sábado, 15 de novembro de 2014

Portugal nuclear: benefícios e perigos

Está clara a situação energética portuguesa. Não tendo combustíveis fósseis em abundância no seu território nacional, Portugal depende de países terceiros para preencher as suas necessidades energéticas. Desde 2005 que Portugal aposta nas energias renováveis para equilibrar esta balança mas, apesar da crescente importância e produção deste sector, ainda não é um país auto-suficiente. Com uma dependência energética de 71,5% em 2013, ainda há um longo caminho a percorrer, embora a evolução e tendências deste indicador sejam favoráveis. Note-se que, em comparação com a média europeia, encontramo-nos muito mais dependentes do que o resto da Europa (53,8% em 2011). Um dos factores que nos distingue é o uso da energia nuclear. E se Portugal tivesse optado pelo sim à energia nuclear?
De facto, o nosso país tem reservas de urânio extensas e ricas que não estão a ser aproveitadas (a última mina em Portugal foi fechada nos anos 80). O aproveitamento dessas reservas naturais para a extracção do minério, com vista à produção de energia, geraria postos de trabalho e seria um motor de desenvolvimento de zonas do interior de Portugal (mais de 2/3 das reservas situa-se no interior do Alentejo). Contudo, nos anos 70 e 80, Portugal decidiu não acompanhar o resto da Europa dizendo não à energia nuclear. Na época, os custos de criar uma central não se justificavam, assim como o risco inerente a catástrofes nucleares.
Substituindo a produção de energia térmica por energia nuclear - sendo a energia nuclear uma energia limpa - Portugal reduziria as emissões de CO2 para a atmosfera, assim como a importação de combustíveis fósseis (principalmente carvão e gás natural). Claro que alternativas como a energia eólica e hídrica são ainda mais ecológicas, pois não deixam resíduos de exploração tóxicos para trás (ainda para mais, estas são energias renováveis). Porém, a eficiência de produção destas energias depende de factores não controláveis pela acção humana: precipitação e intensidade do vento. Como tal, estas podem ser alternativas complementares, mas nunca as principais fontes de produção de energia, pois nem sempre ocorre vento/precipitação elevada quando é necessária electricidade. O que traz de novo a energia nuclear como a energia alternativa à térmica, pois é considerada uma energia limpa e Portugal possui o urânio necessário para a produzir no seu subsolo.
Contudo, Chernobyl, Three Mile Island e, mais recentemente, Fukushima são nomes que dificilmente se apagarão da história humana. Estes desastres nucleares colocam qualquer um de pé atrás, quando se discute a energia nuclear. É compreensível esta aversão da opinião pública ao nuclear. Podemos até saber como é que os átomos se comportam e como os controlar para produzir enormes quantidades de energia, mas quando um reactor nuclear resolve ter comportamentos não previstos o que predomina é a impotência e a esperança que o núcleo do reactor se estabilize por si só. Ainda para mais, há o lixo radioactivo. Até hoje não se encontrou em nenhum país do mundo um local adequando para armazenar os detritos atómicos. A energia nuclear é hoje vista por muitos como uma energia ultrapassada e perigosa e a tendência é mesmo as energias renováveis: eólica, hídrica, geotérmica, solar.
Na minha opinião, implementar o uso de energia nuclear em Portugal é já um conceito ultrapassado. Não tanto pelos perigos inerentes (pois continuamos a estar próximos da central nuclear de Almaraz, em Espanha), mas sim pelas viáveis alternativas que temos à disposição em Portugal. Portugal é o país com mais exposição solar na Europa e com um território marítimo extenso e propenso à criação de parques eólicos. As ricas bacias hídricas permitem a construção e uso de barragens para produzir energia. Com tais condições favoráveis, não há razão para arriscar numa energia potencialmente perigosa. A questão de contudo, dadas as ricas reservas de urânio que dispomos, Portugal deveria apostar em colocar o seu minério no mercado mundial e rentabilizar este seu recurso.

João Pedro Oliveira Martins 

Bibliografia:
ISCTE (arquivo): http://ibs.iscte.pt/
Jornal de Negócios: http://www.jornaldenegocios.pt/
Deutsche Welle: http://www.dw.de/
Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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