domingo, 19 de outubro de 2014

Países pobres e países ricos: “O Abismo”

Um dos temas mais discutidos hoje em dia é o porquê de existir uma desigualdade tão acentuada entre países em pleno século XXI. Muitos estudos têm sido feitos com o intuito de encontrar a causa e, por sua vez, a solução para este problema. 
O clima, a geografia e falta de conhecimento dos políticos são razões apontadas para justificar esta disparidade. No entanto, estudos feitos provam que a relação entre o clima e o PIB do país é inexistente. O facto de o clima ser quente ou frio não influencia a economia nem o rendimento da mesma logo. Essa teoria é descartada.
Outra causa discutida é a geografia que, mais uma vez, podemos excluir analisando o mapa da Europa, onde podemos verificar que, apesar dos países com PIB mais elevado serem maioritariamente do centro, encontramos algumas discordâncias, tais como a Polónia que, apesar de fazer fronteira com a Alemanha, tem o PIB bastante diferente, sendo que o da Alemanha é de 3.336.651 milhões de USD e o da Polónia é de 470.354 milhões de USD, mesmo que em termos de tamanho os países sejam semelhantes.
Quanto à falta de conhecimento dos políticos, obviamente que esta pode ser excluída pois isso implica que ao aplicar políticas erradas estas serviriam de aprendizagem e que os mesmos erros não voltariam a ser cometidos, o que não tem acontecido, vendo-se, sistematicamente, os políticos a tomarem as mesmas medidas, apesar destas terem provado ser ineficazes e não ajudarem a economia.
O que realmente tem diferenciado as economias europeias, o que realmente tem atrasado alguns países são as grandes elites, grupos que controlam e influenciam a economia para seu proveito. Estas elites são constituídas por políticos, dirigentes de bancos, entre outros. Pessoas em cargos nos quais conseguem influenciar a tomada de decisão. Tem-se, como exemplo, as empresas públicas em Portugal, que atribuem cargos importantes a políticos que deixam as suas funções políticas com o intuito de que estes possam utilizar os seus contactos e influências para benefício das empresas e para que estes, mais tarde, usufruam de reformas milionárias, funcionando como uma espécie de “troca de favores”. Este tipo de controlo e influência é tão evidente que a única maneira de uma empresa pública desaparecer é criando-se uma nova ou outra tomar o seu lugar, garantindo a continuidade desses cargos. 
Estudos feitos recentemente mostram que a maior parte dos governantes de Portugal, após deixarem o governo, transferiram-se para bancos privados ou para empresas devido aos seus conhecimentos e contactos obtidos durante o tempo que exerceram no governo. Temos como exemplo o ex-ministro Mira Amaral que, após deixar as suas funções politicas e receber a reforma de deputado, obteve, em 21 meses de trabalho na Caixa Geral de Depósitos, uma reforma de 18000 euros. Analisemos outro exemplo: o caso do ex-ministro Ferreira Amaral, que quando exercia funções como ministro das obras públicas, transportes e comunicações tratou do negócio da construção da ponte Vasco da Gama, no qual entregou o projeto à empresa Lusoponte, assim como a exploração das portagens, que é normalmente da responsabilidade da Brisa. Este negócio causou milhões de euros de prejuízo ao Estado, que acabou por se tornar no mais importante financiador da concessão (um negócio de 897 milhões de euros), sem a explorar, com um contrato que permitiu transferir, para o Estado, riscos que seriam da responsabilidade da Lusoponte. Este negócio apenas faz sentido quando vemos, mais tarde, Ferreira do Amaral, após deixar os cargos políticos, tomar um lugar como membro não-executivo do Conselho de Administração da Lusoponte. 
Outro caso tem a ver com a empresa Mota-Engil, grupo português líder nos sectores da construção civil e obras públicas, que ganha a maior parte das concessões para construções de obras públicas. A razão pela qual ganha as concessões deve-se ao seu CEO, Jorge Coelho, ex-ministro e uma das figuras mais importantes do Partido socialista. Ao analisar Jorge Coelho, verifica-se que, antes de ingressar no Governo de António Guterres em 1995, segundo a declaração de IRS apresentada ao Tribunal Constitucional, teve um rendimento bruto de €41.233 e, em 2009, 3 anos após ter renunciado a todos os cargos políticos e partidários, apresentou um rendimento anual de €702.758. 
Existem muitos mais negócios como este ao longo dos anos que prejudicam seriamente a economia dos países para enriquecimento pessoal. Um último exemplo são os grandes grupos, como os partidos políticos, que necessitam de fundos para as suas campanhas eleitorais e que mais tarde têm que ser compensados com certas medidas e políticas que em nada vão ajudar a economia e o desenvolvimento do país, mas irão, sim, servir para pagar as “dívidas” desses mesmos partidos.
Países sem este tipo de interesses e controlo por parte de elites são aqueles que mais se desenvolvem e se distanciam em relação aos restantes, e são essas as razões pelas quais existe uma diferença abismal entre estes, mesmo tendo climas e geografias semelhantes ou até mesmo políticos que não tenham total conhecimento de quais as políticas corretas. Enquanto este problema não for eliminado, esses países nunca se conseguirão desenvolver o suficiente para alcançar as principais economias europeias e é exatamente isso que Portugal terá que fazer ou será sempre um exemplo do que se pode fazer de mal numa economia e servirá apenas para o enriquecimento de alguns indivíduos e não da sua sociedade.

Vitor Hugo Machado Guedes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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