sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Emigração de jovens com formação superior: será este o meu futuro?

A conjuntura económica atual arrasta muitos jovens com formação superior para empregos precários e para o desemprego. Como tal, cada vez mais os jovens portugueses embarcam num avião low cost, com bilhete só de ida, e partem à aventura.
Um estudo realizado por diversas associações de estudantes das instituições de Ensino Superior, e que O Correio da Manhã expôs, concluiu que 69% dos estudantes do ensino superior pensam em emigrar após findar o curso. O estudo aponta a falta de emprego no país como o principal motivo para essa intenção mas também o desejo de auferir um salário superior e a procura incessante de novas oportunidades capazes de proporcionar uma experiência profissional enriquecedora. 
No universo dos países ocidentais, Portugal apresenta um dos registos mais volumosos no que toca a esta problemática. A saída de jovens com o ensino superior de Portugal em busca de melhores condições de vida e realização profissional é atualmente um fenómeno que tem vindo a ganhar peso. Estatísticas nacionais revelam que o número de emigrantes portugueses com ensino superior aumentou mais de 87%, numa década, passando de um total de 77.790 em 2001 para mais de 145 mil em 2011. Só nos últimos três anos, a emigração de jovens licenciados aumentou quase 40%.
A emigração de jovens com um nível de escolaridade superior e a sua respetiva transferência de conhecimentos suscita avultados danos para a economia nacional. Os efeitos negativos desta temática em Portugal são bem patentes, destacando-se o envelhecimento da população, as dificuldades de sustentabilidade do sistema de segurança social, o desaproveitamento de economias de escala e a menor produção. Em termos agregados, afeta gravemente a capacidade do crescimento económico do país, pois prejudica a sua evolução económica, intelectual e tecnológica. Todavia, Portugal "acaba sempre por beneficiar a prazo do que poderia ser uma desvantagem". Ou seja, também retira vantagens com a emigração dos jovens com ensino superior, via remessas desses emigrantes para Portugal ou através do próprio regresso dos imigrantes formados mais tarde, que contribuirão para a qualificação geral do país.
Contudo, é o país de destino que retira maior proveito da emigração dos jovens qualificados, uma vez que Portugal investe na formação destes, que depois irão contribuir e oferecer a sua riqueza a esse país, contribuindo para o aumento do produto interno bruto deste sem que tenha investido na formação dos jovens emigrantes. Reino Unido, Suíça e Alemanha são hoje os principais países de eleição dos jovens emigrantes portugueses com formação superior.
Face ao exposto e como aluna prestes a terminar a minha formação académica ao nível do ensino superior, o sentimento de negação da qualidade de Portugal enquanto nação capaz de promover oportunidades aos seus cidadãos com o ensino superior vai aumentando, pensando assim cada vez mais na possibilidade de emigrar, tal como milhares de jovens projetam, para recuperar lá fora os sonhos que aqui começam a desvanecer.
O  prolongamento deste fluxo emigratório poderá comprometer seriamente e, talvez irremediavelmente, a criação de condições para uma renovação acelerada da estrutura económica nacional. Portugal tem assim em suas mãos um grande desafio: manter os jovens com ensino superior no seu país de origem, impedindo ou pelo menos minimizando a sua emigração, prejudicial não só para o desenvolvimento da nação, mas que contribui ainda para aumentar as desigualdades já abismais entre os vários povos do planeta. Para cumprir tal desafio, é imprescindível a adoção de políticas que tornem o país nesta data "doador de jovens qualificados" um atrativo pólo de inovações científicas e tecnológicas. 
Desenvolver o mercado interno e promover políticas de investimento público e privado, gerar fatores de crescimento e dar um ambiente mais favorável a essa promoção de investimento e de crescimento, são hoje algumas políticas capazes de minorar a emigração dos jovens portugueses qualificados. 
No paradigma vigente, o futuro em termos profissionais é neste momento uma incógnita na equação da vida de milhares de jovens com formação superior.

Windy Martins Noro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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