domingo, 9 de novembro de 2014

A influência do consumo no desemprego

A retoma do mercado de trabalho em Portugal acentuou-se no terceiro trimestre deste ano, em grande parte sustentada pelo aumento da procura interna e outra parte pelo Estado. Observou-se um recuo de 13,9% para 13,1% e a criação de postos de trabalho alcançou o número mais significativo desde o ano de 2001. Contudo, perto de 689 mil pessoas encontram-se à procura de trabalho, nas quais 67% estão nesta posição há mais de um ano e a população empregada encontra-se longe do desejável e observável antes da crise.
Após um longo período de destruição de postos de trabalho e subidas recorde da taxa de desemprego, verificámos através de um inquérito do INE uma criação de 50,5 mil postos de trabalho em relação ao trimestre anterior, e de perto de 96 mil entre Setembro de 2013 e Setembro de 2014. Para observarmos aumentos homólogos do desemprego, temos de recuar até 2001. No entanto, o total de população empregada continua longe dos números desse ano, sendo o emprego criado insuficiente para cobrir as 131 mil pessoas que deixaram de figurar nas estatísticas como desempregadas. 
Olhando para os principais setores de atividade ao longo do último ano, conclui-se que a recuperação do mercado de trabalho parece estar interligada diretamente com o aumento do consumo. O emprego nos serviços cresceu 110 mil em termos homólogos, o que indica um crescimento da procura interna. Os serviços foram responsáveis pela criação de 110 mil postos de trabalho, sendo que, minuciando este setor, temos que o primordial contributo veio do comércio e da administração publica, com 27,6 mil e 25,6 mil postos de trabalho, respetivamente. Como tal, uma boa primavera-verão resultou num aumento do emprego nos serviços, consequência de melhorias no turismo. Relativamente à indústria verificou-se um crescimento tímido de 46,1 empregos e na agricultura num corte de 60 mil postos de trabalho.
O desemprego tem vindo a reagir de forma mais rápida do que o previsto, observando-se mais sensível às oscilações da procura interna, enquanto o aumento das exportações não tem uma consequência tão grande no emprego.
Presenciamos um problema em que o aumento do emprego reflete, parcialmente, um crescimento da economia baseado no consumo privado. Esse fator, juntamente com políticas de ativação de desempregados e das políticas de contratação das empresas que, durante a recessão, reduziram excessivamente a sua força de trabalho, influenciam a dinâmica do mercado de trabalho. Visto isto, a retoma da economia baseada no consumo é um risco também para o emprego e receamos que a políticas ativas de emprego estejam a dar uma ideia errada do mercado laboral de Portugal. 
Estima-se que o ritmo de criação de emprego irá abrandar. A redução do desemprego destaca a recuperação económica do país, perante uma capacidade de gerar empregos, sendo estes com maior qualidade e qualificação. Dados trimestrais do INE revelam que a recuperação do mercado de trabalho beneficia os trabalhadores qualificados e que as empresas têm investido em vínculos mais permanentes. Dando ênfase a este ponto, temos que o maior aumento da população empregada, em termos homólogos, ocorreu em trabalhadores do ensino superior (144,6 mil pessoas) e ensino secundário (66,8 mil pessoas). Por contraponto, o emprego para trabalhadores com apenas o ensino básico caiu, observando-se uma perda de 115,7 mil pessoas.
Ao contrário do espectável, não é o emprego jovem que mais cresce. Comparativamente com o ano passado, o aumento mais notório verifica-se na casa dos 35 aos 64 anos. Na comparação trimestral, são os jovens entre 15 e 24 anos que mais beneficiam com o aumento do emprego. Tal acontece pelo efeito da sazonalidade que atravessa os meses de Junho a Setembro.
Em suma, apesar das melhorias e o INE mostrar uma redução do número de pessoas que diz estarem sem emprego há mais de um ano, o peso dos desempregados de longa duração no total continua a ser preocupante e é o segundo maior desde que há registos. Visto isto, alguns dos desempregados arriscam-se a permanecer nas teias do desemprego por mais alguns anos. É de sublinhar que, no final do terceiro trimestre, 460,9 mil desempregados que constantemente procuram trabalho há mais de um ano, têm um peso de 67% no desemprego total, o que é de facto alarmante. 

Jorge Inocêncio Pereira Dias

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 


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