sábado, 31 de outubro de 2009

Valorização do Euro é Problema ou Solução ?

Uns dos temas mais abordados ultimamente, tem sido a apreciação da moeda única, que esta a deixar a Zona EURO em alerta. Depois da crise financeira mundial de que todos nos ouvimos falar, surge uma nova ameaça, que é a valorização do EURO. Segundo alguns esta valorização terá consequências positivas, mas também há quem diga que o movimento altista pode dar seguimento a ondas negativas sobre famílias e empresas. Afinal, esta apreciação do Euro terá mais vantagens ou desvantagens ?
Ultimamente o Euro, não tem parado de subir, desde Fevereiro valorizou cerca de 20% face ao dólar e cerca de 10% face a libra. Caso continue assim, a recuperação económica pode levar uma recaída. Para certos economistas valorizou em má hora, uma vez que, como diz João Ferreira do Amaral, professor do ISEG “ Qualquer recuperação terá de ser sustentada no comércio externo o que com moeda alta, é mais difícil”. A Europa olha essencialmente para o dólar, mas Portugal também tem de estar atento à libra, porque muito da exportação nacional vai para o Reino-Unido. Falando da exportação, João Ferreira do Amaral mostra-se muito preocupado, porque os “ apoios do Estado apenas serviram para aguentar a queda da actividade e evitar o colapso do sistema financeiro, mas não chegaram para relançar a economia”. A exportação nacional desceu de 20% nestes primeiros sete meses do ano (10% serviços, 25% mercadorias), segundo o Jornal «Negócios».
Em principio, está previsto um crescimento do PIB para o próximo ano, mesmo se está dependendo da recuperação do comércio externo. Será que esta apreciação do Euro será causa para alarme? Não, porque posso citar quatro factores que podem fazer descansar a cabeça de todos nós. Primeiramente, as empresas prepararam-se através de contratos de cobertura de risco que lhes garante uma certa estabilidade nos contractos em moedas estrageiras. O segundo factor é que não há certeza que o Euro permaneça alto no próximo ano, apesar do que tem subido nestes últimos seis meses. O terceiro factor, é que os Estados Unidos mostram sinais de recuperação. O economista-chefe do Santander, Rui Constantino declara no Jornal «Negócios» : “os sinais positivos nos EUA apontam para que a moeda norte-americana possa regressar à casa dos 1.4 dólares por euro dentro de um ano”. O quarto factor, importantíssimo para Portugal, é que o nosso país exporta mais de metade do seu produto para dentro da Zona Euro. Em contra-partida de todos efeitos negativos que a valorização do Euro tem, há um efeito positivo, que é a importação de matérias-primas que são transaccionadas em dólar, por exemplo o Petróleo.
Manuel Caldeira Cabral, professor da Universidade do Minho, lembra que a evolução da cotação da libra pode ser mais perigosa para Portugal do que a do próprio dólar, isto porque o Reino-Unido é o principal alvo de exportações de serviços, e ainda por mais o mercado mais influente para o Turismo português. Por exemplo, o Algarve em período de Verão é solicitado por muitos turistas ingleses. Um bom exemplo da onda negativa que pode criar a desvalorização do dólar vê-se através da comparação do turismo no Algarve do Verão 2007 com o do Verão 2008. Em 2007, a hotelaria algarvia estava praticamente esgotada, enquanto o ano passado, foi uma grande desilusão para os comerciantes do sul do País. A razão principal foi a queda do dólar em meados de 2008, que chamou muito turismo aos Estados-Unidos.
Falando das consequências da valorização do Euro, temos de citar a influência sobre os salários. Segundo o presidente da CIP, o salário mínimo não deve ser aumentado. Os salários podem crescer menos. A razão principal, especificamente para as empresas que fazem exportação, é que a valorização do euro é mais um obstáculo, e deve-se ser mais cauteloso com os aumentos salariais, que podem criar mais problemas na própria empresa. Mais importante do que os salários é a criação do emprego e a saúde do emprego. Só empresas saudáveis e produtivas podem garantir emprego.
Apesar dos efeitos na economia ainda não serem fortes, nós temos de ser cautelosos, porque caso a tendência da apreciação não se inverte, o futuro pode vir a ser muito difícil para todos nós. O Euro ainda não atingiu os valores altos de inicio 2008, mas a aproximação esta a preocupar os exportadores, que podem cair em graves problemas financeiros. Este ano foi o pior ano em várias décadas para o comércio internacional. As exportações recuaram de 20%. João Ferreira de Amaral, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, mostra-se preocupado com a actual situação, porque diz ele que “ uma recuperação sustentada terá sempre de depender das exportações, e como a economia dos Estados Unidos não apontam para que o dólar possa valorizar significamente nos próximos tempos, isto é preocupante”. Ao invés da Zona Euro, o dólar fraco esta a ajudar as exportações americanas, contribuindo para tirar o pais da recessão ao mesmo tempo que se verifica uma certa re-importaçao da produção tendo em conta uma diferença dos custos da mão de obra agora mais competitivos nos EUA. Isto da razão a quem diga que este é um jogo em que certamente uns ganham e os outros perdem.
Um artigo no jornal «Negocios», no dia 16 de Outubro 2009, refere que depois de varias tentativas de relançar a economia norte-americana, o dólar é considerado como a ultima arma. Entre as tais tentativas destaca-se a taxa de juro próximo do 0, medidas excepcionais na política monetária com o banco central a funcionar quase como banco comercial. Com a queda do dólar, os Estados-Unidos alcança uma clara subida de procura pelos seus produtos e diminui a procura dirigida aos outros. Isto pode criar sérios problemas as empresas da zona Euro, que vêem a recuperação da economia seriamente ameaçada. Num artigo publicado no jornal «Correio do Minho» indica que no último dia 21 de outubro 2009 a cotação do euro voltou a passar a barreira dos 1,5 dólares, o mais alto valor desde agosto 2008. Desde a entrada de Portugal no clube da moeda única, as empresas que não conseguem ser competitivas desapareçam. Isto é uma das razoes para a fraca evolução do PIB nos últimos anos. Antes da moeda única, Portugal tinha um trunfo, chamado «escudo», que mantinha muitas empresas a bordo de falência, porque as desvalorizações do escudo tornavam as exportações mais baratas e as importações mais caras. Portugal perdeu esse poder e milhares de empresas não aguentam a concorrência.
As consequências sobre a política orçamental desta conjuntura deverão ser vistas na perspectiva de equilíbrio orçamental difícil de obter a curto prazo devido à queda das receitas e com as despesas estáveis ou a aumentar. Os investimentos públicos que, como era tradicional, poderiam ser um motor de relance da economia terão dificuldades em se realizar sem um apelo profundo ao endividamento do Estado.
Em conclusão, tudo leva a indicar as consequências negativas a curto prazo de uma apreciação do Euro em relação ao dólar.

Michel Pereira Pinto

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho; aluno ERASMUS]

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