O
endividamento das famílias é um problema cada vez mais evidente na sociedade
portuguesa. Constata-se este fenómeno a partir da segunda metade da década de
90, tendo-se verificado um aumento per capita
do consumo associado a uma diminuição da poupança. Em sequência, o
endividamento das famílias em termos agregados continuou a crescer, atingindo
um valor máximo de cerca de 130% do rendimento disponível em 2009, sendo um dos
mais elevados no contexto da área euro.
Existem
vários fatores que explicam esse incremento, nomeadamente a adesão à zona euro,
que proporcionou uma aproximação significativa da adoção de um elevado padrão
de vida das famílias portuguesas face à média europeia, originando uma era de
estabilidade de preços e de juros nominais e reais historicamente baixos.
As
facilidades no acesso ao crédito, potenciado pela liberalização e
desregulamentação do sistema bancário português e por uma forte competição
entre a oferta, desenvolveu na população portuguesa o seu lado mais consumista.
A partir de então, criaram-se novos hábitos, com um padrão de qualidade e
estilos de vida os quais não estariam em condições de manter com o rendimento
auferido. Coloca-se aqui a questão do sobre-endividamento, que ocorre quando os
consumidores perdem a capacidade e condições de pagamento das suas dívidas.
A
variação do aumento da taxa de endividamento chegou a atingir os 15% entre 1998
e 1999, sendo menor nos anos mais recentes. O crédito à habitação representa a
esmagadora maioria do endividamento das famílias portuguesas, sendo
aproximadamente 71% do endividamento total das famílias.
De
acordo com o Diário Económico, baseado em dados do Banco de Portugal, os
cartões de crédito continuam a ser o principal meio de endividamento, sendo
estes os responsáveis por 41% dos processos de incumprimento iniciados em 2014.
Este é o segmento de crédito mais caro do mercado, com a taxa de juro média dos
contratos de descobertos bancários a fixar-se em 15,5.
Em
face do exposto, podemos concluir que a população portuguesa é convidada a
comprar dinheiro em função de um poderoso marketing, que tenta passar para cada
individuo a possibilidade de usufruir antecipadamente de um bem, o que o leva a
um impulso instintivo como resposta emocional. Existem fatores de ordem
cultural e social que, aliados a uma ausência de literacia económico-financeira,
conduzem a uma má gestão pessoal e familiar, onde o bom-senso não se impõe como
o mais necessário.
Estamos
a viver uma era dos mass media em que
a imagem pessoal é extremamente valorizada e a projeção nas redes sociais são
indicadores que constroem cognições de necessidades que conduzem a perceções
precipitadas perante a oferta dos créditos.
Nair Mendes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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