sábado, 12 de novembro de 2016

Populismo: provocação à política


Na altura em que escrevo este texto, faltam cada vez menos horas para se conhecer o resultado de uma das eleições mais caricatas da história mundial (independentemente do vencedor). De um lado, o populismo de Donald Trump e, do outro, mais do mesmo, por parte de Hillary Clinton. Pelo menos, é assim que penso que os Americanos vêm estes dois candidatos.
Apesar de todas as blasfémias ditas por Trump, de todas as falhas de bom senso, valores morais, ética e muito mais, isso parece jogar a seu favor. O facto de ser politicamente incorreto atrai muitos mais apoiantes que consideram danosas as incorreções cometidas pelos políticos mais comuns, tais como a candidata Democrata, que segue um padrão de campanha igual às montadas anteriormente por outros democratas e também por ela própria, quando perdeu as eleições primárias democratas para Barack Obama, em 2008, seguindo sempre a mesma lógica demagógica e do politicamente correto.
Incrivelmente, parece não haver novidades nem qualquer evolução na forma de fazer política. Talvez por isso a abstenção em Portugal tenha vindo a ser enorme. Talvez por isso o partido grego “Syriza” tenha ganho as eleições na Grécia (tendo como cabeça de cartaz Alexis  Tsipras e  o icónico Varoufakis), em 2015, pois prometia algo completamente diferente - até hoje, não se sabe o que era - dos governos anteriores. Não é pois por acaso que surgem movimentos politicamente mais ortodoxos que, a maior parte das vezes, pouco de experiência e noção política trazem consigo. Trazem, sim, consigo uma vertente mais populista, vertente essa que era uma necessidade de quem não se acredita mais na generalidade das instituições públicas e de quem consegue chegar a esses órgãos de suposto interesse nacional.
Desta forma, a evolução da extrema-direita na Áustria - cujo partido de extrema-direita esteve muito perto de vencer a segunda volta das eleições Presidenciais, em Maio deste ano, o desenrolar do Referendo Nacional Húngaro, acerca dos Refugiados promovido seu governo, ou ainda o reaparecimento de Marine Le Pen devem ser levados a sério. Algo que não parece ter acontecido nos Estados Unidos, em que o aparecimento de Trump era caricaturado mas, de repente e sem poucos darem conta, este tinha tomado de assalto as mentes de muitos Americanos.
Pese embora, estes exemplos todos, é de reconhecer as diferenças de estar por parte dos cidadãos de todos estes países perante o funcionamento do país enquanto Estado, no verdadeiro sentido da palavra.
Posto isto, a ousadia de Trump irá, sem dúvida, incentivar mais movimentos extremistas (por vezes também populistas!!), sobretudo na União Europeia. Europa essa bastante frágil, sem um rumo ainda definido e que vai adiando algumas decisões, como é o caso da entrada ou não de mais refugiados no espaço europeu, a concretização da saída do Reino Unido ou, até, a sua relação com a Turquia, ao mesmo tempo que Merkel perde o apoio de alguns alemães e que a Itália pode ficar sem líder, novamente.
Para concluir, à medida que se aproxima a hora do resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos, qualquer que seja o resultado, houve perdas e ganhos, evoluções e retrocessos. Espero que muitos dos decisores, após todo este desenrolar, alterem a sua forma de atuar enquando políticos, pois têm a obrigação de mudar o seu comportamento se querem realmente o voto dos eleitores. Contudo, a Europa não pode ficar a ver como se desenrolam estas eleições enquanto “come pipocas” pois avizinham-se tempos futuros que serão politicamente controversos, alimentados por diferentes ideologias políticas que terão algo em comum. Todavia, essa caraterística comum não será unir a Europa.

 Jorge Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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