domingo, 9 de novembro de 2014

A evolução da poupança das famílias portuguesas

A poupança nos dias de hoje é muito inferior do que era há trinta e quarenta anos. Todavia, e apesar da crise, os portugueses ainda poupam algum dinheiro. 
A taxa de poupança das famílias portuguesas ao longo dos tempos sofreu algumas oscilações. Segundo dados da Pordata, em 1985 a poupança em percentagem do rendimento disponível das famílias portuguesas era de 20,2%, e desde essa época a tendência foi de descida (tendo-se atingido o valor mais baixo em 2008 - 6,8%), com ocasionais recuperações, como aquela que atravessamos. 
Esta descida pode ter como motivos a recuperação da crise de 1983-1985, a entrada na Comunidade Económica Europeia em 1986, a liberalização do setor financeiro e a estabilização nominal da economia, que se traduziram num acesso mais alargado ao crédito e numa redução das restrições de liquidez, contribuindo para o aumento das expectativas dos portugueses. Chegaram-se a atingir elevadas taxas de endividamento, que na minha opinião ocorreram principalmente devido à extrema facilidade de acesso ao mercado de crédito (essencialmente, crédito à habitação), generalizando-se a ideia de que os portugueses viveram acima das suas possibilidades.
De 2009 a 2011, a poupança em percentagem do rendimento disponível das famílias portuguesas caiu de 10,5% para 7,5%, aumentando posteriormente para 9,5% em 2012 e para 9,9% em 2013. Fazendo uma análise destes dados e tendo em conta a quebra de rendimentos das famílias e o elevado aumento de impostos nos últimos anos, é curioso observar-se este aumento da taxa de poupança, pois significa que, apesar da crise, ou devido a ela, os portugueses estão a poupar mais.
Com o rendimento disponível a cair, o desemprego e os cortes salariais, as dificuldades para poupar aumentam. Contudo, estas adversidades tornaram os portugueses mais atentos, levando-os a repensar os seus hábitos de consumo e a valorizar mais o dinheiro. Hoje, fazem-se compras mais ponderadas e menos permeáveis à publicidade. O receio do amanhã tornou-se bem presente na maioria dos lares portugueses. Durante o período do programa de ajustamento, o consumo das famílias caiu mais do que o seu rendimento disponível, o que se refletiu numa recuperação da taxa de poupança das famílias.  
Tendo em conta a série de incertezas que são referidas no Orçamento do Estado para 2015, as perspetivas não sou animadoras. Por isso, para as famílias, no que toca a poupança, não será um ano muito fácil nem muito diferente dos anos 2013 e 2014. A poupança das famílias pode eventualmente continuar a aumentar, mas muito ligeiramente e, principalmente, para as famílias com níveis de rendimento intermédios e não para as que têm rendimentos mais baixos. Estas continuarão a não conseguir poupar. 
Garantir uma poupança familiar sempre que possível é uma boa opção para se poder dormir mais descansado, sobretudo em tempos tão inconstantes como os que se vivem atualmente. Com diz o velho ditado “mais vale prevenir do que remediar”.

Marta Sofia L. M. Rodrigues

Referências:
Pordata 
http://www.pordata.pt/portugal/rendimento+e+poupanca+das+familias+(base+2011)-78.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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