Dia 23 de junho 2016: um dia decisivo no qual o povo inglês,
através de referendo, exprimiu a sua vontade quanto à saída ou permanência na
União Europeia. As questões que se colocam são: o que levou ao
primeiro-ministro da altura, David Cameron, a tomar tal decisão? Interesses
políticos? Socioeconómicos? Será que o Reino Unido fez alguma vez parte da
subjetiva “União Europeia”? O que estimulou o Brexit?
Pelas sondagens, tudo previa que haveria um empate técnico. Contudo,
as instituições financeiras e, mesmo a EU, acreditavam na permanência. Os
resultados começaram a ser divulgados a partir da 00h301. O Leave ganhava.
No decorrer das horas, os resultados apontavam para um
empate até que às 4h30, aproximadamente, o Brexit
ganhava cada vez mais terreno. Os mercados financeiros assustaram-se, e a libra
esterlina afunda-se.
7h da manhã: fim do apuramento dos resultados e com ele a
expressão de vontade do povo britânico: sair da EU, a 51,9%2,
levando assim a nação a recorrer ao artigo 50 do Tratado de Lisboa3.
Agitação mediática! O Primeiro-ministro despede-se, os Comissários Europeus
lamentam os resultados. Perguntas são colocadas para o ar: “Será o fim da União
Europeia?”; “Uma nova construção Europeia será necessária”. Um resultado que, para
além de exibir o euroceticismo da sociedade inglesa, revela uma fratura
ideológica no seio do povo.
Mas o que motivou o povo britânico a votar pela saída,
quando 90% das instituições apoiavam a permanência? Aos olhos do Reino Unido, ser
um estado-membro limita a sua influência como nação independente na Organização
Mundial do Comércio, bem como na tomada de decisões a nível mundial. Relativamente
à soberania, estes vêem toda a vantagem em controlar a sua legislação e regulamentação,
evitando assim o risco de verem impostas políticas da Comissão Europeia contrárias
aos seus princípios estratégicos, sendo que, no passado, já se tinham oposto ao
Tratado de Schengen e à moeda única, e instauraram quotas à migração.
Do mesmo modo, acreditam que uma estrutura nacional poderá,
de melhor forma, aumentar o controlo as suas fronteiras, melhorando assim a
segurança, permitindo uma imigração mais seletiva, que poderá ter um “efeito
positivo” no mercado de trabalho britânico. Credenciam que, o facto de
pertencerem a União, não os ajudou de forma mais favorável no desenvolvimento
do comércio externo, com alguns países, tais como: Japão, India ou Emirados
Árabes Unidos. Queixam-se da burocracia lenta e inflexível de Bruxelas,
representando assim um travão para as micro e médias empresas mais inovadoras
do país.
Pela mesma razão, o povo britânico é contra o contributo
anual de milhões de libras esterlinas de cotizações de adesão à UE, e ainda à contribuição
para as subvenções agrícolas (PAC4) - políticas essas que foram
excessivamente criticadas pelo governo da altura, levando a 1ª Ministra da
Grã-Bretanha, Margaret Thatcher, a reclamar “I want my money back”5. Foram também contra os planos de
ajuda à Grécia e o acolhimento de refugiados.
Contudo, a UE fornece milhões de libras esterlinas em
investimento todos os anos, permitiu o desenvolvimento comercial entre
parceiros europeus e a uma diminuição nos preços de vários bens. Além disso:
poderemos excluir esta nação das nossas alianças comerciais?
Em suma, a depreciação da libra beneficiou alguns sectores,
tais como o turismo e as manufaturas, e prejudicou multinacionais, que viram acontecer
uma diminuição nas suas receitas. O importante será respeitar a vontade do
povo, construir um novo caminho, dentro ou fora, mas juntos.
Octávio David Carvalho Rodrigues
1 fuso horário do Reino Unido-Portugal
2 17 410 742 votos a favor do Brexit, corresponde a aproximadamente mais 1 milhão do que o Leave
3 Tratado de Lisboa Artigo 50º 1. Qualquer Estado-Membro pode
decidir, em conformidade com as respetivas normas constitucionais, retirar-se
da União.
4 Política Agrícola Comum
5 “Quero que devolvem me o meu dinheiro”
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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