Ao longo dos últimos anos tem-se verificado o rápido crescimento do
endividamento das famílias nas economias ocidentais. Portugal seguiu também
essa tendência e foi um dos países que registou um crescimento mais acentuado. Os
níveis de endividamento passaram de pouco mais de 18%, em 1990, para 130% do
rendimento disponível em 2007.
O forte crescimento do endividamento dos particulares refletiu o
ajustamento do comportamento das famílias e das instituições de crédito às
alterações ocorridas tanto do lado da oferta como do lado da procura. Do lado
da oferta, a liberalização e a desregulamentação do sistema bancário português,
e o consequente aumento da concorrência no mercado de crédito, levaram as
instituições financeiras a apostar no segmento do crédito a particulares. Do
lado da procura, a alteração dos hábitos de consumo, a acentuada quebra nas
taxas de juros nominais e reais, o aumento do rendimento disponível e a
contenção do desemprego estimularam, por sua vez, a procura de crédito por
parte dos indivíduos.
Com a facilidade de acesso ao crédito, as famílias viram na contração de
empréstimos uma oportunidade de fazer face às suas necessidades. Esta
antecipação de rendimentos proporcionada pelo crédito ajudava o consumo de determinados
produtos que de outra forma demoravam bastante tempo para adquirir, como é o
caso da compra da habitação ou da compra de automóvel.
Apesar de o endividamento poder ser uma oportunidade para os indivíduos
adquirirem bens no imediato, é importante que façam uma gestão adequada das suas
dívidas para evitar possíveis situações de incumprimento.
Assim, o endividamento torna-se
um problema quando o devedor não consegue saldar as suas dívidas em tempo útil.
Esta incapacidade de honrar os seus compromissos é motivada frequentemente pela
má gestão de recursos, ausência de educação financeira e maus investimentos,
doença prolongada, divórcio e, principalmente, pelo desemprego e deterioração
das condições de trabalho.
A crise económica que se fez sentir em Portugal, o constante aumento do
desemprego, da carga fiscal e da instabilidade política, económica e social, fez
disparar o nível de incumprimento dos compromissos dos particulares. Muitas
vezes, para não deixarem de pagar as suas prestações, os indivíduos voltam a
recorrer novamente ao crédito, acabando por entrar num ciclo vicioso do qual não
conseguem sair.
A rutura financeira das famílias apresenta consequências muito graves
para a qualidade e sustentabilidade da vida familiar e para o desempenho
económico e social dos indivíduos e da própria sociedade. O
sobre-endividamento tem também implicações importantes a nível social e
psicológico, nomeadamente a marginalização e a exclusão social, os problemas
psíquicos, o alcoolismo, a dissolução das famílias e as perturbações da saúde
física e mental dos filhos das famílias sobreendividadas.
Com o aumento das famílias incapazes de cumprir os seus compromissos
financeiros e com o receio de um eventual corte nos seus rendimentos futuros, verifica-se
uma diminuição das despesas de consumo privado, especialmente de bens
duradouros. Esta redução do consumo,
aliada às crescentes taxas de desemprego, diminuição do rendimento disponível e
ao próprio endividamento do país, não permite que haja crescimento económico.
Francisca Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário