A desigualdade de géneros é uma
“verdade que dói”, e que apesar de ser um problema gritante na nossa sociedade
fingimos que vivemos todos de forma igual e digna, quando, na verdade, ainda
hoje mulheres e homens são tratados de forma diferente, principalmente no mundo
do trabalho.
Em Portugal, dados de 2012
referentes a uma população de trabalhadores por conta de outrem a tempo
inteiro, revelam que o salário base feminino, apesar do aumento ligeiramente
superior ao do masculino, representava apenas uma proporção de 81,5% do salário
base masculino. Ainda no mesmo ano, percebemos que esta desigualdade aumenta
para maiores níveis de qualificações, sendo mais notória em quadros de chefia e
de alta qualificação. Em média, e para toda a força de trabalho, os homens ganhavam,
em 2013, mais 13% que as mulheres, valor que se encontrava abaixo dos 16,4% de
média europeia.
A crise tornou Portugal, Espanha e
Itália, entre outros, nos países da União Europeia onde a desigualdade salarial
entre homens e mulheres mais aumentou desde 2008. Sendo que Portugal foi o
campeão nesta temática, registando, entre 2008 e 2013, um aumento de 3,8%.
As principais causas desta diferença
entre salários estão associadas, na minha opinião, ao facto de se distinguir
trabalhos por sexos. Em norma, trabalhos femininos têm tendência a ter salários
mais baixos que trabalhos masculinos, mesmo que tenham o mesmo valor. Considero
natural, homens e mulheres, optarem por diferentes caminhos. É frequente ver
raparigas a ingressar nas áreas de saúde e proteção social (76,8% de mulheres),
educação (80,3% de mulheres) e ciências sociais e humanidades (aproximadamente
58% de mulheres), onde o seu trabalho vai ser desvalorizado e menos remunerado
do que nas áreas normalmente masculinas (como engenharia, onde quase 80% são
rapazes, matemática e informática, onde mais de 60% são homens), contudo mesmo
quando seguem a mesma área, as mulheres ocupam cargos menores e portanto mais
mal pagos. As próprias empresas fazem a distinção na hora de contratar: certos
cargos são reservados para homens e outros para mulheres, sendo normalmente o
das mulheres inferiores. Eu considero que esta mentalidade de segregação
profissional que é criada se prende, principalmente, com as tradições e
estereótipos que o ser humano foi criando ao longo dos séculos.
Tendo em conta toda esta
problemática, acho curioso o facto de serem as mulheres a dominarem nas
universidades portuguesas nos últimos 20 anos (neste ano, 53,4% dos colocados
são raparigas). Este domínio pode se explicar tanto pelo facto de os homens
terem desistido de uma formação superior, como porque as mulheres estão muito
mais bem preparadas. Chegando às empresas, os homens são privilegiados e as
raparigas precisam, algumas vezes, de um mestrado para poderem ganhar tanto
quanto eles com uma licenciatura, ou seja, como disse o historiador Paulo
Guinote, "Essa desigualdade salarial faz com que as mulheres invistam mais
na educação para terem o retorno que o homem tem".
Acredito que a importância que cada
um dos gêneros dá à vida familiar e privada tem um grande peso no seu progresso
profissional. Eles e elas ainda têm peso muito diferente na vida doméstica,
sendo que elas estão mais envolvidas que eles, apesar de todas as melhorias,
principalmente na hora de sacrificar uma vida profissional em prol da educação
dos filhos. Só na UE verificamos que, para pais com filhos pequenos, apenas
65,8% das mulheres contra 89,1% de homens trabalham.
É certo que já se fizeram grandes
avanços nos últimos anos, mas não foram o suficiente. A humanidade tem de parar
de ignorar esta temática e encarar o assunto de frente, desenvolvendo mais campanhas
de sensibilização, criação de legislação, etc., que diminuam esta diferença,
para criarmos, no longo prazo, um lugar onde os nossos filhos e filhas tenham
as mesmas oportunidades, independentemente do sexo.
Elisa Tinoco
[artigo de opinião produzido
no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do
curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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