As previsões não são animadoras nas principais economias nacionais na Europa, bem como para as economias já fragilizadas pela conjuntura económica dos últimos tempos no velho continente. Depois de dois anos decepcionantes, 2014 surgia como o horizonte propício para a ansiada recuperação da economia e do emprego na Europa.
Mas as últimas projecções do FMI e da OCDE vêm agora delinear um cenário cada vez mais preocupante: a Itália não vai conseguir sair da recessão, na qual se vê mergulhada desde 2012; a França evoluirá próximo da estagnação, pelo terceiro ano consecutivo; e até a impecável Alemanha vê o seu motor de crescimento económico a perder força, de trimestre para trimestre.
Trata-se das três principais economias continentais, que, em conjunto, representam cerca de três quartos da dimensão económica da zona euro. Para Portugal, que conta estes três destinos entre os mais relevantes para as suas exportações, tudo isto representa um agravamento das condições circundantes para a sua própria saída da recessão interna e um baixar das expectativas de um maior crescimento, de futuro de uma economia estável e recuperada depois da grave crise da dívidas públicas e externas que afectou os países economicamente mais frágeis do nosso espaço económico comunitário. Não constitui, assim, surpresa, que as previsões de crescimento do PIB em Portugal estejam a ser revistas em baixa: tinha sido antecipado uma subida de 1,2%, situam-se agora entre 0,9% e 1%, para este ano.
É neste contexto algo sombrio e alarmante que se multiplicam na Europa os apelos ao reforço do investimento e das políticas activas de criação de emprego. Os chefes de Estado têm prometido políticas públicas promotoras de crescimento económico, e já não somente de ajustamento das contas públicas, Estado a Estado.
A Alemanha mantém-se inflexível, exigindo a continuação das reduções dos défices públicos para que, segundo o calendário traçado no Eurogrupo, em 2017, os 18 países da zona euro tenham défices de Estado estruturais na casa de 0,5% dos seus PIB’s, fazendo prever mais cortes, maior contestação das populações de países como Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha (já resgatados pelas autoridades financeiras europeias e mundiais), o que poderá levar de novo ao crescimento de movimentos “anti-euro”, aumentando assim a instabilidade politica e social dentro destes países.
Como a própria OCDE defende, embora “o crescimento verificado em alguns países periféricos seja encorajador”, algumas destas economias atravessam ainda “desafios estruturais e fiscais “ e elevados níveis de dívida, sendo também a deflação um dos pontos que mais preocupa as autoridades pois poderá “perpetuar a estagnação económica e agravar o fardo da dívida”, o que aliado à falta de confiança por parte dos consumidores poderá ter efeitos ainda mais nefastos nas economias.
Este é um debate de vital importância para nós: saber que futuro nos espera, num país que nos últimos anos sofreu imensas sequelas na sua estrutura económica e social. Está para ver-se se as previsões de crescimento já há muito anunciadas pelos dirigentes políticos se irão fazer sentir na pele das suas populações e que futuro está reservado para a UE, cada vez mais contestada pelos seus residentes, onde o caminho da recuperação económica como um todo ainda se avizinha longínquo.
Afonso Pereira
Fontes:
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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