quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Do Investimento Público e da Salvação dos Bancos

O tema do investimento público em Portugal neste ano de 2009 tem sido discutido de sobremaneira. As políticas “pró-activas” de José Sócrates incidem sobretudo na construção de infra-estruturas, dentro das quais as mais controversas são indubitavelmente os casos da alta velocidade e do possível novo aeroporto de Lisboa.
A este respeito, foi publicado esta semana um dado curioso que incide no total de dinheiro público que já foi introduzido no BPN desde a sua nacionalização. Através de injecções de liquidez da Caixa Geral de Depósitos, o Banco Português de Negócios contabiliza já o bonito número de 3.5 mil milhões. Este valor, imagine-se, é já superior aos custos projectados para o Novo Aeroporto de Lisboa.
Isto significa que, frontalmente falando, a vista grossa do Banco de Portugal, na fiscalização do sector bancário, custou, até ao momento, um aeroporto completo que o nosso país provavelmente até nem precisa, mas vai inevitavelmente construir. A adicionar a toda esta receita, acrescente-se o ingrediente final que são os resgates de depósitos dos cliente do BPN que continuam a bom ritmo e no final do primeiro trimestre deste ano totalizavam já 3.6 mil milhões de euros. Esta ciclo vicioso de injecção de euros na entidade Bancária não tem portanto um futuro risonho pela frente.

Mas nem tudo são espinhos no jardim português, pelo menos para alguns, e há quem saia com a sua posição bastante reforçada, ou pelo menos tenha entrado neste ano de 2009 com as contas bem a verde. Falo das construtoras portuguesas, os inevitáveis instrumentos das reformas, planos anti-crise e todo o conjunto de contratos que as mesmas conseguem sempre que a economia treme. Neste campo, é com alguma surpresa, ou não, que vemos que em 2008, as principais empresas de construção civil aumentaram em 70,3% o seu volume de negócios face a 2007. Num estudo realizado pela “European International Contractors” (EIC) e publicado recentemente, podemos ver que as 12 empresas que foram incluídas no estudo ficaram no topo da Europa no que a este índice diz respeito. Em termos globais, estas atingiram um volume de negócios que ascenderam aos 3.29 mil milhões de euros, que comparando com o ano anterior de 2007 representa uma subida de 70.3%. Números demasiados grandes para o português comum conseguir equacionar, e logo num período de tantas privações como tem sido o actual. Fica a curiosidade de saber quais serão os resultados de 2009, adivinhando-se novamente números bastante reconfortantes. É caso para perguntar:
- Crise? Onde?

Luis Fernandes
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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