O
turismo de massas é uma realidade em todo o planeta. Como tal, Portugal não
foge à regra. Trata-se de um setor que cria postos de trabalho e gera riqueza,
mas há quem defenda que os atuais modelos estão a prejudicar as cidades e a provocar
alterações nos encantos que atraem milhões de visitantes.
A
democratização dos preços dos bilhetes de avião levou a que viajar já não seja
um sonho apenas ao alcance de uma minoria. Só no ano de 2015, segundo o Turismo
de Portugal, o país obteve receitas no valor de 11,4 mil milhões de euros
provenientes deste setor. A
Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, referiu que este setor,
que representa 15,3% das exportações do País, tem 8,2% da população portuguesa
a trabalhar nele. Posto isto, é de
fácil compreensão que o turismo seja um sector de grande importância para o
nosso país.
Graças
a este “boom” de entradas de viajantes nos últimos anos, há quem afirme que,
por vezes, em Lisboa e no Porto, mais que visitar as cidades, os turistas
acabam por se encontrarem uns aos outros, pelo que devem ser impostos limites a
esta realidade.
Só
no Porto, até setembro de 2015, o número de dormidas de estrangeiros ascendeu a
373 mil, e Lisboa segue o mesmo padrão. A fisionomia de ambas as cidades tem,
por isso, vindo a alterar-se: o comércio tradicional converteu-se em comércio
de lazer, apostando num consumo emocional, e muitas das habitações foram
transformadas em alojamento de curta duração para pernoita de turistas. Por
outro lado, surgiram novos negócios. Um dos mais lucrativos tem sido aquele que
aparece associado à atividade da Airbnb,
uma empresa sedeada em São Francisco que serve de intermediária entre os
espaços de arrendamento e o viajante.
As
consequências têm sido desastrosas para quem pretende morar no centro das
cidades, pois tem dado aso a um fenómeno de inflação do preço dos apartamentos.
No Porto, já existem associações de defesa do direito dos locais a morar no centro,
já que é uma zona que está prestes a ficar deserta de portugueses, que em
várias ruas já só conseguem arrendar os apartamentos com vista para a rua.
Aqueles de onde se pode admirar o Douro têm sido comprados e recuperados para
alojar turistas. O mesmo está a acontecer em Lisboa.
Perante
todo este cenário, surgem-me algumas preocupações com a pressão que a
actividade turística tem vindo a exercer sobre o centro histórico das cidades.
A meu ver, são necessários alguns compromissos para com os portugueses locais
que vivem efetivamente no local durante grande parte da sua vida, ou até mesmo
durante a vida inteira. É essencial encontrar um equilíbrio que garanta uma
mistura saudável entre turistas, comércio local e população.
A
questão da “residencialidade” permanente e quotidiana dos habitantes requer
então uma grande preocupação. É importante referir que com tal preocupação não
pretendo ter alguma atitude xenófoba nem nada que se pareça. Os residentes
podem ser minhotos ou iraquianos, ou de qualquer outra parte do mundo. O que eu
acho importante mesmo é trabalhar para as pessoas que estão durante o ano todo
na cidade e a “sustentam” todos os dias. Defendo que devem ser tomadas medidas
políticas ao nível do turismo nacional para combater este inconveniente que o
turismo traz consigo.
Na
minha opinião, a solução passa por melhorar a distribuição dos benefícios do
turismo. Dado que o turismo urbano utiliza a cidade como principal
matéria-prima, então seria de bom grado económico e fiscal que uma parte
relevante dos benefícios do mesmo revertessem para a cidade e para a melhoria
da qualidade de vida dos seus habitantes. Não esquecer que os residentes
permanentes também devem ser tidos em conta, ou seja, prestar atenção à
qualidade de vida, empregos, dia-a-dia dos mesmos é indispensável. Investir em
transportes públicos e em mobilidade urbana, em escolas, espaços verdes, entre
outros, podem ser algumas das medidas a adotar, a meu ver.
Cátia Barbosa
[artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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