Em Portugal, parece impossível
referir alguém pelo nome próprio, sem antes colocar-lhe um título. Seremos
então titulocratas, um fascínio, a verdadeira compulsão pelos títulos? Senhor Doutor, Senhor Engenheiro, Senhor
Arquiteto, Senhor Juiz, Senhor Professor. Fazemos isto constantemente como
uma necessidade de mostrar e cimentar o estatuto. Será por isso que Portugal é
um país de “doutores”?
Alguns
anos atrás, de certeza que ainda está vivo na memória de muitos portugueses,
Angela Merkel, chanceler alemã, afirmou que “Portugal tem muitos licenciados”,
será isso verdade?
Os
últimos dados estatísticos do Pordata
revelam que havia, em 2015, 76.892
indivíduos que tinham concluído a licenciatura, mestrado e doutoramento. Mais 58.221 indivíduos face ao ano de 1991.
Hoje em dia, um em cada três jovens conclui a licenciatura. Mas nas décadas
anteriores apenas um em cada cinco jovens concluía a licenciatura.
Apesar do número de licenciados
portugueses estar a aumentar significativamente, o país ainda está entre os
piores da União Europeia. Em 2015, a média europeia era de 38,7% de diplomados do ensino superior com idades entre 30 a 34
anos, enquanto que em Portugal a média rondava os 31,9%, portanto, abaixo
da europeia. No conjunto de países que se encontram também abaixo do limiar
está Itália (25,3%), Roménia (25,6%) e Malta (27,8%), entre outros. No outro extremo, mais de metade da população
entre os 30 e 34 anos tinha concluído os estudos superiores na Lituânia (57,6%), no Chipre (54,6%) e na Irlanda (52,3%).
A meu ver e tendo em conta os dados
do Eurostat, Portugal está longe de
concretizar objetivo da estratégia da Europa 2020, isto é, ter 40% dos seus jovens com uma licenciatura.
Para conseguir atingir esta meta era necessário conciliar, em simultâneo, dois
fenómenos difíceis. O primeiro seria conseguir
que muitos jovens que abandonaram, prematuramente, o ensino voltassem a
estudar para finalizar uma licenciatura. O outro seria estancar a tendência de
“emigração qualificada” que atingiu o
país em força nos piores anos da crise.
Curiosamente,
as pessoas com níveis mais elevados de habilitações são as que mais facilmente
encontram emprego e são também as que correm menores riscos de ficar
desempregadas. Deste modo, a taxa de desemprego, no que diz respeito à
população jovem com habilitações ao nível do ensino superior, fixava-se em 2013
nos 18,4%. Considerando que em
Portugal é mais vantajoso ingressar no ensino superior, o que leva tantos
jovens abandonar a escola tão cedo? Uma explicação é que os jovens estão a
acreditar menos nos estudos académicos e terão “uma perceção errada” sobre quem
são as principais “vitimas do desemprego”. Uma pequena percentagem deste
abandono precoce está relacionada com as condições económicas precárias das
famílias portuguesas. Mas, ao mesmo tempo, há boas notícias, pelo terceiro ano
consecutivo, há mais jovens a querer ser doutores, visto que, em 2016, entraram
42.958 jovens no ensino superior.
Pelo
exposto, será que há assim tantos licenciados em Portugal? Acho que não, mas
espero que um dia destes a Senhora Merkel venha a ter razão.
Catarina Filipa Diz Marcelo
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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