escrúpulos e que, devidamente protegidos pelo poder político, amealham
riquezas infindáveis.
Este
facto assenta ainda na crescente promiscuidade entre o poder político e o poder
económico, pois estamos numa fase em que quase não conseguimos distinguir onde
começa um e termina o outro, e vice-versa. Apetece-me aqui citar aquilo que o
grande filósofo grego da antiguidade, Aristóteles, afirmou quando disse que o
poder político devia regular e sobrepor-se ao poder económico, pois na sua
opinião quando o poder económico se sobrepõe ao poder politico o Homem cai na
degradação da sua vida social, e a felicidade, que tanto o Homem procura só é
possível de encontrar numa sociedade justa.
Apoiado
nesta ambição desmedida de acumulação de riquezas de uma forma indigna e
indiscriminada, na minha visão, a verdadeira crise das nossas sociedades é
muito mais uma crise de valores do que uma crise económica. Deste modo,
sustento que a situação económica do mundo desenvolvido é acima de tudo uma crise
ético-moral, assente na ganância, na avareza e na falta de qualquer espírito de
solidariedade e, acima de tudo, de subsidiariedade. E para fazer face a esta
situação, aquele que deveria ser o garante do bem comum, o Estado, o que tem
feito? Assiste impávido e sereno e ainda, de uma forma gravosa, serve de base
de sustentação destas indignidades.
Daí concluir que estas políticas de baixos salários apoiadas
numa suposta crise económica (por muitos apelidada de sem paralelo) não passa
de uma alteração valorativa, onde a perspetiva de Thomas Hobbes (matemático,
teórico político e filosofo inglês do sec. XVII), acerca da natureza humana, se
encontra na base de sustentação desta política neoliberal, quando afirma “homo
homini lupus” (o Homem lobo do Homem).
Pedro Eduardo Gonçalves Oliveira
Fontes:
WOLFF, Francis. Aristóteles e a política.
São Paulo: Discurso Editorial, 1999
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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