sábado, 15 de novembro de 2014

Portugal sobre rodas

Muitos sectores, após a crise que abalou o nosso país, viram as suas receitas bem como o seu volume de negócios descer consideravelmente. Contudo, muitas delas souberam “dar a volta” e virar as costas à crise. Um deses sectores foi o automóvel, um dos mais afectados por este período recessivo. 
A indústria automóvel representa para a nossa economia um volume de negócios de 18,2 mil milhões de euros, divididos por cerca de 30 mil empresas, criando cerca de 128 mil postos de trabalho, segundo alguns dados apresentados pela ACAP. 
O mercado nacional não é o principal destino do sector automóvel. Este sector está totalmente vocacionado para o comércio externo, exportando cerca de 69 % do total que produz. As exportações deste sector representam cerca de 14, 2 % da totalidade do que o país exporta, o que se traduz em cerca de 6,7 mil milhões de euros. Por sua vez, a Balança Comercial deste sector, ou seja, a diferença entre exportações e importações é de cerca de mil milhões de euros, o que se traduz numa taxa de cobertura de importações de 121,2 %.  
Porém, nem tudo é “um mar de rosas”. Durante a crise financeira que afectou o nosso país este sector foi um dos mais penalizados, juntamente com o sector da construção civil. Neste período, a “economia” automóvel registou uma queda sucessiva durante 25 meses, atingido em 2012 uma queda de 47,4 %, o valor mais baixo de vendas desde 1995, na EU (sendo o valor mais baixo em Portugal desde 1985). Os elevados impostos que se fazem sentir neste sector (em que por vezes metade do valor que pagamos por um carro é só para impostos), bem como o elevado desemprego nacional, a redução no poder de compra, bem como as dificuldades no acesso ao crédito levaram a que Portugal registasse a segunda maior queda da União Europeia, apenas ultrapassada pela Grécia. Consequentemente à forte recessão que se fez sentir, cerca de 2500 empresas fecharam, o que levou a uma supressão de 21 mil postos de trabalho. 
Todavia, Fevereiro de 2013 marca a mudança neste sector. Desde esse momento que a economia automóvel começou a crescer, com taxa de variação homólogas de dois dígitos. É um crescimento bastante satisfatório, mas tal só acontece devido ao que muitos economistas defende como efeito base, isto é, como a queda neste sector foi tão elevada o crescimento é expresso em números mais significativos. Assim, entre Janeiro e Setembro de 2014, o sector automóvel nacional registou um aumento nas vendas de cerca de 38,4%, o que significa a venda de 127020 veículos, muito superior à média da UE, que se ficou pelos 2,1 % em Agosto deste ano. 
O nosso país possui a segunda maior taxa de crescimento de vendas neste sector. Mesmo em termos de produção, as cinco linhas de montagem que existem em Portugal registaram uma produção de cerca de 154 mil automóveis, em 2013. Embora a variação registada, quer deste ano, quer do último semestre do ano transacto, o mercado automóvel continua a manter-se abaixo da média dos anos antecedentes à crise económica. 
O sector automóvel possui uma importância significativa para o nosso país. Todavia, é necessário criar condições para que a dinamização deste sector se possa realizar da melhor forma para a nossa economia, ou seja, é necessário implementar medidas para que o sector possa evoluir de forma sustentada. A reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida, bem como a redução dos custos energéticos (pois o nosso país possui custos energéticos bastantes elevados em relação a outros países europeus), bem como os custos logísticos (através de uma maior interdependência vertical das empresas nacionais que operam neste sector), podem ajudar a um maior crescimento no sector automóvel. 
Em suma, a retoma deste sector não pode ser levada em vão, isto é, é necessário estimular e impulsionar esta indústria, quer através de investimento público, quer através de investimento privado, para que possamos suavizar um caminho que já vai ser longo e difícil para os níveis que precederam a crise económica. 

Tiago Marques

Fontes:
http://economico.sapo.pt/noticias/vendas-automoveis-em-portugal-devem-crescer-4_186445.html

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3° ano do curso de Economia (1° ciclo) da EEG/UMinho]

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