quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Um retrato da emigração em Portugal

A emigração tem sido um assunto bastante falado nos dias de hoje, uma vez que problemas como a estagnação na criação de empregos, as perspetivas pouco otimistas de progressão, os salários, a precariedade e a situação de crise com que nos deparamos tornam-se fatores que motivam as pessoas a emigrar.
         Segundo o Banco Mundial, estima-se que haverá no mundo cerca de 2,3 milhões de emigrantes portugueses, ou seja, pessoas que nasceram em Portugal e residem no estrangeiro há mais de um ano, o que corresponde a mais de 20% da população portuguesa. Estes deslocam-se maioritariamente para o Reino Unido (31 mil em 2014), para a Suíça (20 mil em 2013), para a França (18 mil em 2012) e para a Alemanha (10 mil em 2014). Fora da Europa, os principais países de destino integram a comunidade dos países de língua portuguesa, como é o caso de Angola (5 mil em 2014, 6º país de destino), Moçambique (4 mil em 2013, 9º país de destino) e Brasil (2 mil em 2014, 11º país de destino).
         O Instituto Nacional de Estatística apurou que 66% dos emigrantes permanentes eram homens, 94% estavam em idade ativa, 43% tinham como nível de escolaridade o 9º ano e 30% possuíam o ensino superior. Relativamente aos emigrantes temporários, 22% têm formação universitária. Em ambos os casos, os países escolhidos para emigrar correspondem mais de metade a países pertencentes à União Europeia.
         Os dados acima apresentados não parecem muito favoráveis, uma vez que, infelizmente, para além de outras razões, a quantidade de indivíduos que detêm o ensino superior e se veem obrigados a deixar o seu país ainda é bastante elevada. Mas, ao que parece, o último ano registou algumas melhorias, dado que, de acordo com o que foi exposto pelo INE, a emigração em 2015 diminuiu em 18,5% face a 2014. Destes dados, é também de salientar que em 2015 saíram de Portugal um total de 101.203 emigrantes, sendo que destes 40.377 fizeram-no para residir e trabalhar no estrangeiro por pelo menos um ano (emigrantes permanentes) e 60.826 por mais de três meses e menos de um ano (emigrantes temporários). Esta diminuição pode ser explicada por fatores como a mudança das condições económicas de países como Angola e Brasil, o "Brexit" do Reino Unido e o referendo de 2014 que fez com que os suíços afirmassem que queriam que fossem impostos limites à entrada de estrangeiros no seu país.
         De facto, estes resultados fazem acreditar que existe esperança em relação à diminuição da emigração, e, quando nos debruçamos sobre as características dos que se deslocam para o nosso país, concluímos que dos 29.896 imigrantes, 43% nasceram em Portugal e 50% tinham nacionalidade portuguesa, o que evidencia o retorno daqueles que anteriormente tiveram que abandonar o seu país por algum motivo.
Contudo, apesar do decréscimo no número de emigrantes e do aumento do número de imigrantes (em 53,2% face a 2014), a fração de imigrantes contínua inferior à de emigrantes, o que faz com que o saldo migratório, que corresponde à diferença entre o número de entradas e saídas por migração para um determinado país ou região, num dado período de tempo, ainda se encontre em valores negativos.
         Assim, para que não se assista ao que aconteceu nos anos 60, em que fugiram das aldeias os melhores por não se quererem acomodar a uma vida instável e precária, é fundamental tomar medidas de maneira a que pessoas do nosso país com excelentes capacidades e aptidões para as mais diversas áreas não vão para o exterior. É por isso uma questão de ordem aumentar as oportunidades para que pessoas em idade ativa vejam em Portugal viabilidade para crescerem e não tenham uma visão de um país em que o conformismo com uma vida de dependência, sem rumo e sem dignidade sejam uma realidade que ainda não foi ultrapassada.
Em suma, é necessário impedir o prolongamento deste fluxo emigratório pois pode comprometer a criação de condições para a renovação da estrutura económica da nação.

Deolinda Cristina Sampaio Dias

Fonte:
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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