O gás natural está a criar uma nova realidade para as economias mundiais. Um dos grandes acontecimentos foi a chamada “Revolução do xisto”, nos EUA. Esta revolução está associada à crescente produção de gás de xisto (shale gas), que quadruplicou entre 2007 e 2012, atingindo nesse último 266 biliões de metros cúbicos, com 30,000 poços escavados. Com isto, o gás de xisto representa atualmente 44% da produção total de gás natural dos EUA. Tendo em conta a oferta abundante, os preços do gás nos Estados Unidos têm descido para um terço daqueles que se verificam na Europa, enquanto na Ásia se paga cinco vezes mais.
Mas, o que é exatamente o gás de xisto? É o gás natural que se encontra depositado na rocha denominada por xisto betuminoso e encontra-se a grandes profundidades (até 3 mil metros). A sua constituição e a sua profundidade tornaram-se um grande desafio para a sua extração e por isso só nos últimos anos é que se desenvolveu a tecnologia que permite o “fracking”, a técnica utilizada de fracturação do xisto. Tal tornou a sua extração sustentável e desde aí a indústria desenvolveu-se muito rapidamente.
Por toda a Europa, podemos verificar a crescente preocupação por parte dos líderes industriais com a perda da competitividade das empresas para as fábricas que utilizam gás natural de baixo custo e da consequente mudança destas para locais onde este recurso é mais barato, nomeadamente os Estados Unidos. Este assunto é particularmente mais preocupante no caso alemão, cujas exportações são uma grande fatia do PIB e onde os custos energéticos continuam a subir, tendo então tendência a perder quota de mercado.
Como tal, a União Europeia tem tentado contrariar o estado de dependência energética em que vive, principalmente da dependência face à Rússia. No entanto, em relação ao desenvolvimento do gás de xisto europeu as opiniões divergem. Muitos especialistas afirmam que a produção de gás de xisto na Europa não será possível nos próximos anos. A razão para tal é que a produção requer uma elevada quantidade de perfurações anuais, porque as taxas de declínio de produção são muito mais elevadas que as do gás convencional. Esta taxa no primeiro ano varia entre 70% a 90% e, de modo a continuar a produção, é necessária uma rápida substituição dos poços que se esgotam. Na verdade, estes pressupostos não têm em consideração as melhorias técnicas e inovações, que foram as grandes impulsionadoras da revolução do xisto. As mais recentes tecnologias de “fracking”, aplicadas nos EUA, fazem com que seja possível reduzir a duração do processo de fracturação de alguns dias para algumas horas. Isto indica que a Europa pode começar numa posição muito diferente da dos EUA.
Assim, a Europa teria um início lento, mas poderia desenvolver-se rapidamente com um investimento substancial ao longo dos anos. Algumas empresas de consultoria prevêem um aumento estável em hidrocarbonetos menos convencionais nos próximos 15 anos, atingindo o pico da produção em 2030. Segundo a agência Bloomberg, o pico desta produção será de 21-41 biliões de metros cúbicos por ano.
No caso de Portugal, existem vários depósitos de xisto betuminoso mas não se sabe até que ponto detêm reservas de gás de xisto que justifiquem o investimento. Os estudos ainda estão numa fase muito inicial, mas dão bons indicadores para a zona do Alentejo e do Algarve.
Ao futuro das fontes energéticas está associado aos avanços tecnológicos e inovação, às energias renováveis e às aplicações e alternativas mais ecológicas. No entanto, no espetro do futuro energético apenas a revolução do xisto demonstra um verdadeiro potencial. Resta saber se será possível para a Europa fazer parte deste futuro. É importante que a Europa tente sempre procurar alternativas para contrariar a dependência energética. A possibilidade de fazer frente à Rússia e aos países do Médio Oriente serve de bom incentivo para tal, assim como para o desenvolvimento das tecnologias.
Sabemos os possíveis benefícios que a produção da energia do xisto nos poderia trazer, mas não é possível prever as consequências que tal traria não só para a economia mas principalmente para a sociedade. Como é que isto iria afetar a instabilidade Rússia/Ucrânia? Uma vez que se tornassem possíveis as exportações dos EUA ou do Irão, será que se iria acabar com as importações de gás russo completamente? Em que ponto da equação entraria o Irão se as sanções fossem abolidas? Podemos apenas supor.
Filipa Barros
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário