“A actuação pontual vs actuação estrutural”
Actualmente as economias mundiais vivem tempos difíceis. Tal facto é consequência de acontecimentos nada favoráveis, para o desenvolvimento das mesmas, que começaram a surgir sobretudo a partir do final de 2008. Esta cava do ciclo económico, pode também ser vista como um teste às economias, e desta forma conferir a vulnerabilidade ou não das mesmas. O resultado não foi efectivamente o melhor. Observando as consequências nas economias europeias, aquilo a que assistimos foi a uma quebra nos indicadores macroeconómicos (como o abandamento do crescimento económico, aumento da taxa de desemprego, etc), notando-se assim que existe elevada abertura das economias do velho continente a choques externos. Algo que era previsível, mas o facto de existir interdependência económica não pode ser visto só como algo que é mau, porque se se está a partilhar uma crise e se a mesma passa a ser um problema comum entre os países, então há uma união por parte destes por um interesse comum que é combatê-la.
Os esforços têm sido significativos para o efeito, mas se a conjuntura económica dos países envolvidos não oferecer condições, então tudo se torna mais difícil. Olhando ao caso português, e a par da crise tão falada nos últimos tempos, vemos uma conjuntura que é constantemente beliscada por nós mesmos. O caso do BPN é exemplo disso mesmo. Quando em finais de 2008 o debate em destaque era o rebentamento da crise já referida e quando pensavamos que nada pior aconteceria, assistimos à aprovação da nacionalização do BPN por parte da Assembleia da República no dia 5 de Novembro de 2008 sendo esta lei promolgada pelo presidente da república 6 dias depois. Este facto, foi a confirmação das suspeitas que vinham a ser investigadas há já algum tempo, contribuindo para uma deterioração da confiança dos depositantes face às instituições financeiras (consequência que nada ajuda a uma recuperação rápida da nossa economia). Os valores que este desfalque apresenta são sem dúvida assustadores e crescentes com o derrenrolar do caso: no mês de Novembro, o ministro das finanças falava em 700 milhões de euros; um mês depois em 900 milhões de euros; em Janeiro o buraco já ía nos 1800 milhões de euros e actualmente fala-se em 2500 milhões de euros. Comparemos agora esta situação com uma semelhante nos E.U.A: Bernard Leon Madoff foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Este gestor, foi detido pelo FBI em Dezembro de 2008, suspeito de ser causador de um desfalque avaliado em 50 mil milhões de dólares na referida instituição. Embora em termos absolutos, o crime causado por Madoff (30% do PIB português) seja de considerável maior dimensão relativamente ao causado no BPN, a verdade é que em termos relativos, ou seja em percentagem do PIB, o buraco causado no BPN é cinco vezes maior ao causado no E.U.A.
Estes são dois casos de características semelhantes, no entanto diferem e muito relativamente ao apuramento da verdade e à consequente condenação dos culpados: enquanto que nos E.U.A. Madoff foi já condenado a 150 anos de prisão no passado dia 29 do mês de Junho, em Portugal ainda ninguém foi alvo de uma condenação concreta e definitiva apesar de existirem suspeitos que vão sendo absolvidos por falta de provas. Mais uma vez a resposta do nosso país a casos de urgente resolução é a do costume, ou seja, nenhuma. Aquilo a que nós assistimos, é a uma passividade intolerável da justiça portuguesa em tomar medidas concretas relativamente a um caso como é o do BPN. Vemos constantemente a justiça a não actuar de forma eficaz, correcta, atempada e exemplar dando a ideia de que a mesma é propícia à prática de crimes financeiros, sendo como que uma camuflagem de tudo que se faz de errado. É neste tipo de situações que nós fazemos a diferença pela negativa e reparamos que a nossa conjuntura económica não tem normal funcionamento. Para além disso, as soluções apresentadas para este tipo de situações são meramente pontuais e não estruturais, isto é, surge um buraco no BPN e a solução por parte dos gorvenadores é unicamente tapa-lo com capital financiado pelos contribuintes, quando em vez disso se devia também proceder a um reforço do controlo sobre a instituições financeiras, precavendo-se assim de situações semelhantes no futuro. O funcionamento exemplar do sistema judicial tem de ser uma normalidade e o combate ao “chico-espertismo” tem de ser intensificado, para que desta forma possamos ter uma estável conjuntura económica e financeira.
Ismael Correlo
Fontes:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383398
Actualmente as economias mundiais vivem tempos difíceis. Tal facto é consequência de acontecimentos nada favoráveis, para o desenvolvimento das mesmas, que começaram a surgir sobretudo a partir do final de 2008. Esta cava do ciclo económico, pode também ser vista como um teste às economias, e desta forma conferir a vulnerabilidade ou não das mesmas. O resultado não foi efectivamente o melhor. Observando as consequências nas economias europeias, aquilo a que assistimos foi a uma quebra nos indicadores macroeconómicos (como o abandamento do crescimento económico, aumento da taxa de desemprego, etc), notando-se assim que existe elevada abertura das economias do velho continente a choques externos. Algo que era previsível, mas o facto de existir interdependência económica não pode ser visto só como algo que é mau, porque se se está a partilhar uma crise e se a mesma passa a ser um problema comum entre os países, então há uma união por parte destes por um interesse comum que é combatê-la.
Os esforços têm sido significativos para o efeito, mas se a conjuntura económica dos países envolvidos não oferecer condições, então tudo se torna mais difícil. Olhando ao caso português, e a par da crise tão falada nos últimos tempos, vemos uma conjuntura que é constantemente beliscada por nós mesmos. O caso do BPN é exemplo disso mesmo. Quando em finais de 2008 o debate em destaque era o rebentamento da crise já referida e quando pensavamos que nada pior aconteceria, assistimos à aprovação da nacionalização do BPN por parte da Assembleia da República no dia 5 de Novembro de 2008 sendo esta lei promolgada pelo presidente da república 6 dias depois. Este facto, foi a confirmação das suspeitas que vinham a ser investigadas há já algum tempo, contribuindo para uma deterioração da confiança dos depositantes face às instituições financeiras (consequência que nada ajuda a uma recuperação rápida da nossa economia). Os valores que este desfalque apresenta são sem dúvida assustadores e crescentes com o derrenrolar do caso: no mês de Novembro, o ministro das finanças falava em 700 milhões de euros; um mês depois em 900 milhões de euros; em Janeiro o buraco já ía nos 1800 milhões de euros e actualmente fala-se em 2500 milhões de euros. Comparemos agora esta situação com uma semelhante nos E.U.A: Bernard Leon Madoff foi o presidente de uma sociedade de investimento que tem o seu nome e que fundou em 1960. Este gestor, foi detido pelo FBI em Dezembro de 2008, suspeito de ser causador de um desfalque avaliado em 50 mil milhões de dólares na referida instituição. Embora em termos absolutos, o crime causado por Madoff (30% do PIB português) seja de considerável maior dimensão relativamente ao causado no BPN, a verdade é que em termos relativos, ou seja em percentagem do PIB, o buraco causado no BPN é cinco vezes maior ao causado no E.U.A.
Estes são dois casos de características semelhantes, no entanto diferem e muito relativamente ao apuramento da verdade e à consequente condenação dos culpados: enquanto que nos E.U.A. Madoff foi já condenado a 150 anos de prisão no passado dia 29 do mês de Junho, em Portugal ainda ninguém foi alvo de uma condenação concreta e definitiva apesar de existirem suspeitos que vão sendo absolvidos por falta de provas. Mais uma vez a resposta do nosso país a casos de urgente resolução é a do costume, ou seja, nenhuma. Aquilo a que nós assistimos, é a uma passividade intolerável da justiça portuguesa em tomar medidas concretas relativamente a um caso como é o do BPN. Vemos constantemente a justiça a não actuar de forma eficaz, correcta, atempada e exemplar dando a ideia de que a mesma é propícia à prática de crimes financeiros, sendo como que uma camuflagem de tudo que se faz de errado. É neste tipo de situações que nós fazemos a diferença pela negativa e reparamos que a nossa conjuntura económica não tem normal funcionamento. Para além disso, as soluções apresentadas para este tipo de situações são meramente pontuais e não estruturais, isto é, surge um buraco no BPN e a solução por parte dos gorvenadores é unicamente tapa-lo com capital financiado pelos contribuintes, quando em vez disso se devia também proceder a um reforço do controlo sobre a instituições financeiras, precavendo-se assim de situações semelhantes no futuro. O funcionamento exemplar do sistema judicial tem de ser uma normalidade e o combate ao “chico-espertismo” tem de ser intensificado, para que desta forma possamos ter uma estável conjuntura económica e financeira.
Ismael Correlo
Fontes:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383398
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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