quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Benefício de quem?

Nunca as empresas pagaram tão pouco por contrair empréstimos junto da banca comercial, o que não deixa de ser curioso que isto aconteça precisamente numa altura em que os bancos ainda demonstram sinais de algumas dificuldades financeiras. Curioso ou não, a taxa de referência foi colocada pelo BCE em 1%, o que influencia directamente as Euribor, afectando por isso as prestações da casa das famílias e o custo dos empréstimos dos bancos às empresas.
Segundo os dados do Banco de Portugal, as taxas de juro aplicadas às sociedades não financeiras continuaram até Agosto em movimento de queda livre atingindo um mínimo histórico, tendo-se mantido inalterada no presente mês.
Talvez seja ainda mais interessante quando olhamos para Portugal e para a União Europeia e constatamos que os portugueses estão a pagar menos pelo crédito à habitação do que as restantes famílias europeias e que Portugal registou a maior queda da taxa de juro média dos 16 países da Zona Euro. Portugal apresentou uma descida de 3.42 pontos percentuais e a Zona Euro apenas 0.8, fixando-se assim os valores em 2.44% e 4.28% respectivamente. As desigualdades de valores entre Portugal e os restantes países podem ser justificadas por diferentes condições de cada país, como são os spreads, legislação ou mesmo diferentes técnicas e métodos de concessão de crédito.
São vários os Países cujas instituições financeiras demonstram resultados e previsões pouco favoráveis. É o caso da Irlanda, onde já foi anunciado que “os maiores bancos vão precisar de mais injecções de dinheiro, apesar da venda de activos tóxicos ao Estado” afirmou Brian Lenihan, ministro das finanças irlandês. A compra de activos tóxicos pelo Estado foi uma medida deste tentar impulsionar a concessão de crédito por parte dos bancos, naquela que era uma das economias mais dinâmicas da Europa. De mencionar é também o estudo realizado pelo Deutsche Bank, que concluiu que 10 dos 17 bancos norte americanos analisados poderão apresentar prejuízos no período Julho-Setembro devido a perdas potenciais relacionadas com o crédito e a recuperação para a banca em 2010 será um processo lento e controlado. Para o mercado europeu, há também más notícias: os maiores bancos vão necessitar em breve de mais capital, 78 mil milhões de dólares (53.2 mil milhões de euros), segundo JP Morgan.
O compromisso do Banco Central em manter fixas as taxas de juro pode trazer complicações ao mercado, como uma bolha nos mercados financeiros, defende Keith Weith, economista chefe da Schroders. Com taxas de juro tão baixas, existe uma crescente tendência dos investidores transferirem o seu dinheiro de depósitos para outras opções mais rentáveis, e com maior grau de risco envolvido. Isto pode provocar o arrefecimento dos activos de risco devido ao receio de um período prolongado de baixo crescimento (recuperação em W), tal como aconteceu no Japão.
A manutenção das taxas de juro nestes valores beneficia mais famílias do que empresas, uma vez que as primeiras vêm o seu rendimento disponível aumentar, ao diminuírem os encargos de crédito e com juros. Este foi o principal efeito em Portugal, conduzindo ao aumento do consumo privado, que segundo economistas contactados pela Lusa, foi o factor que mais contribuiu para a situação de melhoria de conjuntura económica que hoje vivemos.
Apesar de todas estas preocupações, benefícios e desvantagens, a alteração do valor das taxas de juro de referência está previsto apenas para 2010, com sentido ascendente.

Marta Andreia Pires Fão
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

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