domingo, 13 de novembro de 2016

Turismo: fonte de perdas ou de riqueza?

O turismo de massas é uma realidade em todo o planeta. Como tal, Portugal não foge à regra. Trata-se de um setor que cria postos de trabalho e gera riqueza, mas há quem defenda que os atuais modelos estão a prejudicar as cidades e a provocar alterações nos encantos que atraem milhões de visitantes.
A democratização dos preços dos bilhetes de avião levou a que viajar já não seja um sonho apenas ao alcance de uma minoria. Só no ano de 2015, segundo o Turismo de Portugal, o país obteve receitas no valor de 11,4 mil milhões de euros provenientes deste setor. A Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, referiu que este setor, que representa 15,3% das exportações do País, tem 8,2% da população portuguesa a trabalhar nele. Posto isto, é de fácil compreensão que o turismo seja um sector de grande importância para o nosso país.
Graças a este “boom” de entradas de viajantes nos últimos anos, há quem afirme que, por vezes, em Lisboa e no Porto, mais que visitar as cidades, os turistas acabam por se encontrarem uns aos outros, pelo que devem ser impostos limites a esta realidade.
Só no Porto, até setembro de 2015, o número de dormidas de estrangeiros ascendeu a 373 mil, e Lisboa segue o mesmo padrão. A fisionomia de ambas as cidades tem, por isso, vindo a alterar-se: o comércio tradicional converteu-se em comércio de lazer, apostando num consumo emocional, e muitas das habitações foram transformadas em alojamento de curta duração para pernoita de turistas. Por outro lado, surgiram novos negócios. Um dos mais lucrativos tem sido aquele que aparece associado à atividade da  Airbnb, uma empresa sedeada em São Francisco que serve de intermediária entre os espaços de arrendamento e o viajante.
As consequências têm sido desastrosas para quem pretende morar no centro das cidades, pois tem dado aso a um fenómeno de inflação do preço dos apartamentos. No Porto, já existem associações de defesa do direito dos locais a morar no centro, já que é uma zona que está prestes a ficar deserta de portugueses, que em várias ruas já só conseguem arrendar os apartamentos com vista para a rua. Aqueles de onde se pode admirar o Douro têm sido comprados e recuperados para alojar turistas. O mesmo está a acontecer em Lisboa.
Perante todo este cenário, surgem-me algumas preocupações com a pressão que a actividade turística tem vindo a exercer sobre o centro histórico das cidades. A meu ver, são necessários alguns compromissos para com os portugueses locais que vivem efetivamente no local durante grande parte da sua vida, ou até mesmo durante a vida inteira. É essencial encontrar um equilíbrio que garanta uma mistura saudável entre turistas, comércio local e população.
A questão da “residencialidade” permanente e quotidiana dos habitantes requer então uma grande preocupação. É importante referir que com tal preocupação não pretendo ter alguma atitude xenófoba nem nada que se pareça. Os residentes podem ser minhotos ou iraquianos, ou de qualquer outra parte do mundo. O que eu acho importante mesmo é trabalhar para as pessoas que estão durante o ano todo na cidade e a “sustentam” todos os dias. Defendo que devem ser tomadas medidas políticas ao nível do turismo nacional para combater este inconveniente que o turismo traz consigo.
Na minha opinião, a solução passa por melhorar a distribuição dos benefícios do turismo. Dado que o turismo urbano utiliza a cidade como principal matéria-prima, então seria de bom grado económico e fiscal que uma parte relevante dos benefícios do mesmo revertessem para a cidade e para a melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Não esquecer que os residentes permanentes também devem ser tidos em conta, ou seja, prestar atenção à qualidade de vida, empregos, dia-a-dia dos mesmos é indispensável. Investir em transportes públicos e em mobilidade urbana, em escolas, espaços verdes, entre outros, podem ser algumas das medidas a adotar, a meu ver.

Cátia Barbosa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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