sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A cruz da crise

"Quando escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade."(John F. Kennedy)

A crise teve início no mercado imobiliário dos EUA e depressa se alastrou ao sector bancário “abalando” as economias mundiais. Esta crise passou a fazer parte de todas as notícias televisivas, dos jornais, passando até a ser tema de conversa no autocarro. Todos nós gostamos de opinar sobre o estado das coisas, e temos todos uma veia de economista que se solta quando se ouve falar de inflação, aumento de preços, crise, etc. Não economistas numa lógica de mercado, mas sim numa lógica mais familiar; e todos sabemos que quando o dinheiro escasseia, temos de nos organizar de forma a racionar o pouco que existe. Ora, quando em plena crise somos bombardeados com notícias do tipo “Medidas anti-crise vão custar 190 milhões de euros aos cofres do estado”, perguntamo-nos como é afinal este cofre do estado? Será ele assim tão grande, ou estará ele sempre assim tão cheio?!.
Alguns economistas defendem que é em momentos de crise que se devem adoptar medidas macroeconómicas de forma a dinamizar a economia criando investimento, emprego, incentivando o consumo, ou seja tudo num efeito dominó, medidas estas que o estado implementou durante esta crise tais como: reforçar o investimento público ou diminuir os impostos. O governo adoptou um pacote de medidas de apoio às PME’s e às famílias como o reforço das linhas de crédito para as empresas, a redução do IVA em 1% e do IRC em 50% para as empresas com lucro inferior a 12500€, o alargamento a todas as famílias do décimo terceiro mês do abono de família. Mas será que estas medidas foram tomadas apenas para dinamizar a economia e com o fim de beneficiar o cidadão, ou será que se a crise não tivesse “assombrado” as economias mundiais estas medidas seriam igualmente implementadas, levando-nos a concluir que estas foram mais uma medida implementada em campanha eleitoral?
A realidade é que todas estas medidas expansionistas tiveram, têm e terão consequências em todos os bolsos, sendo que algumas já se fazem notar: Portugal, assim como outros países da União Europeia será alvo de um procedimento de défice excessivo com um défice de 5,9% (segundo a 2ª notificação que o INE enviou à Eurostat relativamente ao procedimento de défices excessivos), sendo que a União Europeia estipulou no Pacto de Estabilidade e Crescimento que o peso do défice no PIB deve ser inferior a 3% afim de não ser considerado excessivo.
Segundo o director do FMI Dominique Strauss Kahn, a recessão económica está a acabar, mas isso não significa o fim da crise. Para Portugal, o FMI prevê no World Economic Outlook, que apesar do fim da recessão, a taxa de desemprego continuará a crescer devendo atingir os 11% no próximo ano. O FMI prevê ainda que Portugal ficará mais pobre, perdendo 3% do PIB. Estas previsões levam a recomendações bem claras por parte da ECOFIN: os planos de apoio implementados pelos governos às economias durante o decorrer desta crise não devem ser para já suspensos.
Portugal tem agora quatro anos pela frente em que voltará a ouvir dizer “temos de apertar o cinto”, em que se retiram medidas de investimento, em que são postos em marcha planos de contenção da despesa pública, em que os impostos voltarão a subir, em que se pede sacrifícios a troco de nada e tudo isso apesar de sermos confrontados com notícias de que Portugal está a recuperar, está a sair da recessão económica. E assim voltamos a entrar noutro círculo vicioso, ou será melhor dizer ciclo eleitoral?

Patrícia Maria Araújo de Barros

Referências bibliográficas:
Jornal Notícias nº123 – 02/10/2009
Instituto Nacional de Estatística
Relatório FMI 2009
Agência Financeira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo), da EEG/UMinho]

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