A televisão
portuguesa, para além de possuir poucos canais em sinal aberto, a qualidade
geral foi tomada pela cultura lúmpen
dos “reality shows”, o que faz com que aumente e consolide valores e práticas
sociais e culturais retrógradas e primárias.
Décadas
atrás, a televisão era descrita como iconografia nacional, onde ou procurava responder
à enorme responsabilidade que lhe cabia por inerência da posição que ocupava no
pequeno universo dos media nacionais, ou corria o risco de se tornar no
principal meio de negação da identidade nacional. Ora, o descalabro aconteceu.
Sendo assim, será que podemos falar que ainda existe identidade nacional? Será
que os canais portugueses preferem ter um maior número de audiências
independentemente de colocar ou não a identidade portuguesa no lixo?
De acordo
com a legislação da televisão, os operadores têm de emitir “uma programação que
contribua para a formação e informação do público e para a promoção da língua e
cultura portuguesas”. O facto é que isso não está a acontecer e os operadores
de televisão não só não estão a cumprir os objetivos da legislação e os
respetivos cadernos de encargos, como estão a contribuir para a sua degradação
e eventual negação.
Se dermos
uma vista de olhos nos históricos de transmissão da televisão portuguesa nos
últimos anos, chegamos à conclusão que a qualidade geral da televisão foi
tomada pela cultura lúmpen dos “reality
shows” que amplifica e consolida valores, crenças e práticas sociais e
culturais retrógradas e primárias. Verifica-se nos dias de hoje uma falta promovedora
de formação cívica, de ascensão cultural e social através de entretenimento e
informação de qualidade, com um aumento da superficialidade, do amadorismo e da
ausência de bom gosto (ética e estética). Tudo isto faz com que degrade e
impossibilite todas as tentativas de alguns jornalistas, produtores,
realizadores, autores, comentadores e outros colaboradores de contribuir para
melhorar e atualizar a identidade nacional, uma vez que a construção cultural
depende da história, dos valores, das crenças e dos costumes. E por falar em
identidade nacional, a personalidade e identidade de um individuo provém de
três elementos: da família, da escola e da televisão.
Semana após
semana, a televisão portuguesa aumenta a sua falta generalizada de
qualidade. Logo pela manha, ao ligarmos a televisão em um dos canais,
estamos perante um programa de uma cartomante qualificada para ajudar a
resolver todo o tipo de problemas. Ou seja, existe uma mulher, logo pela manhã,
a “ler” o futuro dos espetadores nas cartas, a pedido de espetadores
vulneráveis e que anseiam uma resposta, “vinda das cartas”. Mas será que isto
está de acordo e respeita dignidade de uma pessoa humana e os demais direitos
fundamentais, com proteção, em especial, dos públicos mais vulneráveis,
nomeadamente crianças e jovens, cabendo-lhes garantir o rigor, a objetividade e
a independência da informação?
Mas isto não
se fica por aqui. Existem programas de televisão que, por um lado, até são
culturais e mostram a cultura de várias regiões do país, mas, na maior parte do
tempo, estão a solicitar aos telespetadores que liguem para um determinado
número de forma a ganharem um prémio relativamente estimulante. Apesar disto, o
pior mesmo são os reality shows, onde
pessoas estão numa casa a viver juntas a fim de ganharem dinheiro. Por vezes,
até situações de pornografia são transmitidos neste tipo de programas, pondo em
causa a suscetibilidade de menores.
Assim conseguimos
perceber que, atualmente, a televisão portuguesa não tem nada a ver com a
televisão portuguesa de há uns anos. É necessário que respeitem a dignidade do
ser humano e os direitos fundamentais dos cidadãos, com o direito de acesso a
conteúdos nacionais, de entretenimento e de informação, e tudo isto com
qualidade, de acordo com padrões de bom gosto, ética e estética. Pois a nação portuguesa
e o Estado é que estão na guilhotina.
Pedro Diogo Mendes Penetro
[artigo de opinião produzido
no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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