Quando falamos em indústria têxtil, relembra-nos logo os anos
80, tempo em que a têxtil era a mais importante indústria do país. Mas a abertura
do mercado europeu à China e a crise de 2008 provocaram um “desastre” no setor.
Passados uns 25 anos, cerca de duas mil empresas desapareceram do mapa do
setor, que se concentra principalmente nos distritos de Braga (51% das
empresas) e do Porto, deixando a paisagem do Vale do Ave marcada por enormes “edifícios-fantasma”
que recordam os anos de “glória” do setor. Contudo, o têxtil e o vestuário nacionais
deram a volta à situação e emergem como uma indústria avançada e competitiva.
São notórias as mudanças que se fizeram sentir neste setor ao
longo dos anos. Ainda antes de a Europa liberalizar por
completo as importações da China, o que aconteceria em 2005, a queda abrupta de
preços e redução dramática de encomendas deixou as empresas em estado de
choque. A primeira tentação foi baixar os preços para resistir o mais possível
ao “rolo compressor chinês” que, no prazo de uma década, aumentou a sua quota
no mercado mundial da têxtil de 10 para 33%.
Entre 2004 e 2012
verifica-se que este setor registou um declínio. A produção passou de 7215
milhões de euros para 4905 milhões de euros. Por conseguinte, o volume de
negócios passou de 7471 milhões de euros para 5774 milhões de euros. Para
agravar, o emprego decorrente deste sector passou de 201.064 para 127.976. A
crise em 2008 só veio acelerar este declínio. Em 2009 o valor das exportações
foi o mais baixo durante este período, com 3501 milhões de euros. O peso da
produção de fios, tecidos e vestuário no conjunto das exportações nacionais
passou de 30% nos primeiros anos da integração europeia para pouco mais de 10%.
Segundo um relatório
preparado para a Comissão Europeia – Empresas e Indústria, os principais
fatores que levaram a estas alterações no setor têxtil, neste período, foram
os mercados industriais e de consumo, a globalização, o conhecimento e a
mudança, a política e a regulação, e a crise financeira.
Depois dessa grande
crise, o setor demorou cerca de 5 anos a recuperar e a alterar o perfil da sua
estrutura produtiva. Desde 2011 que o setor ultrapassou a fasquia dos 4 mil
milhões de euros nas exportações, mas é em 2013 que se verifica um crescimento
sustentado, com o volume de negócios a ultrapassar os 6 mil milhões de euros.
Em 2015 o volume de
negócios chegou aos 6,8 mil milhões de euros, com perto de 80% da sua produção
orientada para as exportações (4,8 mil milhões de euros).
São boas notícias. O
setor têxtil está a ganhar cada vez mais terreno nas exportações, prevendo-se
que atinja este ano os 5 mil milhões de euros. E está a criar postos de
trabalho. Por este andar iremos conseguir atingir os objetivos estratégicos
pensados para 2020 (5 mil empresas, 100 mil trabalhadores, 5 mil milhões de
euros em exportações).
Não se chegará aos
níveis existentes na década de 90, quando começaram as grandes perdas de postos
de trabalho, mas houve um reajustamento, e também uma mudança de perfil do
trabalhador necessário. Hoje, o operário têxtil tem de se adaptar às mudanças
tecnológicas que se têm verificado.
Se em tempos o sector ficou
muito exposto à concorrência com base no preço e à saída de clientes para a
China, conseguiu mudar para uma produção baseada no acréscimo de valor pela
qualidade, diferenciação do produto e inovação tecnológica. As empresas que
resistiram estão mais capacitadas e mais sólidas. Mesmo que a subcontratação
(produção para outras marcas) continue a ser um pilar importante do setor, a
verdade é que ela já não assenta apenas no preço baixo. Os valores da produção
subiram, mas incorporou-se valor, serviços e design. Conseguiu-se, assim, uma oferta mais integrada e completa.
A balança de mercadorias
(diferença entre exportações e importações) deste setor continua a ser das mais
líquidas, com um saldo positivo de 1,1 mil milhões de euros.
Em Janeiro de 2016, a
Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) destacou que a evolução mensal
homóloga de 10% em novembro foi muito superior ao verificado nas exportações
nacionais de bens, que cresceram 4,5%, o que confirma que as exportações da ITV
(indústria têxtil e vestuário) continuam a crescer acima das exportações
nacionais.
Segundo a ATP, os
destinos para onde as exportações portuguesas do setor registaram maior
crescimento absoluto continuaram a ser Espanha (acréscimo de 148 milhões de
euros no período em análise, contribuindo para um total de 1,6 mil milhões de
euros), EUA (acréscimo de 56 milhões de euros, contabilizando um total de 285
milhões de euros), Noruega (aumento de 15 milhões de euros e uma taxa de
crescimento de 62%). Outra tendência em destaque é a recuperação em destinos
como a Alemanha (410 milhões de euros, com um acréscimo de 8 milhões de euros
no período em análise) ou Reino Unido (437 milhões). França mantém-se como o
segundo maior cliente do sector (613 milhões), atrás de Espanha.
É possível concluir que,
apesar dos anos de decadência verificados no início dos anos 2000, ultimamente,
a aceleração do setor e o crescimento das suas exportações só comprova a
vitalidade e a importância deste na economia nacional e nas trocas comerciais
com o exterior. É muito importante para Portugal fazer propaganda e expandir a sua
marca “made in Portugal” no mundo.
Maria
Raquel Oliveira Ribeiro
[artigo de opinião produzido
no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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