quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Portugal: um país dependente energético crónico

A história mundial mostra-nos que, com o passar dos séculos, a necessidade de os países usarem energia tem vindo a aumentar, principalmente no pós-Revolução Industrial. Essa mesma necessidade de consumo energético tem sido satisfeita através da transformação de matérias-primas (como o petróleo, carvão e gás natural) e, mais recentemente, através da utilização de energias renováveis. 
No contexto português, este uso de matérias-primas remete-nos para o conceito de dependência energética, isto é, o nosso país é escasso em recursos energéticos de origem fóssil, logo tem de importar essas mesmas matérias-primas de outras nações para produzir energia (quer electricidade, quer combustíveis, como o gasóleo). Essa necessidade constante de importação de recursos fósseis provoca um desequilíbrio crónico na balança de pagamentos portuguesa que, em grande parte, nunca irá poder ser anulado.
Segundo dados da ACAP, o parque automóvel nacional aumentou, no período de 1990-2010, cerca de 3 milhões de unidades, o que se correlaciona com os dados apresentados pelo PORDATA no que respeita à venda de combustíveis para consumo, pois desde meados dos anos 90 que se verifica uma subida acentuada e constante de venda de gasóleo rodoviário, de gasolina sem chumbo 95 e de gasolina sem chumbo 98 (o gasóleo rodoviário consumido chega mesmo a aproximar-se de valores perto das 5 milhões de toneladas anuais). 
Analisando estes indicadores, facilmente percebemos que Portugal inevitavelmente tem de continuar a importar petróleo de forma a produzir combustível suficiente para abastecer o seu parque automóvel e, com o aumento que o preço do barril de petróleo sofreu, esse mesmo valor aproximou-se dos 7 mil milhões de euros em 2010 (cerca de 40% das matérias-primas importadas destinam-se ao setor dos transportes), ou seja, um valor muito pesado para um país como Portugal.
Além do petróleo, Portugal utiliza, também, tanto o carvão como o gás natural, como fontes de energia, nomeadamente na produção de eletricidade. Mais uma vez, estes produtos têm de ser importados devido à sua inexistência em território nacional (Portugal teve em tempos minas de carvão, mas com reservas pequenas que entretanto já se esgotaram), o que exagera ainda mais o saldo deficitário nacional. Contudo, é precisamente neste aspeto em que Portugal tem tentado reduzir a sua dependência energética através da utilização das energias renováveis para produzir eletricidade.
Em relação ao setor das energias renováveis, tem vindo a ser realizado em território nacional um grande investimento em infraestruturas, como parques eólicos e barragens, que permitem um aumento da produção de eletricidade de uma forma limpa Esse investimento tem vindo a ter um retorno significativo já que, segundo dados do PORDATA, desde 1995 até 2012, verificou-se um aumento de aproximadamente 15 pontos percentuais na produção de energia elétrica através de energias renováveis, sendo que em 2012 esse mesmo valor ficou-se pelos 44,3% (em 2010, esse valor chegou a ultrapassar os 50%). 
No mesmo sentido, tem-se verificado um aumento do consumo de energia elétrica per capita [em cerca de 20 anos, em média, cada português passou a gastar mais de 1500 kilowatt-hora (Kwh)], pelo que o aumento da produção de eletricidade através das energias renováveis é duplamente bom, isto é, por um lado, forma energia de uma forma limpa e, por outro, não sobrecarrega a balança de pagamentos, ao não ter de importar-se combustíveis fósseis para serem transformados.
Com a introdução em massa das energias renováveis, a dependência energética portuguesa tem vindo a diminuir, situando-se já nos 71% no final do ano anterior, o que revela claramente o impacto das energias renováveis na nossa economia.
Em forma de conclusão, podemos afirmar que Portugal continuará a ser um país com uma elevada taxa de dependência energética face ao exterior e que não irá conseguir contornar essa situação pela já referida falta de recursos fósseis, a não ser que haja uma revolução no setor automóvel e que os veículos elétricos comecem a ser mais utilizados, já que é essa a maior fatia da fatura energética portuguesa. Contudo, apesar das dificuldades já referidas, Portugal continua no caminho certo com a aposta nas energias renováveis, que já apresentam resultados bem satisfatórios e representativos para o nosso país.

Ricardo Azevedo Silva

FONTES:
http://www.pordata.pt/Portugal/Consumo+de+energia+electrica+per+capita+total+e+por+tipo+de+consumo-1230

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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