terça-feira, 7 de outubro de 2014

Capital humano no contexto português

Uma máquina pode fazer o trabalho de 50 pessoas vulgares. Nenhuma máquina conseguirá alguma vez fazer o trabalho de uma pessoa extraordinária (Elbert Hubbard)

Por volta de metade do século passado, os economistas Theodore Schultz, Gary Becker e Kenneth Arrow desenvolveram o conceito de capital humano, revelando-se este um conceito vago e de definição complexa. Todavia, atualmente, pode ser definido como o conjunto de características imersas no indivíduo, tais como conhecimentos e experiências, que tornam o recurso humano produtivo. 
O capital humano adquire uma elevada importância nas organizações, constituindo um fator capaz de proporcionar vantagens competitivas duradouras e de ser um combustível para ajudar a empresa a obter transformações positivas. Em virtude de todos os benefícios que é capaz de proporcionar, a literatura económica considera-o como um motor para o crescimento económico.
Becker (1962), um dos autores da teoria do capital humano, considera e enaltece a existência de várias fontes de investimento no capital humano, sendo a escolaridade a principal em que o capital humano se materializa, pois da sua eficiência dependerá toda a formação futura, além de constituir um patamar mínimo necessário à vida contemporânea.
Nos últimos anos, a temática do Capital Humano tem vindo a adquirir progressiva visibilidade em Portugal, tendo os níveis de escolaridade da população apresentado uma tendência de crescimento. 
Mas os factos continuam pouco animadores. De acordo com estatísticas oficiais, uma parte da nossa força de trabalho (9.5%) não possui qualquer nível de escolaridade, cerca de 24.6% possuem apenas o primeiro ciclo, aproximadamente 11.9% possuem menos de seis anos de escolaridade, apenas cerca de 18.5% concluem o ensino secundário e apenas uma pequena parte (cerca de 15%) possui uma qualificação de nível superior. 
Para além disto, a dimensão que ainda hoje assume o fenómeno do abandono escolar precoce constitui, para Portugal, um sério obstáculo à formação de uma mão-de-obra mais qualificada e, simultaneamente, restringe as possibilidades de criação de capital humano adicional a médio e longo prazo. 
Na última década, as despesas em educação efetuadas pelo estado têm vindo a perder visibilidade. No ano de 2001 representavam um valor de 5% da execução do PIB, passando para 4,1% em 2008. Contudo, com a crescente importância que as qualificações profissionais têm vindo a adquirir, desde 2008 a tendência inverteu-se, levando assim o estado a aumentar a sua despesa em educação, pois o investimento em capital humano pode ser visto como forma de promover uma reafectação de recursos para atividades com maior conteúdo tecnológico e procura mais vigorosa, em especial num contexto em que o progresso técnico é particularmente exigente em trabalho bastante qualificado. Assim, de 2008 para 2011 verificou-se um aumento das despesas do Estado em educação, representando em 2011 um valor de 4.5% da execução do PIB.
Quando comparado com os países da Europa, Portugal constitui um dos países com mais baixa taxa de alfabetização, apresentando um valor de 95% no ano de 2010, enquanto a grande maioria dos países europeus (por exemplo, a Alemanha ou a França) apresenta uma taxa de alfabetização de 99 % nesse mesmo ano.
Face ao exposto, pode-se constatar o crescente envolvimento da sociedade e governo no investimento em capital humano, tendo esta temática sido objeto de intensos debates. Todavia, Portugal continua a apresentar um baixo nível educacional e uma fraca convergência com a UE nestas matérias. Os progressos alcançados nas últimas décadas são ainda insuficientes. 

Windy Martins Noro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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