Desde o referendo relativo
à saída do Reino Unido da União Europeia que se vem a notar um certo medo que
outros países sigam o mesmo caminho. A comunicação social tem focado as
consequências económicas e sociais da saída do RU, no entanto não tem assinalado
o facto de que possamos estar a assistir ao mote do que será o fim do sonho
europeu, e mesmo de alguns países como os conhecemos.
Na própria semana em que se
conheceu o voto favorável ao BREXIT, movimentos semelhantes em países como
Itália, Espanha e França começaram a ganhar notoriedade na comunicação social e
nas redes sociais. A saída destes países pode ser possivelmente mais gravosa,
uma vez que estes fazem parte da moeda única, o que não só pode ditar o fim da
mesma mas também pode ajudar à falência do já degradado sistema bancário
Europeu. Dando o exemplo italiano, o sistema bancário transalpino necessita de
uma grande injeção de capital para fazer face a anos de gestão precária, que
incluíram a concessão de empréstimos a indivíduos que não têm forma de os
pagar, corrupção e má regulação. Um caso muito semelhante ao português, mas com
uma dimensão vastamente superior, uma vez que só o maior banco italiano está
sobre grande pressão para angariar 10 mil milhões de euros, cerca de 1/20 do
PIB português, de forma a se manter à tona.
Segundo as novas normas
europeias, os resgates públicos devem ser evitados a todo o custo, estando o
governo italiano de mãos atadas nesta matéria. Após ter feito uma proposta de
criar um banco “mau”, apoiado pelo estado, para libertar parte da dívida tóxica
dos bancos italianos, o executivo transalpino recebeu como resposta um não de
Bruxelas, que considerou que esta medida era uma ajuda estatal direta aos
bancos privados. A saída da UE podia ser uma solução para este país uma vez que
voltaria a ter controlo sobre a sua política monetária e poderia aplicar as
normas bancárias internas. Desta forma, Itália teria total liberdade para
aumentar as margens de lucro dos bancos, definindo uma taxa de juro mais alta
que as praticamente nulas impostas pelo BCE, e para criar ajudas públicas que
permitissem refrescar o seu sistema bancário.
No entanto, ao sair da UE, a
Itália muito provavelmente enfrentaria o problema da desvalorização monetária.
Por um lado, seria bom para a economia italiana ter uma moeda mais fraca no
momento em que iria perder acordos comerciais com os seus principais parceiros
comerciais, podendo assim manter as suas exportações equilibradas dado que os
seus principais produtos exportados, que vão desde carros a chocolates, seriam
mais baratos no mercado internacional. Por outro lado, seriam necessárias mais
unidades da sua moeda para pagar as suas dívidas internacionais, o que poderia
gerar uma crise bancária ainda maior que a atual. A Itália é apenas o exemplo
mais berrante, não obstante, países anteriormente referidos, como a França e a
Espanha, apresentam razões semelhantes para deixar a equipa europeia.
No outro lado do espectro,
está a Escócia. Esta nação faz parte do RU desde 1707, no entanto, poderá está
disposta a quebrar este laço para continuar a pertencer à UE. No dia 20 do mês
passado, o governo escocês anunciou o decreto de lei que irá dar origem ao
referendo sobre a saída do RU. Este será em tudo semelhante ao de 2014 (que
teve como resultado a permanência), mas num contexto muito diferente, uma vez
que neste caso está em jogo um lugar no sonho europeu. Se há dois anos já uma
grande parte da população queria sair, neste momento esta porção de eleitores
pode ser maior e pode dar o mote para outros referendos por toda a Europa.
Regiões ricas como a Catalunha, a Baviera e o Tirol do Sul, que há muito tempo
pretendem afastar-se dos seus respetivos países de forma a não terem de
partilhar a sua riqueza, podem ver neste referendo escocês a oportunidade para
também elas obterem a independência.
Concluindo, apesar do
BREXIT acarretar muitas consequências económicas diretas para a UE, na minha
opinião é a legitimidade da saída do RU que mais impacto terá. Este abandono
criou um precedente para qualquer movimento separatista no contexto Europeu, o
que, como a história nos conta, pode trazer grandes divisões ideológicas
perigosas para a segurança e a qualidade de vida de todos os cidadãos europeus.
Nuno Santos
Fontes:
Financial Times
Bloomberg
BBC
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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