Com
este tema, pretendo salientar o comportamento da poupança e do consumo das
famílias portuguesas em 2015, visto que a poupança influencia o investimento e
o crescimento económico de um país.
É
de salientar que o consumo é um ato económico e social que permite a satisfação
de uma necessidade e que, por vezes, implica a destruição dos bens utilizados e,
noutras, os bens vão satisfazer necessidades durante um certo período. O
aumento do consumo tem consequências socioeconómicas, políticas e ambientais. O
consumo está pendente de fatores económicos e extraeconómicos.
Quanto
à Poupança, ela corresponde à parte do rendimento disponível das famílias que
não é gasta em bens de consumo, e tem utilização futura. A poupança é uma
condição necessária, mas não suficiente, para que haja crescimento económico,
porque sem poupança não há investimento, mas se não for investida não vai
contribuir nem para o crescimento económico nem para o desenvolvimento
económico.
Em
Portugal, o comportamento destas variáveis não tem sido muito satisfatório, pois
os portugueses estão a poupar cada vez menos. Acredita-se que esta tendência de
queda começou com a entrada no euro e só foi interrompida nos anos de crise. E,
segundo alguns inquéritos, observou-se que os mais ricos são os que mais poupam
em Portugal. Inversamente, os que têm menos rendimentos registam níveis baixos
ou até mesmo nulos de poupança. Esta realidade, mostra que poupar pode ser, no
limite, visto como um bem de luxo para as famílias portuguesas.
A
evolução da poupança das famílias depende de vários fatores, como a idade, o
rendimento, a riqueza e o acesso aos mercados de seguros e crédito. Outras
variáveis importantes prendem-se com o aumento da esperança de vida e o
envelhecimento demográfico.
Após
o início da crise financeira (2008), a taxa de poupança dos portugueses
registou uma subida. Esta evolução prendeu-se, fundamentalmente, com o
adiamento das decisões de consumo e a preocupação das famílias em aforrar
devido a um ambiente de maior incerteza, dada a maior precariedade do emprego
do fator trabalho e a expectativa de reformas mais reduzidas no futuro.
O
consumo das famílias portuguesas tem aumentado em termos nominais desde 2010,
quando Portugal encontrava-se em direção ao resgate. No segundo trimestre de
2011 registou-se um ligeiro aumento da taxa de poupança das famílias
portuguesas em cerca de 0,5% do PIB, onde a mesma situava-se próximo da sua
média histórica, isto é, 7,6% face ao PIB.
No
início de 2015, a capacidade de financiamento da economia melhorava mas a das
famílias diminuía. Embora o rendimento disponível tenha melhorado em relação ao
último trimestre de 2014, o aumento do consumo foi ligeiramente superior, o que
fez baixar o nível de poupança das famílias portuguesas face ao trimestre
anterior. As famílias reduziram os seus níveis de precaução devido à
recuperação dos níveis de confiança. Registou-se também um aumento do
investimento realizado pelas famílias e a melhoria de suas perspetivas quanto à
evolução do mercado de trabalho. Os indicadores de confiança deixaram as famílias
mais otimistas quanto à sua situação financeira e à situação financeira e
económica do país.
Sendo
assim, a impulsionar o consumo das famílias nesta altura tínhamos as baixas
taxas de juro, a melhoria da confiança dos consumidores, uma ligeira redução
nos impostos, a redução da taxa de desemprego e as expetativas de novas
reduções no futuro, bem como o facto de a procura de determinados bens nos
últimos anos ter estado reprimida.
A
essa luz, as famílias portuguesas estavam a cortar cada vez mais na poupança. Em
finais de 2015, a Poupança atingia um dos níveis mais baixos de sempre. As
famílias já gastavam 96% do rendimento, e o consumo aumentava cada vez mais com
o crédito bancário. O nível das taxas de juro influenciava as decisões de
poupança, de consumo e de investimento das famílias e das empresas. A
existência de taxas de juro baixas, induzida pela ação de política monetária do
BCE, funcionou como um desincentivo à poupança, fomentando decisões de
investimento e de consumo no presente.
De
acordo com os dados observados neste período, a taxa de poupança representava
4,5% do rendimento disponível. É preciso recuar ao ano da grande crise financeira
(2008) para encontrar um registo parecido 4,3%.
Ao
contrário do que acontecia com as famílias, os números do INE mostram que a
economia, no seu conjunto, havia melhorado a sua capacidade de financiamento. Neste
caso, foi o ligeiro aumento da poupança corrente da economia que permitiu a
melhoria neste indicador, já que o crescimento do rendimento disponível foi
marginalmente superior ao da despesa de consumo, beneficiando do aumento do
PIB.
Edilson Gonga Mateus
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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